O procurador-geral da República manifestou esta segunda-feira a disponibilidade da hierarquia do Ministério Público (MP) para apoiar e defender de “críticas e ataques injustificados” as decisões fundamentadas com base em prova indireta em processos de criminalidade económica e financeira.

Na posse de 39 novos procuradores recém-formados, que esta segunda-feira decorreu na Procuradoria-Geral da República, em Lisboa, o procurador-geral da República (PGR), Amadeu Guerra, referiu-se às dificuldades que alguns inquéritos acarretam pela sua complexidade, que leva à necessidade de cooperação entre jurisdições, criação de equipas multidisciplinares, mas também “obtenção do conforto da parte dos superiores hierárquicos”.

“Se os inquéritos e a criminalidade económico-financeira exigem uma formação especializada ou uma experiência significativa, também é verdade que estas matérias reclamam um maior rigor na análise da prova. Pela natureza e complexidade deste tipo de criminalidade, onde pode ser necessário recorrer à prova indireta, exige-se coragem e determinação com vista à emissão de decisão fundamentada na prova e se necessário um envolvimento e obtenção de apoio por parte dos superiores hierárquicos”, disse o PGR.

A hierarquia está consciente destas dificuldades“, razão pela qual manifesta a sua disponibilidade para vos apoiar e defender nas situações em que os magistrados que fundamentam convenientemente os despachos proferidos são sujeitos a críticas e ataques injustificados”, acrescentou.

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Aos novos procuradores, o PGR deixou ainda palavras de estímulo, apelando a que não percam o entusiasmo, e deixou conselhos: “Exorto-vos a darem o vosso melhor, a não esmorecerem, a dignificarem o MP. Sempre que possível procurem o diálogo e troca de opiniões com magistrados mais antigos e não tenham qualquer receio de, respeitando a cadeia hierárquica, procurar uma opinião mais segura junto do vosso superior”.

Num breve discurso perante dezenas de novos magistrados e os seus familiares, que assistiram à cerimónia de posse, Amadeu Guerra reforçou ainda o pedido para que todas as saídas por jubilação sejam colmatadas com novas entradas, sublinhando que “isso nem sempre acontece, situação que contribui para o agravamento das carências de magistrados“.

Juntou-se ainda a outras vozes da Justiça que apelam a decisões judiciais “percetíveis e compreensíveis por parte das pessoas a quem se destinam”, afirmando ser “desejável que se caminhe de forma gradual para a emissão de despachos que abandonem uma linguagem hermética, rebuscada e que esses despachos, face à natureza e complexidade do caso, sejam cada vez menos extensos”.

“Estas mudanças, que se justificam para aproximar a justiça do cidadão, devem ser valorizadas oportunamente em termos de inspeção dos magistrados”, afirmou Amadeu Guerra.

Sobre a atuação do MP, pediu que “seja transparente e pragmática, isto é, deseja-se que seja sempre adotada uma estratégia para a realização de uma justiça pronta, sem despachos dilatórios, que apenas retiram os processos da secretária por um período limitado”.

A justiça deve ser célere, capaz de resolver os problemas dos cidadãos em tempo útil“, disse o PGR.