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O chanceler alemão, Olaf Scholz, demitiu, esta quarta-feira, o ministro das Finanças, Christian Lindner, avança a imprensa alemã. Em causa, segundo a Reuters, terão estado divergências orçamentais e sobre o rumo que a Alemanha deve seguir em termos económicos. Jorg Kukies, conselheiro próximo do chanceler Olaf Scholz, será o novo ministro das Finanças alemão, disse esta quinta-feira à Agência France Presse fonte governamental de Berlim. Especialista em questões económicas, Kukies, 56 anos, assume a pasta das Finanças num governo em crise, que já não tem maioria no Parlamento de Berlim e no qual apenas restam representantes dos partidos Social-Democrata (SPD) e Verdes.
Além de ministro demissionário, Christian Lindner é líder do Partido Democrático Liberal (FDP, sigla em alemão). Os liberais integram a coligação que governa a Alemanha: entre os sociais-democratas (pertencente à família dos socialistas europeus) liderados por Olaf Scholz, os liberais e os Verdes. A demissão de Lindner poderá significar o fim desta coligação. A imprensa alemã já relatava que, nos últimos tempos, a tensão entre os parceiros estava a chegar a um ponto sem retorno.
O líder da União Democrata-cristã alemã (CDU), Friedrich Merz, apelou esta quinta-feira a Scholz que não espere até janeiro para solicitar uma moção de confiança ao parlamento, mas que o faça o mais depressa possível. Depois da demissão do ministro das Finanças o chanceler tinha revelado que iria realizar um pedido de uma moção de confiança ao Bundestag a 15 de janeiro.
“Não há qualquer razão para esperar até ao início do próximo ano para pedir uma moção de confiança”, apontou o líder dos conservadores em conferência de imprensa, acrescentando que o novo parlamento poderá ser eleito já em janeiro.
Friedrich Merz vai reunir-se com Olaf Scholz esta quinta-feira às 12h30 (11h30 em Lisboa). Tem ainda um encontro marcado com o presidente Federal, Frank-Walter Steinmeier às 15h00 (14h00 em Lisboa). O presidente do grupo parlamentar da CSU (partido irmão da CDU na Baviera), Alexander Dobrindt, considerou que o país não se pode dar ao “luxo de ter um chanceler em coma”.
O anúncio da demissão foi feito pelo líder do governo alemão, em conferência de imprensa, depois de uma reunião na chancelaria em que os três partidos que formam a coligação “semáforo” se sentaram para discutir a continuidade desta união.
Scholz acusou Lindner de ter “quebrado” a sua confiança com “muita frequência” e de ter como único interesse a política de clientelismo e a sobrevivência a curto prazo do seu próprio partido. “Um tal egoísmo é incompreensível. Já não há confiança em trabalhar com Lindner (…) Não quero que o nosso país passe por este tipo de comportamento”, disse o chanceler, sublinhando que “gostaria de ter poupado” o país a esta “decisão difícil”, especialmente em tempos difíceis.
Menos de uma hora depois destas declarações, o líder do FDP admitiu que foram apresentadas propostas para relançar a economia alemã que não foram “sequer aceites pelo SPD e pelos Verdes como base de consulta”, acrescentando que Scholz “banalizou durante muito tempo” as preocupações económicas dos cidadãos.
As suas contrapropostas são fracas, pouco ambiciosas e não contribuem para ultrapassar a fraqueza fundamental do crescimento no nosso país”, criticou em conferência de imprensa.
Para ultrapassar as divergências, Christian Lindner terá proposto ao chanceler eleições antecipadas, pedido que foi recusado por Olaf Scholz.
De acordo com informações avançadas pelo jornal Der Spiegel, Olaf Scholz deverá avançar com uma moção de confiança ao seu governo no parlamento alemão, marcada para o dia 15 de janeiro de 2025. Se for chumbada, é muito provável que se convoquem eleições antecipadas na Alemanha, até ao final de março.
As reações à demissão de Christian Lindner já começaram a surgir. Os Verdes dizem que pretendem manter-se na coligação e pedem novas eleições na primavera. Até lá, o partido está “em funções e determinado a cumprir integralmente os deveres do seu cargo”, sustentou o ministro da Economia e vice-chanceler Robert Habeck em declarações à imprensa.
Minutos antes, Annalena Baerbock, ministra dos Negócios Estrangeiros, também ela dos Verdes, lembrou a “responsabilidade” da Alemanha num contexto internacional, por exemplo, no apoio à Ucrânia.
A coligação, que estava no poder há quase três anos, tem enfrentado dificuldades praticamente desde o início já que muitas das posições que defendem os seus partidos são opostas. Enquanto o SPD e os Verdes apoiam uma forte atuação do estado, com a emissão de dívida para financiar políticas públicas, caso seja necessário, o FDP tem uma visão contrária.
As divergências, sobretudo nas políticas económica e orçamental, ficaram mais expostas há um ano quando o Tribunal Federal Constitucional reprovou a decisão do executivo de realocar verbas destinadas a atenuas as consequências da pandemia de Covid-19. Sem essas verbas, o executivo alemão ficou com um buraco de 60 bilhões de euros no orçamento. A forma de o combater não gerou consensos.
Lidner defendeu uma ampla redução de impostos para as empresas, por exemplo, e a redução de metas de proteção climática que considera demasiado ambiciosas. Ideias completamente rejeitadas por Robert Habeck, dos Verdes, ministro da Economia e vice-chanceler.
Os partidos que formam a coligação têm, ao longo dos últimos três anos, perdido popularidade, atingindo os níveis de votação mais baixos de sempre em várias eleições regionais e sondagens. Os grupos parlamentares do FDP e do SPD vão ainda reunir-se esta quarta-feira, numa noite que se prevê longa.