“Vamos continuar a luta.” Esta foi a principal mensagem de Kamala Harris no tão aguardado discurso em que concedeu a vitória nestas eleições presidenciais, horas depois de Donald Trump ter conseguido o número suficiente de delegados para se tornar o próximo Presidente dos EUA. Perante uma plateia com centenas de jovens, a candidata democrata reconheceu que a vitória do adversário causou que algumas pessoas “sentissem uma panóplia de emoções”. “É okay estar triste ou desapontado. Mas devemos aceitar os resultados destas eleições”, assumiu a democrata esta quarta-feira.
Num palco no exterior da Universidade de Howard, em Washignton D.C., onde estudou, Kamala Harris entrou, tal como fez em muitos comícios, ao som da música Freedom de Beyoncé. A candidata reconheceu que o “desfecho desta eleição não era o que queria e não é para o que lutou”. Mas o seu coração está “cheio”, olhando para o futuro. “A luz da promessa norte-americana vai brilhar sempre, desde que nunca desistamos e continuemos a lutar”.
A democrata assumiu a derrota, assegurando igualmente que vai haver uma “transição pacífica do poder”, um princípio “fundamental da democracia” norte-americana. Porém, Kamala Harris garantiu que não vai ceder nas causas e nas lutas “que alimentaram esta campanha”: “A luta pela liberdade, por oportunidades, pela igualdade pela justiça e pela dignidade”.
“Nunca vou desistir de um futuro onde os norte-americanos podem seguir os seus sonhos, ambições e aspirações”, continuou Kamala Harris, que focou depois no direitos reprodutivos: “As mulheres devem ter liberdade de tomar as decisões que querem com o corpo e não deve ser o seu governo a dizer-lhes o que fazer”. A democrata frisou igualmente que vai continuar a defender a proteção das “escolas e ruas da violência das armas”.
A vice-presidente garante que não vai desistir de lutar “pela democracia, pelo estado de direito, pela justiça, pela ideia sagrada de que todos temos direitos fundamentais e liberdades que devem ser respeitados”. Harris não deixou de mandar um recado a Donald Trump, praticamente ausente do seu discurso: os norte-americanos não devem lealdade “a um Presidente ou a um partido”, mas antes à “Constituição”.
A “luta” pelos valores que Kamala Harris defende vai continuar e a democrata apelou os seus apoiantes a juntarem-se a si. “Vamos continuar a luta. A luta vai continuar nos tribunais, na praça pública e através do boletim de voto”, disse a vice-presidente, que ressalvou que o combate político ter de ser feito com “bondade e respeito”. “Vamos lutar pela dignidade que todas as pessoas merecem. A luta pela liberdade é um trabalho árduo. Mas gostamos disso”, disse, acrescentando que a “luta pelo país vale sempre a pena”.
“Não desesperem. É tempo de arregaçar as mangas”, apela Kamala Harris
A democrata enviou uma mensagem aos muitos jovens que estavam na plateia. Mesmo com os ânimos em baixo, Kamala Harris reiterou aos apoiantes um slogan da campanha: “Quando lutamos, nós vencemos”. “Às vezes, a luta demora mais tempo e não significa que não vamos vencer. Nunca se desiste. Nunca desistiremos de fazer do mundo um local melhor”, assegurou.
“Não desesperem. É tempo de arregaçar as mangas”, apelou, dizendo que é “tempo de organizar e mobilizar” pela luta pela “liberdade e pela justiça” e por um “futuro” que todos “podem construir juntos”. A vice-presidente recordou ainda os tempos em que era procuradora-geral da Califórnia, indicando que viu pessoas nas “piores alturas das suas vidas”. E muitas tiveram a “coragem e a determinação” de lutar e para mudar a trajetória das suas vidas, como o país pode fazer.
Usando uma metáfora, Kamala Harris ecoou o sentimento de alguns democratas com a chegada de Donald Trump novamente ao poder. “Sei que há pessoas que pensam que estamos a entrar numa altura sombria. Mas apenas quando está escuro o suficiente se veem as estrelas”. No entanto, a vice-presidente avisou que, se essa “altura sombria” algum dia chegar, é altura de se ver “a luz de mil milhões de estrelas” a “iluminar os céus” — e afastar a escuridão com “a luz do otimismo e da verdade”.
“Que esse trabalho nos guie, mesmo com retrocessos. Vamos acreditar na promessa extraordinária dos Estados Unidos da América”, rematou Kamala Harris, no discurso que pode ser o capítulo final da sua carreira política.