Tiago Mayan Gonçalves desistiu mesmo da candidatura à liderança da Iniciativa Liberal depois de ter assumido que falsificou assinaturas de um documento da junta de freguesia que presidia no Porto. Ao que o Observador apurou, vários membros do movimento estiveram reunidos esta quinta-feira e Tiago Mayan Gonçalves colocou-se de fora da candidatura — sem necessidade de votação sobre o tema.

Na carta enviada aos subscritores do movimento Unidos pelo Liberalismo, que Mayan Gonçalves encabeçava, o ex-candidato presidencial da IL dizia que este tinha de ser “o momento de repensar a liderança deste movimento” e que se abria a porta a um “novo ciclo”, mas não deixava claro o próximo passo. Mas não há qualquer dúvida: Mayan não será adversário de Rui Rocha.

“O Tiago Mayan Gonçalves não será candidato à liderança, nem fará parte de nenhuma candidatura”, refere uma fonte dos liberais ao Observador, que, apesar de atribuir a decisão ao próprio, deixa uma certeza: “Aliás, perante a frustração que provocou nos apoiantes, é impensável ele concorrer ao que quer que seja nos próximos tempos.”

A mesma fonte confirmou que agora é tempo de repensar o que fazer no futuro — até porque a convenção da IL deverá ser no início do ano — e que o movimento está dividido entre “encontrar uma opção” para se candidatar contra a corrente da liderança e “quem ache que o movimento está muito fragilizado e é um erro insistir”.

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Recorde-se que o movimento considerou Tiago Mayan Gonçalves o melhor candidato a apresentar não só devido ao percurso dentro do partido, que vai desde o ponto alto da candidatura a Belém à presidência da Junta da União das Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde, mas principalmente pelo mediatismo que a corrida à Presidência da República lhe deu, permitindo-lhe que tenha mais destaque do que muitos dos liberais que constituem o movimento — e principalmente depois do maior rosto da oposição interna, Carla Castro, ter saído do partido.

No início desta desistência estão falsas assinaturas no documento oficial, nomeadamente a ata da reunião do júri do Fundo de Apoio ao Associativismo Portuense, de 16 de setembro, que terá sido elaborada e falsificada pelo até então presidente de junta. As suspeitas tiveram início numa reunião online, em que Mayan foi questionado sobre os prazos para as pronúncias de audiência prévia e revelou que teria enviado a “minuta do referido relatório há 15 dias por e-mail” e, “perante a tentativa de passagem do ónus da responsabilidade ao júri”, foi decidido marcar uma reunião presencial.

Na ata da reunião da junta de freguesia que o Observador teve acesso, datada de 4 de novembro, e que pedida pelo júri é assegurado que este que não elaborou a data, não tampouco a assinou, concluindo tratar-se de um “documento falso com assinaturas apostas por outra pessoa”.

Perante a verificação de “todos os documentos em pasta partilhada no servidor da junta”, o júri constatou a existência de uma ata “cujo teor responsabiliza o júri pelo pedido de dispensa de audiência previa, imputando exigências de cumprimento de prazos impostas pelo município”.

“Nesta reunião [de dia 16 de setembro], sendo confrontado com o referido documento, foi solicitado o esclarecimento, tendo o presidente da UF [União de Freguesias] confirmado que foi ele que elaborou o documento e colocou as assinaturas, atribuindo a si próprio tal responsabilidade, isentando de qualquer culpa todos os restantes membros do seu executivo e colaboradores”, pode ler-se no documento.

Ainda que tenha abandonado a liderança do movimento, Mayan garantiu aos subscritores que continuará a fazer parte do mesmo e que vai estar presente no evento do Unidos pelo Liberalismo marcado para este sábado, no Porto.