Duas explosões com um intervalo de 20 segundos abalaram, pelas 19h30 (hora local, 22h30 em Lisboa) de quarta-feira, a Praça dos Três Poderes, em Brasília, na capital brasileira. O Governo do Distrito Federal esclareceu, horas mais tarde, que as explosões registadas no coração de Brasília terão sido um ataque suicida de um homem que tentou entrar na sede do Supremo Tribunal Federal (STF) com artefactos.

Esta quinta-feira de manhã, a Polícia Militar do Distrito Federal desativou oito explosivos encontrados na área da praça dos Três Poderes, em Brasília. Num dos casos foi necessário detonar o explosivo para o desativar. Outros três explosivos foram desativados sem que se registassem explosões. Dois deles estavam no cinto de Francisco Wanderley Luiz, que morreu após se explodir pelo acionamento de uma das bombas que transportava. Outro estava nas proximidades do corpo que foi removido do local ao início da tarde.

“O Batalhão de Operações Especiais está a desativar os artefactos explosivos que estão a ser encontrados na área. Desativando um a um, sendo criterioso na preservação dos vestígios, para que a investigação possa ter materiais em busca de outros possíveis autores”, garante um porta-voz da força de segurança brasileira, citado pela Folha de São Paulo.

O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, afirmou em conferência de imprensa, esta quinta-feira, que as explosões registadas na área central da capital na noite passada indiciam que os grupos extremistas responsáveis por atos similares em anos anteriores continuam ativos. “Determinei a instauração do inquérito policial e o encaminhamento para a Suprema Corte em razão das hipóteses iniciais de atos que atentam contra o Estado Democrático de Direito. E também, de atos terroristas. Estamos tratando o caso sob essas duas vertentes”, informou o responsável da polícia.

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As primeiras informações da investigação indicam ainda que houve um “planeamento a longo prazo” de Francisco Wanderley. “Essa pessoa já esteve em outras oportunidades em Brasília. Inclusive, segundo relatos de familiares, estava aqui em Brasília no começo do ano de 2023. Ainda é cedo dizer se houve participação direta nos atos de 8 de janeiro, isso a investigação vai mostrar”, disse.

Como logo relatou a imprensa brasileira, além do suspeito que morreu houve também o registo de uma explosão de um carro, sendo que as autoridades brasileiras logo apontaram para a possibilidade de um “ataque”. Dentro da bagageira do veículo que explodiu havia tijolos e aquilo que parecia ser fogo de artificio.

Em conferência de imprensa, a vice-governadora do Distrito Federal, Celina Leão, disse, ainda na noite de quarta-feira, que o primeiro artefacto explodiu num carro no estacionamento entre o STF e um anexo da Câmara dos deputados. De seguida, o homem dirigiu-se ao Supremo Tribunal Federal. “Tentou entrar com os dispositivos”, resumiu a responsável brasileira.

De acordo com o relato feito pela Globo, antes da explosão em frente ao tribunal, o homem tentou entrar no prédio e lançou uma camisola que tinha na mochila para uma estátua perto do edifício. Logo de seguida, “abriu a camisa” e mostrou a um segurança que tinha artefactos presos ao corpo – artefactos que incluíam um relógio digital. O homem lançou alguns artefactos em direção ao edifício – que explodiram – e deitou-se no chão, acionando um segundo explosivo que tinha na nuca, segundo um segurança do tribunal acrescentou, num relato feito à Polícia Civil.

O autor do ataque suicida é Francisco Wanderley Luiz, conhecido como Tiü França, o principal suspeito de ter perpetrado o ataque, segundo avança a CNN Brasil. O homem de 59 anos, que é natural do Rio do Sul, no estado de Santa Catarina, disputou as eleições para vereador em Santa Catarina em 2020 pelo Partido Liberal (o mesmo do ex-Presidente Jair Bolsonaro), mas acabou por não ser eleito.

Nas redes sociais de Tiü Franca aparecem imagens em que este revela o seu alegado plano de ataque aos poderes brasileiros.

Divulgou ataque online e foi candidato a vereador pelo partido de Bolsonaro. Quem é o suspeito do ataque à Praça dos Três Poderes?

O Supremo Tribunal Federal (STF) foi evacuado. A instituição jurídica confirmou, segundo o G1 que cita um comunicado do STF, que, no final da sessão, ouviram-se “dois fortes estrondos”. Quem estava dentro do edifício “foi retirado do prédio em segurança. Os servidores e colaboradores do edifício-sede foram retirados por medida de cautela”.

A polícia e os bombeiros foram imediatamente para o local. Além disso, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) ativou o Plano Escudo, sendo que o exército pode agora ser mobilizado para as operações. Foi, também, montado um perímetro de segurança em redor da Praça dos Três Poderes, que concentra as sedes dos órgãos políticos e jurídicos brasileiros. Os deputados e funcionários do Congresso foram instruídos a não abandonarem o edifício até estarem garantidas todas as condições de segurança.

De acordo com o GSI, Lula da Silva, o Presidente do Brasil, não estava em nenhum daqueles edifícios. A deputada do PSOL Erika Hliton estava a falar com os jornalistas no Palácio do Planalto, também na Praça dos Três Poderes, no momento em que se ouvem as explosões. Mais tarde, ainda durante a noite de quarta-feira, o Presidente esteve reunido com ministros do Supremo Tribunal Federal no Palácio da Alvorada. O chefe da Polícia Federal também esteve presente. A reunião regular já estava marcada antes do episódio. Segundo relata a Folha de São Paulo, o clima do encontro foi de “estupefação” perante os acontecimentos das últimas horas.

O líder da Advocacia-Geral da União, um órgão estatal que regula as instituições jurídicas no Brasil, repudiou com “toda a veemência os ataques contra o STF e a Câmara dos Deputados”. No X, Jorge Messias escreveu que a polícia investigará “com rigor e celeridade as explosões no perímetro da praça dos Três Poderes”.

Jorge Messias avança que se trata de um “ataque”, apelando a que se entenda a sua “motivação”, assim como se deve “reestabelecer a paz e a segurança o mais rapidamente possível”.

A Polícia Federal, segundo a G1, abriu um inquérito e está a tentar investigar o que motivou as duas explosões. O responsável pela investigação será Alexandre de Moraes, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal e atual membro do STF. Na conferência de imprensa, Celina Leão revelou que a polícia civil também abriu um inquérito ao ataque.

O Presidente brasileiro está a ser constantemente informado do sucedido e está acompanhado por Alexandre de Moraes e Cristiano Zanin, outro membro do Supremo, e o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Passos.

Homem era de “família do bem”, mas “aparentava severos problemas mentais”, relata deputado republicano

O deputado federal Jorge Goetten (Republicanos-SC) diz que conhecia o Francisco Wanderley Luiz, que se acredita ser o homem encontrado morto em frente ao Supremo Tribunal Federal após a detonação de explosivos na praça dos Três Poderes, em Brasília.

De acordo com a Folha de São Paulo, o deputado enviou mensagem num grupo de WhatsApp com deputados dizendo que conhecia Luiz e sua família e que ele “realmente aparentava severos problemas mentais“.

Ao jornal brasileiro, Goetten afirmou que o homem esteve no seu gabinete algumas vezes no ano passado e uma última vez em agosto deste ano. “Um cara que eu conhecia há mais de 30 anos, um empreendedor de sucesso, de família do bem. Fiquei contente com a visita dele, fico sempre feliz com visitas, ainda mais quando é um conterrâneo. Estamos muito abalados”, reconheceu o deputado.

“No ano passado, comentei no gabinete que tinha achado ele meio estranho, emocionalmente abalado. Ele falava muito da separação dele. Pareceu-me meio abalado”, acrescentou, referindo que pediu a amigos em comum qie visitassem a família do homem para perceber o que podia ser feito para o ajudar.