O Presidente da República lamentou esta quinta-feira que a 29.ª Cimeira Ibero-Americana, em Cuenca, no Equador, tenha o “mínimo dos mínimos” de presenças de chefes de Estado e de Governo e pediu um “novo ciclo” para esta comunidade.

“É uma cimeira um bocadinho triste”, comentou, durante mais um passeio a pé pelo centro histórico de Cuenca, a terceira maior cidade do Equador em população, situada na cordilheira dos Andes, a 2.500 metros de altitude.

Além de Marcelo Rebelo de Sousa, apenas estão presentes em Cuenca o chefe de Estado espanhol, Felipe VI, o chefe do Governo de Andorra, Xavier Espot Zamora, e o presidente do Equador, país anfitrião, Daniel Noboa — uma predominância europeia perante as ausências de todos os restantes 18 países-membros latino-americanos.

“Eu espero o seguinte: que se perceba que terminou um ciclo e que é preciso começar um ciclo muito diferente”, afirmou o chefe de Estado português aos jornalistas, num hotel de Cuenca, antes da abertura da 29.ª Cimeira Ibero-Americana, que decorrerá até sexta-feira nesta cidade andina.

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Marcelo em Cuenca e Quito para Cimeira Ibero-Americana

Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, a próxima cimeira, que está prevista para daqui a dois anos, em Espanha, será “a grande ocasião para repensar um bocadinho o funcionamento, a estrutura, a solidez, a capacidade de intervenção política e económica no mundo”.

Sobre o passado recente desta comunidade de países, o Presidente da República referiu: “Foi um ciclo em que nós aguentámos situações muito diversas, a nível mundial, a pandemia [de covid-19], não parámos com a pandemia”.

“Mas chegámos agora a um ponto em que o número de chefes de Estado presentes atinge o mínimo dos mínimos”, assinalou, acrescentando: “Claro que estão cá vice-presidentes, estão cá ministros, negócios estrangeiros, mas simplesmente isto é um sinal que não é muito bom em termos de mobilização”.

Interrogado sobre o que explica tão poucas presenças nesta cimeira, o chefe de Estado respondeu: “Porque a marcação caiu em cima de outras marcações, porque entretanto há falta de algo e de entendimento para coisas muito burocráticas, mas são fundamentais”.

Em paralelo com a ibero-americana de Cuenca decorre durante esta semana em Lima, Peru, uma cimeira do fórum de Cooperação Económica Ásia-Pacífico (APEC), com as presenças dos presidentes dos Estados Unidos da América, Joe Biden, e da China, Xi Jinping.

Por outro lado, o Brasil prepara uma reunião do G20, no Rio de Janeiro, para a semana seguinte, na qual o primeiro-ministro português, Luís Montenegro, estará como convidado.

“Vai haver um grande fórum empresarial, vai haver um fórum social [em Cuenca]. Não é muito bom que os chefes de Estado não se entendam para desviarem um dia ou dois e tornarem possível a cimeira”, lamentou Marcelo Rebelo de Sousa, considerando que “tem muito mérito o Equador, que, mesmo assim, organizou a cimeira”.

O Presidente da República rejeitou, contudo, que este seja um projeto irrecuperável: “Não, não. Ele está vivo em muitos aspetos. Do ponto de vista empresarial está vivo, do ponto de vista social está vivo, do ponto de vista cultural está vivíssimo, está fortíssimo. Tem uma organização cultural no domínio da educação dos jovens, da língua, fortíssima”.

“Tem tido secretarias-gerais muito eficientes. Agora é preciso ultrapassar um período que tem a ver com o período do mundo, em que há, naturalmente, muitos conflitos ou muitos desencontros bilaterais que tornam difícil depois o encontro multilateral”, defendeu, insistindo no apelo a um “novo ciclo ibero-americano” para “corresponder ao peso” deste conjunto de países.

A comunidade ibero-americana é composta por três países europeus, Portugal, Espanha e Andorra, e 19 latino-americanos: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai, Venezuela, México, Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicarágua, Panamá, Cuba e República Dominicana.