Para o futebolista Rúben Dias, deveria haver algum tipo de limite ao número de jogos durante uma época — segundo um estudo do sindicato FIFPro, um jogador de topo pode jogar até 86 jogos esta temporada, mais do que nas anteriores. “A minha opinião é que devia mesmo [ser limitado]. Falamos sobre desempenho e é preciso garantir que os jogadores estão seguros”, afirmou no palco principal da Web Summit, na sessão que encerrou a edição de 2024 da cimeira.
Porém, não quis concretizar um número. “Só vou dizer que, falando do passado, temos um padrão — e agora estamos muito acima.” “Se me perguntar, nesta altura, acho que nem toda a gente quer saber dos atletas. Toda a gente se preocupa com lucros e, percebo, é o que é, é o mundo em que vivemos”, lamentou o internacional português.
“O futebol é tão especial, toda a gente quer vê-lo a toda a hora — e percebemos que é uma questão de amor, mas no fim, somos todos muito exigentes connosco, muito profissionais e ambiciosos. E quando nos dão uma tarefa queremos fazê-la e queremos ultrapassá-la”, contextualizou. Só que, com mais jogos por época e mais competições, agora a tarefa está “num campo diferente, em que não é bem possível acompanhar, especialmente esta época”.
Do ponto de vista do jogador do Manchester City, atualmente lesionado, esta época “vai ser a mais louca até agora”. “Não sabemos bem o que esperar com mais uma competição no final da temporada”, afirmou, referindo-se ao Mundial de Clubes que terá lugar no próximo verão.
Rúben Dias deve falhar duas últimas jornadas da Liga das Nações devido a lesão
Considerou que “vai ser dia a dia”, mas que a exigência de limites no número de jogos e tempo de paragem será um tema “a abordar”. “Se as pessoas querem um bom espetáculo e mostrar o amor pelo futebol temos de nos preocupar com os jogadores. As pernas não podem continuar a dar sem qualquer tipo de paragem”, alerta.
“Nem sei se vai haver tempo de pausa esta época e isso é o mais preocupante”, referiu. “Se nos derem tempo de pausa, para descansar, retomar pouco a pouco e estar preparados para voltar, vamos dar-vos o melhor espetáculo que já tiveram. Mas sem isso então não é uma época, duas épocas, é uma temporada inteira.”
Rúben Dias reconheceu que os jogadores percebem a indústria, mas que, no fim, são “os corpos” dos atletas que estão em jogo. “As pessoas têm de perceber que temos de descansar”, sugerindo que em alguma altura o assunto terá “de ter resposta de forma séria”.
Rúben Dias não é o único jogador a criticar o excesso de jogos por temporada — um tema que até já levou a FiFPro, o sindicato internacional que representa os jogadores de futebol, e a European League a apresentar uma queixa formal à Comissão Europeia contra a FIFA devido ao excesso de carga no calendário.
Ruben Dias, a pessoa que Moedas gostaria de ter ao lado “sob pressão”
Por agora não tem ideias sobre o que vai fazer após o fim da carreira, mas Rúben Dias, de 27 anos, admitiu que já pondera opções há muitos anos. “Tenho estado a pensar nisso desde os 17, 18 anos. Não sobre fazer algo específico, mas mais a preparar as opções.”
Por agora, revelou que “há milhares de opções no futebol e fora dele”, mas que, em qualquer dos planos quer “construir algo seja baseado” nos seus valores.
No palco da Web Summit, confessou que tinha jeito para outros desportos além do futebol, como karaté ou o basquetebol. “O meu pai dizia-me ‘olha, tens de parar, escolhe um. Podes ser bom em muita coisa, mas não serás excelente se não escolheres um.'”
No fim, Rúben Dias levou para casa mais um prémio, que recebeu das mãos de Carlos Moedas, o presidente da Câmara de Lisboa, e de Paddy Cosgrave, o CEO da Web Summit. O autarca justificou que quis premiar o jogador, natural de Lisboa, pelo desempenho desportivo e “graciosidade sob pressão”. “Rúben, não és só um campeão e um atleta, és a definição de um líder.” “És uma pessoa que gostaria de ter ao meu lado quando tiver algum problema, porque tens graciosidade sob pressão”, continuou Carlos Moedas.
Na despedida da Web Summit, este ano sem direito a confettis, Cosgrave ainda teve tempo para deixar um elogio não a Rúben Dias, mas a Carlos Moedas. “É um apoio incrível para mim há mais de uma década e um visionário.”