Para Luís Marques Mendes, a ministra da Saúde, Ana Paula Martins, “corre o risco de ser uma ministra a prazo”. No seu espaço semanal de comentário da SIC, Marques Mendes referia-se ainda às consequências da greve no INEM, que classificou como o “primeiro problema sério de desgaste do Governo” de Luís Montenegro.

“Foi uma semana muito má para o Governo por causa do INEM”, declarou o comentador, que voltou a referir que as falhas no atendimento do INEM na semana de greve dos técnicos de emergência pré-hospitalar, durante a qual morreram 11 pessoas, aconteceram por “culpa própria” do Governo, “que não reuniu a tempo com o sindicato para negociar a greve”.

“Esta semana houve muito amadorismo a gerir tudo isto”, vincou Marques Mendes, atirando críticas ao presidente do INEM, que “não deu explicações cabais sobre os serviços mínimos” e é uma pessoa sem experiência que está na corda bamba”, mas também à secretária de Estado da gestão dos recursos da saúde, que terá sido “desautorizada pela ministra”. Já Ana Paula Martins corre o risco, na visão de Marques Mendes, de “ser uma ministra a prazo”.

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Para isso “basta que os inquéritos em curso na Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) e na PGR venham a concluir que há um nexo de causalidade entre a greve e as fatalidades e a ministra tem de se demitir”. Nesse cenário, Ana Paula Martins “não tem alternativa”. A alternativa “tinha sido perceber o impacto da greve e ter dialogado com o sindicato”.

Para Marques Mendes, “é todo um ministério que está fragilizado, era muito difícil ser pior, pode ser uma tragédia política a prazo, daqui a dois, três ou quatro meses, vamos ver”.

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O comentador acredita que esta é uma “oportunidade para encontrar uma solução para a reestruturação do INEM”, apontando um “erro” cometido desde o início, que foi a saída de Fernando Araújo da direção do SNS. “Era um escudo protetor para o ministério e a ministra”. Já as conversas sobre uma possível privatização do INEM, trazidas por partidos como o PS ou o Bloco de Esquerda, para Marques Mendes “não fazem sentido”.

“A questão mais importante é aguardar pelos inquéritos, acho que a probabilidade de haver problemas para o ministério é grande”, concluiu.

Marques Mendes deu ainda alguns exemplos sobre outras falhas do Estado, como os incêndios de Pedrógão, o caso de Tancos e a fuga de reclusos de Vale de Judeus. Considera que acontecem não só por falta de investimento financeiro mas sobretudo pela “atitude dos ministros, seja do PS ou do PSD”.

“De forma geral, os governos não agem, só reagem a calamidades, tragédias. São reativos e não ativos. Umas vezes por medo, outra por incapacidade e outras por falta de tempo. Quando tomam iniciativa são muito lentos, burocráticos”. O comentador diz que existe “um problema sério na nomeação de gestores”, voltando a referir-se ao INEM. E que há vários gestores nomeados que “não têm experiência para lidar com estes problemas”.

Marques Mendes diz que se estivesse no lugar do primeiro-ministro, “nomeava uma comissão independente para avaliar os casos mais vulneráveis que existem no Estado e que propusesse soluções”. E que se estivesse no lugar do Presidente da República “convocaria um Conselho de Estado para avaliar a reforma do estado e ajudar a dar um empurrão”.