Ana Mendes Godinho, antiga ministra do Trabalho e Segurança Social e atual deputada do PS, assegura que a proposta socialista para aumento de pensões é “razoável” e “bem calculada”, o que justifica a subida de 1,25 pontos percentuais proposta como alteração do Orçamento do Estado. Questionada sobre o desafio das autárquicas, disse apenas que a sua vida é uma “permanente descoberta” e garantiu que estará sempre “onde for mais útil” ao país e ao PS.

No programa Comissão de Inquérito, da Rádio Observador, a ex-governante argumentou que o PS sempre teve a “preocupação de garantir que não punha nunca em causa a sustentabilidade” da Segurança Social, justificando até que assim se conseguiu a “garantia de confiança às novas gerações de que Segurança Social é para elas”.

Apesar de concordar com o aumento das fontes de financiamento da Segurança Social, Mendes Godinho defende que “limitar as transferências para o fundo de estabilização da Segurança Social é completamente inadmissível”.

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A ministra que esteve à frente da Segurança Social destaca o acordo de “rendimentos e valorização de salários” conseguido no tempo de António Costa, mas também elogia que o atual Governo prossiga com o objetivo, sublinhando que “é a pedra angular de garantirmos que temos como missão coletiva o aumento dos salários”.

Este acordo foi, na visão da ministra, o que permitiu pela primeira que o país deixasse de ter “a sustentabilidade da Segurança Social como uma nuvem negra que pairava”, havendo agora “um horizonte de chegar a 2070” como um momento em que o fundo terá “cerca de 100 mil milhões de euros”. Isto, disse, “garante que mesmo nos anos mais críticos, em que temos uma população mais envelhecida face ao número de pessoas que estão a trabalhar ativamente, [haverá] a capacidade de a Segurança Social garantir as reformas futuras”.

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Questionada sobre a proposta do PSD e CDS, no OE2025, que visa limitar férias e impedir que todos os funcionários públicos de um determinado serviço gozem férias na mesma altura, Ana Mendes Godinho sublinhou que “o pior sinal que podíamos dar ao trabalhador era o retrocesso nos direitos dos trabalhadores”.

“Neste momento a maior discussão no mundo é a luta por talento, por pessoas, por trabalhadores”, aponta, justificando que “tudo o que seja voltar atrás nas conquistas do trabalhador é um ataque à sociedade e ao modelo social que criámos”.

Para a ex-governante, “flexibilizar modelos de trabalho é o caminho errado“. É preciso, realçou, ter a capacidade de “valorizar os trabalhadores” e “garantir que há equilíbrios que muitas vezes tem de ser a própria lei a impor para garantir que as partes estão em igualdade de circunstâncias”.

E questionada sobre se essa opção não arrasta a Europa para trás numa corrida com outras economias, a ex-ministra defende que na Europa queremos “afirmar-nos como uma sociedade que valoriza os trabalhadores, a necessidade de terem vida além do trabalho, a forma como o trabalho garante que as pessoas têm condições dignas para trabalhar e salariais que permitam que tenham uma vida em liberdade”. “O modelo europeu não pode aceitar conceções à base de retrocessos para os trabalhadores”, sublinhou, frisando que a Europa tem sido “muito progressista” e tem conseguido “conquistas enormes“, crente de que “a sociedade não volte atrás”.

“A Europa tem o pilar dos direitos sociais como aquilo nos distingue. Também depende de nós, sociedade, exigirmos aquilo em que acreditamos e não deixarmos que o retrocesso mercantil do vil cifrão que não pensa nas pessoas tome conta de nós”, concluiu.