Primeiro uma tampa de esgoto, depois… o cannabis. A estreia do Grande Prémio de Las Vegas no calendário não deixou propriamente as melhores recordações a nível de segurança, com o famoso episódio do obstáculo na pista a ser falado durante semanas e semanas a fio perante o que teve de insólito e inseguro. Agora, o tema mudou mas nem por isso o circuito norte-americano foi falado pelas melhores razões. Longe disso. “Aquilo que se nota muitíssimo em torno de todo o circuito é o cheiro a cannabis. Durante a noite… Já estou um pouco cansado, é incrível a quantidade. É algo que todos os pilotos devem estar a comentar”, referiu este ano Sergio Pérez, mexicano da Red Bull. “Havia um cheiro a ganza… Se fazem um controlo antidoping aos pilotos, vamos dar todos positivos! E se testamos todos positivo, vai ser bonito…”, acrescentou pouco depois Franco Colapinto, jovem argentino da Williams. A “notícia” do ano estava encontrada mas não seria a única.

Super Max renasceu no caos de São Paulo: Verstappen subiu 16 posições, regressou às vitórias e dilatou vantagem na liderança do Mundial

Depois do regresso aos triunfos de Max Verstappen em São Paulo, e também pela sexta posição no traçado brasileiro de Lando Norris, o neerlandês chegava aos EUA com possibilidades de fechar já as contas do título tendo uma série de hipóteses para alcançar o objetivo a começar pela mais simples de todas: ficar à frente do McLaren do britânico. E era aqui que estavam centradas todas as atenções, com Lando Norris a assumir que o primeiro lugar do Mundial de 2024 estava “entregue” e a Red Bull a ter uma “contrariedade” inicial.

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“As portas do título estão quase fechadas. Fiquei deprimido durante uma semana porque tive precisamente a perceção de que as coisas ficaram praticamente fora do meu controlo a partir dessa altura”, reconheceu o piloto da McLaren. Pequena réstia de esperança? A Red Bull tivera uma aparente falha no planeamento e entendera que não faria sentido preparar uma asa traseira com uma menor carga aerodinâmica para o perfil da prova em Las Vegas, o que poderia tirar velocidade de ponta aos seus carros. “Não temos outra asa traseira, a mais pequena, como os nossos rivais. Seria mais útil aqui, claramente”, assumiu Helmut Marko, experiente consultor da equipa austríaca, na sequência dos maus desempenhos nos treinos livres.

Aparentemente, não havia volta a dar e o quinto lugar na qualificação na mesma linha de partida de Lando Norris acabou por ser quase um mal menor. “Foi uma sessão aceitável mas ainda somos um pouco lentos. Temos sentido dificuldades em colocar os pneus a trabalhar em qualificação e somos demasiado lentos nas retas também. Podem ver que a nossa asa já está muito reduzida mas quando abrimos o DRS não temos o mesmo ganho que os outros conseguem, o que nos complica a tarefa aqui. Mas é o compromisso que temos. Tentei fazer o melhor possível”, comentara o neerlandês depois de uma sessão que colocou George Russell como o mais rápido seguido de Carlos Sainz Jr., o surpreendente Alpine de Pierre Gasly e o outro Ferrari de Leclerc. Motivos de interesse não faltavam na antepenúltima corrida da temporada, que marcaria também a estreia do português Rui Marques como diretor de corrida (e com vários elogios dos pilotos).

As atenções estavam centradas na primeira curva depois daquela reta mais curta de menos de 100 metros até à primeira travagem, os olhos estavam todos em Max Verstappen para se perceber até que ponto poderia ser ou não “apertado” quando fizesse a aproximação à esquerda. Por aí, tudo igual: o neerlandês manteve a sua quinta posição, Lando Norris ainda se mostrou mas não conseguiu melhorar o sexto posto e com tudo isso o grande destaque no arranque acabou por ser Charles Leclerc, a ganhar duas posições e a saltar para segundo atrás de George Russell mas à frente de Carlos Sainz Jr. e Pierre Gasly. Mais: nas cinco voltas iniciais, era Verstappen que estava mais perto de ascender a quarto do que Norris de destronar o líder do Mundial da quinta posição, num primeiro sinal de que a festa poderia mesmo ser feita em Las Vegas.

De forma quase natural, o número 1 da Red Bull ganhou lugar a Gasly, deixando o Alpine à frente de Lando Norris para poder partir com a pista mais “limpa” e lutar pela entrada do pódio que seria mais uma garantia de que terminaria com mais pontos do que o McLaren e seria campeão este domingo. Mais à frente, Leclerc começava os primeiros ataques a Russell mas a notícia era mesmo a ultrapassagem de Carlos Sainz Jr. para segundo, retomando a primeira linha da grelha de partida. Se no início a Ferrari parecia ter condições para lutar pelo regresso às vitórias, a quebra de rendimento de Leclerc obrigou mesmo o monegasco a passar pelas boxes logo na décima volta (Norris apostou na mesma estratégia) com Max Verstappen já em terceiro.

A primeira ronda de troca de pneus entre todos os carros da frente confirmou esse à vontade do neerlandês na pista, chegando à segunda posição à frente dos dois Ferraris e tendo apenas George Russell à frente para poder festejar a ganhar. Foi também nessa fase, com 16 voltas cumpridas, que se confirmou o primeiro abandono da corrida: Pierre Gasly fez grandes treinos livres, agigantou-se na qualificação mas teve tudo a correr mal este domingo, ficando com o carro nas boxes. Com Sergio Pérez a perder terreno, as linhas já estavam de novo definidas: George Russell na liderança com mais de dez segundos de vantagem sobre Max Verstappen, Carlos Sainz Jr. e Charles Leclerc a tentarem o terceiro lugar, Lewis Hamilton a surgir muito mais rápido na quinta posição à frente de Lando Norris. Era entre os seis que estavam as decisões, sendo que a meio da corrida as posições mantinham-se com distâncias diferentes e com um Lewis Hamilton “a voar”.

A 28.ª volta trazia o britânico e Max Verstappen para as boxes, numa clara aposta de ambos para deixarem de vez os Ferraris para trás numa altura também em que o neerlandês tinha falhado uma travagem por uma espécie de bloqueio dos pneus da frente. Conseguiram. No caso de Hamilton, a aposta foi de tal forma ganha que conseguiu com naturalidade subir à segunda posição, com tempos que permitiam sonhar com a vitória perante a comparação de ritmos com o companheiro George Russell. Mais atrás, Lando Norris mostrava que não tinha argumentos perante os Ferrari, estando “condenado” a rodar no sexto lugar sem perspetivas de melhoria – e com isso prolongar um pouco mais a decisão sobre o título do Mundial.

Max Verstappen falava com a equipa sobre a necessidade de aguentar ou não o terceiro lugar perante toda a aproximação dos dois Ferraris. Em condições normais sim, era para segurar. No entanto, havia também um título mundial em jogo, o que fazia com que a margem de risco fosse zero. Assim, de forma quase natural, os ataques foram aparecendo e com sucesso, com Carlos Sainz Jr. a ultrapassar o neerlandês a sete voltas do fim e Leclerc a atacar para conseguir o mesmo pouco depois. Mais atrás, Lando Norris nem conseguia ver a luta que acontecia, tendo em conta o fosso que entretanto tinha criado para o top 5. O título estava entregue, faltando apenas saber a ordem dos dois Mercedes nas duas posições cimeiras: Russell foi melhor a aguentar os ataques de Hamilton, Carlos Sainz Jr. fechou o pódio e Verstappen fez a festa acabando em quinto, uma posição que só teve impacto na ambição (cada vez mais difícil) da Red Bull pelo Mundial de construtores.