O Banco de Portugal avisa que uma “política orçamental de orientação expansionista“, no contexto do modelo de regras orçamentais europeias, e “possíveis atrasosna execução do PRR podem limitar o crescimento económico em Portugal e condicionar a redução da dívida.

A mensagem está no Relatório de Estabilidade Financeira (REF), uma análise semestral aos riscos que pairam sobre o setor financeiro e a economia nacional, divulgado nesta terça-feira. “No plano nacional, uma política orçamental de orientação expansionista no quadro de um novo modelo de regras orçamentais europeias e possíveis atrasos na implementação do PRR poderão condicionar o crescimento económico e a evolução da dívida”, afirma o Banco de Portugal.

Ainda assim, o Banco de Portugal transmite uma mensagem de otimismo geral sobre a economia nacional. “Embora se observem alguns sinais de abrandamento, a economia portuguesa manteve uma trajetória de redução das vulnerabilidades, em linha com os progressos dos últimos anos”, afirma o supervisor liderado por Mário Centeno, acrescentando que “a previsão de crescimento económico próximo do potencial e estabilidade de preços deverá traduzir-se na continuação desse ajustamento”.

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Os principais riscos para a estabilidade financeira estão “associados a desenvolvimentos económicos adversos que possam resultar das atuais tensões geopolíticas”. “Os conflitos militares em curso, um aumento do protecionismo global e um abrandamento nas principais economias do mundo podem condicionar a economia portuguesa”, diz o Banco de Portugal, considerando que “o ressurgimento de pressões sobre a dívida pública de países europeus e a eventualidade de novos choques inflacionistas que limitem o alívio da restritividade da política monetária são também elementos de risco”.

A preocupação do Banco de Portugal com o “ressurgimento de pressões sobre a dívida pública de países europeus” vem na linha do alerta feito pelo relatório de estabilidade financeira divulgado na semana passada.

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Para as famílias, diz o Banco de Portugal, “os principais riscos estão associados a desenvolvimentos que conduzam a perdas de rendimento, como uma subida do desemprego ou das taxas de juro”. “Contudo, estes fatores não fazem parte do cenário central de evolução da economia portuguesa”, sublinha o supervisor.

O supervisor antecipa que irá continuar “um aumento da taxa de poupança, que contribuirá para promover a resiliência das famílias”. “Este progresso reflete também a melhoria do perfil de risco dos mutuários dos novos créditos à habitação e ao consumo, reforçado desde 2018 pela recomendação macroprudencial”, considera o Banco de Portugal.

Já os riscos para as empresas estão associados a um “maior abrandamento económico na área do euro, potencialmente agravados por custos elevados de energia e de produção e perturbações nas cadeias de abastecimento”.

Apesar da estabilização da rendibilidade operacional, a manutenção de taxas de juro em níveis ainda elevados condiciona a capacidade de serviço de dívida das empresas, especialmente nos setores mais vulneráveis”, diz o Banco de Portugal.

No entanto, afirma o supervisor, “estima-se que a proporção de empresas identificadas como financeiramente vulneráveis (isto é, com EBITDA inferior a duas vezes o montante de juros suportados) se reduza em 2024 e 2025, para cerca de 12% e 8%, respetivamente, abaixo dos 14% de 2023”.