A Caixa Geral de Depósitos não exclui usar parte do capital acumulado para comprar outros bancos em Portugal, voltando a deixar implícita a possibilidade de participar na previsível venda do Novo Banco – através da bolsa ou numa venda direta – que o fundo Lone Star deve iniciar no próximo ano. “Não estamos imóveis no mercado“, salientou Paulo Macedo, numa conferência onde também estava presente o líder da comissão executiva do Novo Banco, que afirmou que “deverá estar iminente” o fecho antecipado do acordo de injeção de capital com o Fundo de Resolução. Também o presidente do Santander admite interesse: “é uma questão de oportunidade e de preço“.

As declarações foram feitas numa conferência organizada em Lisboa pelo Jornal de Negócios, para discutir o futuro do setor bancário. O presidente da comissão executiva do banco público, que se prepara para iniciar um novo mandato no cargo, indicou que a gestão está “a preparar [a evolução do] ciclo estando conscientes de que no caso da Caixa os resultados vão diminuir, o que faz parte do ciclo económico“.

Garantindo que a gestão passada deixa os membros da comissão executiva “tranquilos”, designadamente no que diz respeito à “preocupação com o futuro”, Paulo Macedo assinalou que “o que está no orçamento do ano que vem é o crescimento orgânico”. Porém, “não estamos imóveis no mercado“, afirmou o banqueiro, que lidera um banco público com rácios de capital superiores a 21%, quase o dobro daquilo que é exigido pelos reguladores.

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Já em junho, o mesmo Paulo Macedo tinha dito que o banco público estava “disponível para olhar” para uma eventual aquisição do Novo Banco.

“Olharemos para todos e o Novo Banco está agora a acabar o seu processo com o Estado”, afirmou o responsável, em entrevista ao Jornal de Negócios. “Se não estivermos disponíveis para isso, a Caixa perderá a liderança e também não é desejável que haja um maior crescimento de bancos, designadamente dos nossos vizinhos espanhóis, que têm uma banca de bastante qualidade e avançada, mas que têm uma quota de mercado já suficiente no país”, afirmou Macedo, em junho.

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Também presente na mesma conferência, Pedro Castro e Almeida, líder do Santander Portugal, tinha dito que o mercado bancário no país é “maduro” e isso torna “muito difícil crescer organicamente“. E, por isso, o Santander também poderá estar interessado numa eventual compra do Novo Banco: “É uma questão de oportunidade e uma questão de preço”.

“Cá estaremos para olhar para todas as oportunidades”, afirmou Pedro Castro e Almeida, acrescentando que “relativamente ao Novo Banco, pode ser um banco português ou poderá vir um banco que não tem presença em Portugal: é menos provável mas pode acontecer”, avisou.

Já Miguel Maya, do Millennium BCP, outro banco de quem se fala como possível interessado no Novo Banco, repetiu a resposta ambígua que costuma dar sobre esta matéria: o BCP “analisa todas as oportunidades a todo o momento e toma decisões, desde que as decisões sejam criadoras de valor”.

Antes de o Novo Banco avançar com a venda do capital – seja através de uma operação em bolsa ou uma venda a um ou mais investidores diretamente – será necessário encerrar antecipadamente o chamado “mecanismo de capital contingente” (CCA, na sigla anglo-saxónica por que é mais conhecido) e, de acordo com as últimas notícias, o Fundo de Resolução e o Novo Banco já enviaram ao Ministério das Finanças uma proposta de acordo.

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O presidente da comissão executiva do Novo Banco, Mark Bourke, disse-se “ainda mais otimista” de que esse acordo será formalizado em breve, o que libertaria a instituição para definir o seu futuro sem as limitações impostas pelo CCA, como a proibição de distribuição de dividendos. “Deverá estar iminente“, afirmou o responsável.

O Novo Banco admitiu no final de outubro distribuir até 1,3 mil milhões de euros num dividendo extraordinário que poderá ser pago assim que houver acordo para encerrar antecipadamente o mecanismo ao abrigo do qual o Fundo de Resolução injetou capital para ajudar na “limpeza” do banco, nos últimos anos.

Tal como o Observador já tinha noticiado no início de setembro, o Novo Banco está em condições de pagar um dividendo superior a mil milhões de euros – 1,3 mil milhões, especificou nesta quinta-feira o presidente do banco – o que pode dar 325 milhões de euros ao Estado, que tem 25% do capital (entre Fundo de Resolução e Finanças).

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