O chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa, prestou, esta sexta-feira, homenagem a Ramalho Eanes, primeiro Presidente da República eleito em democracia, que qualificou como “um sábio atento ao presente e ao futuro”.

Marcelo Rebelo de Sousa falava na Culturgest, em Lisboa, na sessão de apresentação do livro “Ramalho Eanes — Palavra que conta“, da jornalista Fátima Campos Ferreira, editado pela Porto Editora, com prefácio da sua autoria. “Esta palavra conta, conta muito, porque vem de um sábio, de um sábio atento ao presente e ao futuro, que viveu aquilo de que fala e que continua a servir o país”, afirmou.

O chefe de Estado acrescentou que esta cerimónia acabou por ser “um agradecimento ao Presidente Ramalho Eanes, uma homenagem” ao general, assinalando que contou com as presenças de “outro antigo Presidente”, Aníbal Cavaco Silva, e de “responsáveis políticos atuais, e depois com muitas e muitos portugueses, que lhe estão muitíssimo gratos”.

Segundo o Presidente da República, na entrevista que serviu de base ao livro e posteriores conversas com Fátima Campos Ferreira, o general Ramalho Eanes “denuncia o que se passa de errado, de frágil, de débil, no mundo, como em Portugal, na política, como nas Forças Armadas”, mas num “apelo à esperança”.

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“Foi esse sempre também o caminho que escolheu: oferecer aos portugueses, sempre, uma palavra de esperança. Mas a nossa História é isso, nós perdemos a independência, recuperámos, errámos, falhámos, e depois superámos. Que bom, senhor Presidente, termos a sua palavra que conta, a sua palavra realista, de denúncia, mas de esperança. Assim é mais fácil acreditar em Portugal”, considerou.

Marcelo Rebelo de Sousa adiantou que António Ramalho Eanes será homenageado “de forma muito intensa já no próximo mês de janeiro”, por ocasião do seu 90.º aniversário.

Nesta sessão, que terminou com uma intervenção de Ramalho Eanes, estiveram presentes o presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco, o primeiro-ministro, Luís Montenegro, e o ministro da Defesa Nacional, Nuno Melo.

Além do antigo chefe de Estado Aníbal Cavaco Silva, marcaram também presença, entre outros, o antigo presidente da Assembleia da República Eduardo Ferro Rodrigues, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, e o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos.

Nascido em Alcains, Castelo Branco, em 25 de janeiro de 1935, o general Ramalho Eanes foi o primeiro Presidente da República eleito por sufrágio universal em democracia, nas presidenciais de 1976, e cumpriu dois mandatos na chefia do Estado, até 1986.

Como militar, participou na Guerra Colonial. Depois do 25 de Abril de 1974, foi o comandante operacional do 25 de Novembro de 1975, que marcou o fim do chamado Período Revolucionário em Curso (PREC), e chefiou o Estado-Maior do Exército.

Ramalho Eanes: “O esquecimento do 25 de novembro não ajuda à democracia”

Depois de deixar a Presidência da República, veio a liderar o Partido Renovador Democrático (PRD), força política que nasceu quando estava a terminar o seu segundo mandato, inspirada na sua figura, e que foi a terceira mais votada nas legislativas antecipadas de 1985.

Marcelo Rebelo de Sousa lembrou essa passagem de Eanes pelo “outro lado da barricada”, mencionando que “viveu por um curtíssimo período a experiência da realidade político-partidária e da sua liderança”.

Na sua opinião, os portugueses “têm uma confiança ilimitada” em Ramalho Eanes, com quem tiveram desde o início “uma identificação de maneira de ser, de maneira de viver, de humildade de comportamento, de naturalidade na compreensão do português mais humilde, mais simples”, que “é mais forte” do que em relação a outros “grandes responsáveis nacionais, aqui presentes, nomeadamente”.

O chefe de Estado estendeu a sua homenagem à mulher do general, Manuela Eanes, afirmando que “o percurso de um e de outro são inseparáveis”.

Sobre a obra, descreveu-a como um testemunho “surpreendente raro”, pelo momento em que é publicado, por expressar uma “sageza atualizada” e ser “na primeira pessoa”, de alguém que “viveu o antes de 25 de Abril, a revolução, foi decisivo no fim da revolução”.

Eanes aplaudido de pé por Marcelo, Cavaco, Montenegro, Aguiar-Branco e Pedro Nuno Santos

Na mesma sessão, o antigo Presidente da República Ramalho Eanes foi aplaudido de pé pelo atual e pelo anterior chefes de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa e Cavaco Silva, pelo primeiro-ministro, pelo líder do PS e pelo presidente do Parlamento.

“Confesso que tenho uma certa dificuldade em encontrar as palavras certas para me dirigir de forma adequada e de forma digna aos muitos amigos presentes nesta cerimónia. A palavra que talvez traduza melhor o que vai no meu espírito é a palavra reconhecimento“, afirmou o general e primeiro Presidente da República eleito em Portugal, que exerceu o cargo entre 1976 e 1986.

Ramalho Eanes agradeceu à jornalista Fátima Campos Ferreira, ao sociólogo António Barreto, que apresentou a obra, e de quem recordou o percurso como ministro da Agricultura “nos anos difíceis de 1976 e 1977”.

Também ao prefaciador da obra, Marcelo Rebelo de Sousa, Eanes agradeceu as palavras e a disponibilidade: “Sei quais são as suas funções e, por isso, não posso deixar de atribuir especial significado à sua presença. Das suas palavras, eu sei que são exageradas e que não as mereço totalmente, mas confesso que já me habituei — mal reconheço — a receber do Sr. Presidente provas frequentes de inequívoca simpatia”.

“Não posso, naturalmente, deixar de agradecer, ainda, a presença do Sr. primeiro-ministro, dr. Luís Montenegro, que terá interrompido os seus importantes afazeres de gestão no nosso país para estar aqui”, disse, estendendo os agradecimentos ao presidente da Assembleia, Aguiar-Branco, ao líder do PS, Pedro Nuno Santos, e aos ministros e ex-ministros presentes.

O general fez questão de agradecer, de modo particular, a “presença simpática” dos chefes dos Estados-Maiores — entre os quais não esteve o da Marinha, o almirante Gouveia e Melo, que esta semana comunicou formalmente a indisponibilidade para ser reconduzido, sendo apontado como possível candidato presidencial.

“Queria, para finalizar, agradecer a todos e dizer-lhes, simplesmente, muito, muito, muito obrigado”, afirmou, no final de uma breve intervenção.

Antes e depois de discursar, o general António Ramalho Eanes recebeu aplausos de pé de toda a assistência, onde se contavam, além das mais altas entidades do Estado, personalidades como o antigo presidente do Parlamento Ferro Rodrigues, o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, ou o ministro da Defesa, Nuno Melo, entre muitas outras.

Antes, o sociólogo e antigo ministro António Barreto tinha destacado o papel do antigo chefe de Estado como “representante nacional” em momentos decisivos do país, e lembrado o seu diagnóstico crítico da atual situação das Forças Armadas e o papel central do no 25 de Novembro de 1975. “António Ramalho Eanes tem lugar cativo na galeria dos maiores, sorte a nossa sr. Presidente”, elogiou.

Com a chancela da Porto Editora, o livro apresentado, esta sexta-feira, nasceu a partir de uma entrevista televisiva da jornalista Fátima Campos Ferreira ao general, transmitida em maio passado pela RTP, tendo sido alargada e completada em múltiplas conversas depois do verão.