A direção da Apordoc — Associação pelo Documentário, responsável pela organização do festival de cinema DocLisboa, veio esta terça-feira desmentir as declarações do presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, quanto ao alegado aumento do apoio da autarquia ao festival. Em comunicado, garantem que “o apoio da CML ao Doclisboa é, desde 2017 e sem qualquer aumento desde então, de 100 mil euros”.
O presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, garantiu esta segunda-feira que há “muitos festivais que têm muito mais financiamento” do que o Tribeca, festival de Robert de Niro que decorreu em 18 e 19 de outubro no Hub Criativo do Beato, com filmes e talks. Na sequência da notícia da revista Sábado que o evento do grupo Impresa recebeu 750 mil euros de apoios públicos, incluindo 250 mil do município lisboeta, sem que o financiamento tivesse sido votado pelo executivo municipal, Carlos Moedas foi interpelado sobre o assunto, alegando que a autarquia aumentou o orçamento para a cultura para poder ajudar mais eventos do género. “O caso do Leffest de Paulo Branco, o DocLisboa, todos os outros, aumentámos o orçamento para a cultura exatamente para poder ajudar mais festivais”, disse o autarca social-democrata aos jornalistas.
Agora, a versão é contrariada pela direção da Apordoc, que assegura que o valor do apoio municipal ao festival de cinema se mantém inalterado desde 2017. “O Doclisboa não recebeu nenhum aumento de apoio direto por parte da CML ou da Lisboa Cultura — EGEAC desde, pelo menos, 2017”, reforçam no texto enviado às redações.
Já depois da publicação deste artigo, numa nota enviada ao Observador, Carlos Moedas fez questão de esclarecer que “nunca” afirmou ter aumentado o orçamento do DocLisboa. O que o autarca diz ter afirmado, na verdade, é que a Câmara aumentou o orçamento da Cultura para chegar a mais entidades no futuro.
No site da Câmara de Lisboa constam as subvenções concedidas nos últimos quatro anos. O Observador consultou os documentos, que confirmam que a associação Apordoc recebeu, desde 2020 a 2023, 100 mil euros anuais para a realização do festival DocLisboa.
A direção da Apordoc diz que a única diferença no apoio da Câmara em 2024 foi um atraso no pagamento. “Pela primeira vez desde há pelo menos uma década, o pagamento do apoio foi atrasado pela CML. A 22.ª edição do Doclisboa abriu em Outubro sem ter recebido o apoio, criando uma situação de liquidez financeira difícil”, revelam. “Perante inúmeros contactos da nossa parte, e após vários dias de insistência, o pagamento foi feito e o Gabinete do Sr. Presidente informou-nos de que o Sr. Presidente visitaria o festival nos dias seguintes. Nunca visitou, e nunca nos foi dito porquê”, continuam. As datas do DocLisboa eram coincidentes com a do Festival Tribeca, onde Carlos Moedas marcou presença.
Em abril, logo aquando a notícia da parceria da CML com a SIC/OPTO para a realização da primeira edição do Festival de Tribeca em Lisboa, o Doclisboa diz ter-se juntado a uma série de outras estruturas do cinema para solicitar “por carta” uma reunião com o Presidente da CML para que “esta decisão fosse esclarecida”. “Essa carta nunca obteve resposta”, dizem. “Apesar de o evento Tribeca ter acontecido em datas coincidentes com o Doclisboa, nunca recebemos qualquer informação ou sinal de disponibilidade para esclarecimentos por parte da CML”.
Mais, os responsáveis pelo festival apontam que “a partir do momento em que o Sr. Presidente Carlos Moedas integrou a pasta da Cultura no seu gabinete [na sequência da saída do vereador Diogo Moura, em maio], a direção da Apordoc e a equipa do Doclisboa solicitaram por diversas vezes reunião com o Gabinete do Sr. Presidente”. “Nunca obtivemos qualquer resposta”, acusam.
Nas declarações desta segunda-feira, Carlos Moedas referiu que muitos dos festivais que acontecem pela cidade “não são ajudados diretamente pela Câmara, mas por empresas municipais”, como é o caso da Lisboa Cultura/EGEAC — Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural ou da Turismo de Lisboa, “quando têm esse pendor”.
A direção da Apordoc esclarece que “esse apoio ao Doclisboa corresponde a uma co-produção e parceria estratégica e concretiza-se na utilização do Cinema São Jorge e na colaboração com a sua equipa e estrutura de comunicação, bem como numa partilha de bilheteiras na proporção de 50/50”.
“Compreendemos que, perante a notícia de que, além de outros apoios estatais avultados, foram investidos no evento Tribeca Lisboa 500 mil euros de dinheiros públicos sob a alçada do Sr. Presidente Carlos Moedas e seu executivo (da CML e da EGEAC), o Sr. Presidente tenha sentido a necessidade de afirmar o compromisso político da sua equipa com a diversidade de festivais que existem na cidade. No entanto, parece-nos essencial que sejam respeitados os factos que são com certeza por si conhecidos”, rematam.
Notícia atualizada às 16h27 para incluir um esclarecimento do Presidente da Câmara de Lisboa