O chefe de Estado moçambicano, Filipe Nyusi, comprometeu-se esta quinta-feira a deixar o poder em janeiro, data prevista para a tomada de posse do novo Presidente, reiterando que nunca teve a intenção de permanecer na liderança por mais um mandato.
“Sempre disse que não tenho nenhuma intenção de permanecer no poder e muito menos de fazer um terceiro mandato, como muitos queriam (…) ou ainda (…) proclamar o Estado de Sítio ou decretar o Estado de Emergência para me manter no poder. Os moçambicanos podem estar confiantes e seguros porque isso não vai acontecer”, declarou Filipe Nyusi, numa comunicação à nação a partir da Presidência da República, em Maputo.
Na quarta-feira, numa videoconferência com deputados do grupo Renew (que inclui a Iniciativa Liberal), realizada no Parlamento Europeu, o candidato presidencial Venâncio Mondlane, que lidera contestação às eleições de 9 de outubro em Moçambique, afirmou-se, sem muitos detalhes, “profundamente convencido” que Filipe Nyusi quer ter razões para declarar estado de emergência e permanecer no poder, após um contacto telefónico entre os dois políticos.
Na comunicação à nação esta quinta-feira, o chefe de Estado confirmou que teve uma “conversa serena” com Mondlane por mais de uma hora, mas preferiu também não adiantar detalhes para “respeitar etapas”.
“Irei continuar com este tipo de diálogo e respeitando a privacidade de cada um, com toda responsabilidade e sensibilidade (…) porque jurei respeitar a Constituição, a certeza que eu tenho e que quero deixar claro é a de que em janeiro de 2025 deixo o poder (…) deixo com sentido de missão cumprida, na minha ótica”, frisou.
Moçambique vive desde 21 de outubro sucessivas paralisações e manifestações de contestação dos resultados das eleições gerais de 9 de outubro, protestos que têm culminado com confrontos entre a Polícia da República de Moçambique (PRM) e os manifestantes, liderados pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane.
Os resultados das eleições de 9 de outubro anunciados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) deram a vitória, com 70,67% dos votos, a Daniel Chapo, apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), no poder, e colocaram Venâncio Mondlane em segundo lugar, com 20,32%, mas este não reconhece os resultados, que ainda têm de ser validados e proclamados pelo Conselho Constitucional.
Pelo menos 130 pessoas morreram nas manifestações pós-eleitorais em Moçambique desde 21 de outubro, segundo balanço avançado, nesta semana, pela Plataforma Eleitoral Decide, que monitoriza os processos eleitorais em Moçambique, que aponta ainda 385 pessoas baleadas.
O candidato presidencial Venâncio Mondlane disse, na segunda-feira, que a proclamação dos resultados das eleições gerais pelo CC, previsivelmente em 23 de dezembro, vai determinar se Moçambique “avança para a paz ou para o caos”.
“Se tivermos verdade eleitoral vamos para a paz, se tivermos mentira eleitoral vamos [a proclamação dos resultados] levar o país a cair para o caos”, avisou Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados anunciados pela Comissão Nacional de Eleições e que têm de ser validados pelo CC até à próxima segunda-feira, 20 dias antes do final do atual mandato do parlamento.