Investigadores do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR) da Universidade do Porto desvendaram um conjunto de pigmentos com características anti-inflamatórias em cianobactérias marinhas de Cabo Verde que podem vir a ser aplicadas na industria cosmética.

A investigação, desenvolvida ao abrigo de um doutoramento, analisou a aplicação cosmética de diferentes estirpes de cianobactérias recolhidas durante uma expedição a Cabo Verde, em África, avançou à Lusa a investigadora Graciliana Lopes.

“O objetivo era explorar cianobactérias de diferentes ‘habitats’ e regiões do mundo, uma vez que estes microorganismos conseguem adaptar-se a condições muito extremas e variáveis“, assinalou a investigadora, que liderou o estudo publicado na revista Algal Research.

A crescente procura de produtos cosméticos para o tratamento de condições como a rosácea, acne inflamatório e diferentes tipos de dermatites “tem motivado a comunidade científica a procurar ingredientes alternativos, de origem natural, eficazes, inovadores e ao mesmo tempo sustentáveis”.

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Ao longo do estudo, foram desvendados “compostos de interesse” nas cianobactérias analisadas, tendo a equipa testado o seu potencial em laboratório.

“Conseguimos extrair delas um conjunto de pigmentos que, pela sua composição qualitativa, revelam ter uma atividade anti-inflamatória muito interessante“, adiantou Graciliana Lopes, acrescentando estes pigmentos atuam tanto na resolução, como na prevenção da inflamação.

Segundo a investigadora, outra das vantagens destas cianobactérias é que “não são produtoras de toxinas”, o que as torna “muito mais seguras e biocompatíveis” para ser aplicadas.

“Neste estudo encontramos várias cianobactérias que são muito promissoras porque produzem estes pigmentos na proporção ideal para este ter efeito benéfico”, assinalou.

O facto de terem a estirpe isolada permite aos investigadores cultivarem estas cianobactérias, ou seja, de uma pequena amostra produzir “uma grande quantidade” em condições de temperatura e luz controladas.

“Uma das grandes vantagens de trabalhar com cianobactérias é conseguir manter sempre a mesma qualidade ou o mesmo perfil de compostos porque a cultura é feita através de uma espécie única. Não está contaminada com outras espécies e condições abióticas, ou seja, a temperatura, salinidade e luz são sempre constantes, o que nos permite garantir que vamos extrair delas sempre a mesma coisa”, acrescentou.

À Lusa, Graciliana Lopes, do grupo de investigação em biotecnologia azul, saúde e ambiente do CIIMAR, avançou ainda que o próximo objetivo passa por incorporar os extratos numa fórmula farmacêutica para fazer prova de conceito.

Já a estudante de doutoramento Janaina Morone salienta, citada no comunicado do CIIMAR, que as cianobactérias são “refinarias verdes que produzem uma imensidão de compostos com aplicações biotecnológicas de elevado interesse”.