“Podia dar tudo, mas mesmo dando tudo, iam fazer greve”. Carlos Moedas insinuou que a greve na recolha do lixo em Lisboa pode ter motivações político-partidárias. Em declarações à SIC Notícias, o presidente da Câmara de Lisboa disse que a greve será “caótica”.

Trabalhadores do lixo em Lisboa em greve nos dias 26 e 27

Carlos Moedas descreveu a situação como sendo “muito grave” e “injusta”, explicando que ao longo dos últimos três anos de mandato, trabalharam numa “paz social” e que deram “tudo aos trabalhadores”. “Isto vai ter um grande impacto na saúde pública, não vai ser um impacto de dois dias, vai ser um impacto de nove dias”. O autarca social-democrata referiu que a cidade de Lisboa “produz 900 toneladas de lixo por dia”.

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“Estou aqui e faço tudo o que quiserem para evitar esta greve”, recordou Moedas, contando o que terá dito aos trabalhadores. Por sua vez, afirma que a resposta dos sindicatos foi: “Não, não, vamos fazer greve”. Com isto, o presidente da Câmara acredita existir uma ligação entre a greve e as eleições autárquicas do próximo ano.

Na mesma página, o autarca pediu aos trabalhadores da higiene urbana de Lisboa para questionarem as motivações do sindicato, uma vez que, durante a sua reunião, “não foi pedir nada [a Carlos Moedas], porque não aceita nada, quando estava disponível”. E, negando que a falta de trabalhadores — uma das queixas dos sindicatos, a par da escassez de camiões disponíveis para fazer a recolha do lixo — seja o problema principal, voltou a fazer um apelo: “Eu continuo sentado à mesa para negociar. Venham negociar”. 

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Por tudo isto, Moedas continua convencido de que o problema são as motivações da oposição. “Temos de baixar todos esta ansiedade política que vem de alguns partidos da oposição que estão a tentar politizar e partidarizar tudo. Não posso estar um ano só a lidar com as ansiedades partidárias daqueles que a única coisa em que pensam na vida é em como vão ganhar o poder”, disparou.

Moedas apela a negociações para evitar greve na recolha do lixo em Lisboa

Por agora, para lidar com o impacto da greve, o presidente da autarquia lisboeta decidiu lançar uma “equipa de gestão de crise” com a qual diz estar em contacto “24 horas por dia”, além de se preparar para distribuir contentores pelas freguesias da cidade, para em “último caso” os cidadãos terem onde colocar o lixo. E voltou a assegurar que é “contra uma privatização” dos serviços: essa ideia é “algo que está a ser feito para diabolizar o presidente”.

Moedas diz que IL cometeu “erro enorme” e elogia “amizade” com Anacoreta

A esta distância das eleições autárquicas de 2025, Carlos Moedas defendeu o seu trabalho, justificou as suas falhas na autarquia — “não se mudam 14 anos em três anos” — e recusou anunciar uma recandidatura, mesmo assegurando que recebe um “apoio enorme na rua”. ”

“[Esse apoio] vem do facto de eu ser um presidente a 300% e não ser candidato ou estar a anunciar candidaturas. Não vou anunciar por respeito aos lisboetas, cansados de políticos que só pensam no próximo passo. Eu não sou isso”, atirou.

Ainda assim, foi deixando algumas pistas para o que pode ser a tentativa de construir uma complicada coligação à direita. Desde logo, deixando um recado à Iniciativa Liberal: há “muitos pontos comuns” nos programas dos dois partidos, mas os liberais “cometeram um erro enorme” ao decidirem não apoiar a sua candidatura em 2021.

Lutas por lugares, irritações e desconfianças mútuas podem fazer ruir grande aliança de Moedas

Ainda assim, os “pontos comuns” com a IL não ofuscam a proximidade alcançada na coligação com o CDS, e em particular com o vice-presidente da autarquia, Filipe Anacoreta Correia (que não seria o nome preferido da atual direção democrata-cristã para indicar numa segunda coligação): “Tenho tido uma relação com o CDS absolutamente extraordinária. [Anacoreta Correia] Tem sido parceiro e amigo. E isso é muito importante na política. Essa relação com o vice tem sido absolutamente única, vai além do trabalho, é amizade”, frisou, numa altura em que se fazem cálculos, nos corredores da direita, sobre o peso que cada partido poderia ter numas eventuais listas conjuntas, e a hipótese de o CDS perder lugares caso a IL alinhe numa frente de direita.

Moedas foi ainda questionado sobre as próximas eleições presidenciais, mas não se comprometeu com o apoio ao “amigo” que é também o nome que o PSD deverá apoiar se avançar: Luís Marques Mendes. “As presidenciais são muito pessoais. Têm de ser os candidatos a apresentar-se”, resistiu Moedas. Depois, acrescentou apenas que na sua área política Marques Mendes seria um “excelente candidato” — mas “outros” mereceriam a mesma qualificação.