Quando Frederico Varandas decidiu que iria mesmo deixar “cair” João Pereira apesar da tentativa em manter a aposta que viu sempre como sucessor natural de Ruben Amorim, a primeira coisa que fez foi falar logo com o próprio. A aposta que descreveu como um “presente envenenado” não resultou mas o líder do Sporting fez questão de proteger ao máximo (e dentro do possível) o antigo técnico da equipa B, não apenas nas condições que iria preparar em termos de rescisão e no discurso para fora onde assumiria a decisão mas também na comunicação dos passos que iam sendo dados na procura de um novo treinador. Assim, não foi propriamente surpresa para Pereira quando saíram notícias do interesse em Rui Borges e na viagem que fez a Lisboa.

Se até agora dificilmente seria imaginável ver imagens do técnico do V. Guimarães no aeroporto, agora isso tornou-se viral num ápice e “denunciou” as negociações que estavam em curso. No dia seguinte ao empate no Minho com o Nacional, Rui Borges apanhou o avião do Porto para Lisboa e esteve em negociações com os responsáveis verde e brancos, neste caso Frederico Varandas e Hugo Viana, diretor desportivo da SAD leonina (com quem se encontrou de forma informal há duas semanas na região norte do país). O acordo foi fácil de atingir e ficavam apenas por fechar as conversas com o clube minhoto, não tanto sobre os quatro milhões de euros a pagar mas em relação aos prazos dos mesmos num negócio onde também o Moreirense, antiga formação do treinador, teria direito a uma parte. Agora, tudo ficou fechado, estando previsto o anúncio final para esta quinta-feira.

Depois dos contactos exploratórios que começaram a ser feitos após a derrota do Sporting em Moreira de Cónegos, e que envolveram nomes como Abel Ferreira (o alvo número 1 de Frederico Varandas apesar da existência de outras possibilidades, também portuguesas e a trabalhar no estrangeiro), a opção acabou por recair na escolha de um técnico da Primeira Liga – sendo que não era a única possibilidade nesse cenário. O que levou à aposta em Rui Borges? A qualidade de jogo do V. Guimarães, a aposta em jovens jogadores, a ideia que passa aos jogadores e a campanha conseguida na Liga Conferência, que acaba por atenuar alguns resultados recentes menos conseguidos no Campeonato à luz do desgaste físico a que a equipa foi sujeita.

Aos 43 anos, o técnico nascido em Mirandela, que antes passou como treinador por Mirandela, Ac. Viseu, Académica, Nacional, Vilafranquense, Mafra e Moreirense até chegar ao V. Guimarães, enfrenta o seu maior desafio na carreira profissional depois de todos os elogios feitos a este Sporting e a Ruben Amorim, como aconteceu numa entrevista em que admitiu ter enfrentado o encontro mais complicado até então.

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O que mudou para uma viragem de 180º de Frederico Varandas entre o discurso na gala dos Prémios Stromp e a decisão de fazer mais uma troca técnica em 2024/25? Sobretudo a perceção de que ninguém conseguia ver grande margem para que o projeto João Pereira vingasse no conjunto principal, mesmo que ele continue a ser visto mais como uma vítima do contexto do que propriamente como culpado da queda abrupta que fez com que os leões perdessem oito dos últimos 12 pontos no Campeonato, passassem aos quatros da Taça de Portugal com uma ida ao prolongamento com o Santa Clara e descessem para 17.º na Champions.

As dúvidas táticas foram sempre uma constante no plantel leonino. Apesar de preservar o mesmo sistema tático de Ruben Amorim, João Pereira tentou incutir (sem sucesso) a forma de ver o jogo, com maior recurso ao corredor central e exploração de cruzamentos. Sendo certo que não existe melhor forma de convencer um grupo de jogadores de acreditar no que faz do que apostar naquilo que defende, o antigo treinador da equipa B chocou com uma realidade: não só o plantel leonino foi desenhado para jogar em 3x4x3 como os principais jogadores apresentam características que entroncavam na forma de jogar de Amorim. A par disso, também os treinos nunca convenceram totalmente o grupo, ainda que ninguém se tenha colocado “de fora”.

Os argumentos utilizados por Varandas para defender as dificuldades que João Pereira sofreu mantêm-se. A equipa (e, neste caso, os próprios adeptos) sofreu um choque emocional com a saída de Ruben Amorim, as lesões foram um obstáculo difícil de contornar depois de terem deixado do fora nomes como Nuno Santos, Pedro Gonçalves, Daniel Bragança, Morita ou Gonçalo Inácio e também as arbitragens não foram felizes nos últimos encontros do Sporting. No entanto, e apesar de ter havido uma tentativa sem sucesso por parte do grupo leonino em regressar à trajetória sólida dos triunfos, a crença acabou por cair, algo que foi transmitido a Frederico Varandas. O presidente leonino resistiu sempre às “pressões” de dispensar Pereira que chegavam do próprio núcleo duro mas, após várias consultas na sequência do empate sem golos dos verde e brancos em Barcelos frente ao Gil Vicente na 15.ª jornada, houve um fim de linha sem volta a dar.