Um documentário sobre Filipe La Féria, figura cimeira do teatro português, vai estrear-se em março na RTP 2. Realizado por Miguel C. Saraiva, com autoria e argumento de Lígia Gonçalves, Filipe La Féria: O Teatro como Ato de Fé surge na sequência de Carlos Avilez, Ao Cair da Noite, que a estação pública também exibiu em 2024.
Produzido pela Promenade em parceria com a RTP2, o documentário “procura retratar o pensamento que orienta a criação” do encenador de 79 anos, segundo a sinopse da produtora. A rodagem acompanhou os ensaios da estreia do espetáculo Fátima e “reflete um legado que nos leva a crer que o Teatro é, tantas vezes, paixão, salto no abismo, religião e um ato de fé”. A ópera-rock sobre o fenómeno de Fátima numa versão contemporânea que narra os acontecimentos alegadamente ocorridos em 1917 na Cova da Iria está atualmente em cena no Teatro Politeama, em Lisboa.
“No Teatro Politeama circula diariamente Filipe La Féria. Ou talvez seja o Teatro a circulá-lo. Num percurso conjunto, há décadas, em que um é também o outro”, lê-se ainda na nota de intenções da produtora, que destaca a simbiose entre encenador e espaço. Por isso mesmo, Filipe La Féria: O Teatro como Ato de Fé desenrola-se nos vários espaços da sala de espetáculos na rua das Portas de Santo Antão, “local emblemático na cidade de Lisboa e, hoje, indissociável de Filipe La Féria”.
Com entrevistas a figuras como João Baião, Joaquim Monchique, João D’Ávila ou Simone de Oliveira, personalidades que, em diferentes momentos, cruzaram a vida do protagonista, o filme mostra também o “incontornável papel de Filipe La Féria na história do Teatro português”.
Filipe La Féria nasceu em 1945 em Vila Nova de São Bento, em Serpa. Começou a trabalhar aos 16 anos, na companhia Rey Colaço-Robles Monteiro, dirigida por Amélia Rey Colaço, no Teatro Nacional D. Maria II, onde se estreou como ator. Acabaria por fazer uma longa carreira enquanto encenador, passando por muitas outras companhias, do Teatro Estúdio de Lisboa, ao Teatro da Cornucópia, ao Teatro Experimental de Cascais e, sobretudo, à Casa da Comédia, cuja direção viria a assumir em 1980, encenando peças disruptivas à época, como A Paixão Segundo Pier Paolo Pasolini (1980), ou Noites de Anto (1988), de Mário Cláudio. A partir de finais da década de 80, La Féria aposta no teatro ligeiro musicado, com peças de grande popularidade como What Happened to Madalena Iglésias (1989), comédia-musical protagonizada por Rita Ribeiro e António Cruz levada à cena na Casa da Comédia.
Em 1991, é convidado pelo Governo para trabalhar no Teatro Nacional D. Maria II onde assina Passa Por Mim no Rossio, uma homenagem à história da revista à portuguesa que se torna um sucesso de bilheteira tal que fica em cena durante mais de um ano. Colabora com a RTP no programa Grande Noite (1993), que lançou a carreira de jovens atores como João Baião e Joaquim Monchique. Em 1994, adquire e recupera o Teatro Politeama, onde desde então mostra peças de teatro de revista e teatro musical, género que La Féria sempre quis fazer, inspirado na Broadway.