O livre de Theo Hernández foi um momento de viragem. Ao longo de 50 minutos, o AC Milan não tinha sido globalmente inferior ao Inter mas, em três remates enquadrados, os rivais marcaram dois golos com Mehdi Taremi em plano de evidência. Até pelos pontos de contacto com o jogo com a Atalanta das meias-finais, tudo parecia decidido na final da Supertaça de Itália em Riade. Não estava. E a bola parada batida pelo francês que deixou Sommer sem hipóteses de reação funcionou como mote para mais uma reviravolta dos rossoneri com o português Sérgio Conceição. Se dúvidas existissem de que a segunda parte frente à Juventus não tinha sido obra do acaso, os últimos 45 minutos da decisão da prova foram a certeza de que o AC Milan mudou.

Sérgio chegou, viu e escreveu uma história épica: AC Milan conquista Supertaça frente ao Inter com reviravolta de três golos

Da forma como o segundo golo foi festejado por Musah e Reijnders na zona técnica depois de terem saído de campo por troca com Loftus-Cheek e Tammy Abraham à maneira como Rafael Leão deu tudo para chegar mais rápido à bola que terminaria no 3-2 final do avançado inglês no terceiro minuto de descontos, passando pela maneira como Tomori e outros caíram no chão com cãibras mas levantaram-se para dar mais do que os 100% que todos têm ou pela euforia de Theo Hernández a festejar um pontapé de baliza nos instantes finais, foram várias as imagens de uma equipa transfigurada na Arábia Saudita para aquele que foi apenas o seu segundo título nos últimos anos (antes tinha sido o Campeonato, com Stefano Pioli). Foi marcante para este gigante adormecido em Itália, foi marcante para Sérgio Conceição e restante equipa técnica.

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Depois do apito final com todo o banco de pé, o treinador abraçou todos os elementos que trabalham consigo diariamente e não evitou as lágrimas nos primeiros segundos depois da consagração com uma reviravolta que foi muito celebrada no Al -Awwal Park, confirmando que o AC Milan é mesmo um dos clubes que tem mais adeptos no Médio Oriente como as audiências das transmissões televisivas sempre foram mostrando. A seguir, Sérgio Conceição cumprimentou os árbitros, foi abraçar todos os jogadores com alguns cumprimentos mais efusivos como aconteceu com Rafael Leão, Abraham ou Musah, foi falar com o antigo jogador portista Mehdi Taremi (antes já tinham ido os adjuntos) e ficou depois à conversa com outro elemento do staff do clube, Francesco Bega. Foi nesse momento que o técnico ouviu o seu nome cantado nas bancadas.

Apesar dessa festa, Sérgio Conceição ia parando de quando em vez. Tossia, mostrava aquela cara de quem teve febre alguns dias e tenta ainda recuperar, estava cansado. Na cerimónia de entrega de medalhas e depois do troféu, começou a tentar “arrebitar”. No balneário, foi mesmo o protagonista: repetindo o festejo que se tornou viral no FC Porto, o técnico acendeu um charuto e dançou kuduro com todos os jogadores a cantarem num ambiente de euforia como há muito não se via no plantel do AC Milan. Rafael Leão era um dos mais animados, após um regresso que prometeu e muito não só pela capacidade física que conseguiu ir fazendo prevalecer mas também pelos movimentos por dentro que mostraram como pode ter um papel diferente na equipa em alguns encontros, não jogando tanto na ala e pisando terrenos mais centrais. “No final da partida os jogadores disseram-me logo que eu tinha de fumar um charuto… Eles sabiam que eu fazia este ritual depois de conquistar títulos”, confessou Sérgio Conceição, explicando as celebrações no final.

“Dedico este título aos meus pais, que já não estão entre nós, à minha mulher e aos meus filhos que sofreram nestes meses. Foram seis meses muito maus depois de tantos anos no FC Porto. Esta Supertaça deixa-me muito satisfeito”, começou por comentar o treinador português depois da conquista da Supertaça. “Falei da mentalidade, do carácter da equipa, mudámos duas ou três pequenas coisas. Fizemos um grande jogo contra uma equipa forte e um bom treinador. Não foi fácil. Falámos, logo depois do 2-0, e depois mostrámos um enorme carácter. Queremos continuar assim. Os nossos objetivos são claros”, salientou o técnico, que no final foi também assistido no banco a uma ferida no calcanhar para “gozo” de alguns jogadores do plantel.

Se recebi propostas do Al Nassr ou do Al Ittihad agora não é importante, o que importa é que estou no AC Milan. É verdade que tive ofertas de clubes árabes mas também de clubes brasileiros ou de outros países. Depois do que fiz no FC Porto, queria uma equipa europeia para continuar a minha carreira de treinador. Também recebi propostas de algumas seleções. Pensei em aceitar mas depois apareceu o AC Milan e não pensei duas vezes”, confessou.

“Ganhar Juventus e Inter para conquistar um troféu? Sonhava com isso mas sonhava em ganhar jogos sem reviravoltas porque faz-me doer o coração. Conhecia todos os jogadores, sabia que podíamos fazer um bom trabalho. Mas amanhã vamos começar a pensar no Cagliari. O lugar do AC Milan não é em sétimo ou oitavo lugar mas sim entre os primeiros, demonstrando também a nossa força na Liga dos Campeões. Rafael Leão? É um fenómeno. Conheço-o há muito tempo. Ele é descontraído, eu sou tenso… Tem de aprender duas ou três coisas e pode ser o melhor do mundo. Ele tem tudo, não digo isto para ser simpático, tem muita qualidade e se a colocar ao serviço da equipa será ainda mais forte. Na minha opinião, no final da temporada, será um dos melhores do mundo, não tenho dúvidas disso”, destacou ainda Sérgio Conceição.

“A equipa está a reagir bem, há energia e harmonia. Toda a equipa está preparada. Estão a fazer um bom trabalho, o novo treinador está no cargo há poucos dias. Algo já aconteceu, a equipa está a aceitar bem as novas indicações. Existe um bom equilíbrio e agora dou um passo atrás: sou eu quem dá abraços e ele é quem bate. Mas se ele não for suficiente, eu entro”, comentou no final Zlatan Ibrahimovic, atual diretor desportivo do AC Milan que se mostrou também muito satisfeito pela conquistado no relvado após o jogo.

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