Atualizado pela última vez às 20h25

O Rei de Espanha propôs a Pedro Sánchez que tente formar governo, já que os socialistas se recusam a viabilizar um executivo do PP. O anúncio foi feito pelo presidente do Congresso (ou Assembleia) de deputados de Espanha, Patxi López, depois de um encontro que teve com Felipe VI. “Vou propor Pedro Sánchez como candidato à presidência do Governo“, escreveu o Rei, em anúncio lido por Patxi López.

E Pedro Sánchez já respondeu, segundo revelou o presidente do parlamento espanhol: “Falei com Pedro Sánchez e disse-me que necessitará entre três semanas a um mês” para a formação de governo. Um tempo que Patxi López considera razoável, devido ao factos dos futuros acordos terem de ser ratificados pelos órgãos dos partidos.

“É altura dos partidos se sentarem e falarem a sério para um acordo de Governo”, disse ainda o presidente do Congresso espanhol.

Pedro Sánchez: “Vamos tentar formar Governo”

O líder socialista já reagiu ao anúncio do Rei. Pedro Sánchez começou por reconhecer “o grande trabalho” de Felipe VI nas audições com os líderes dos partidos espanhóis, agradeceu a “confiança” depositada em si e no PSOE e prometeu: “Vamos tentar formar governo“.

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Sánchez, que acusa Rajoy de não ter feito “nenhum esforço para obter os apoios [necessários]”, diz que começará já esta quarta-feira a negociar com “todas as forças que estão pela mudança”, para que esta se materialize. O PSOE, diz o seu líder, conta com o PP “para os assuntos de Estado” e espera que os populares “tenham a mesma lealdade que nós [PSOE] quando estamos na oposição”. Mas sublinha que o partido de Rajoy se deve “regenerar (…) na oposição”.

“Quero governar na base do diálogo e em benefício da maioria. Quero transmitir uma mensagem de confiança aos espanhóis. É possível implementar políticas progressistas”, defendeu Sánchez, que garantiu que estenderá a mão “à esquerda e à direita”. Ou seja, ao Podemos, à Esquerda Unida e ao Ciudadanos, já que, afirmou, não irá “procurar o apoio dos independentistas”.

O novo líder socialista enunciou ainda um conjunto de prioridades para uma futura legislatura: as mesmas que tinham ficado definidas aquando da penúltima reunião do Comité Federal do PSOE, que ocorreu em dezembro, e que foram detalhadas aqui.

A mudança está mais próxima. Vou trabalhar sem descanso para que essa esperança se converta em realidade. Estou consciente da honra e das dificuldades que esta responsabilidade pressupõe”, concluiu.

Ciudadanos fala de “diferenças fundamentais” com o Podemos

Albert Rivera, líder do Ciudadanos, já comentou a decisão, em conferência de imprensa: “É uma boa notícia que (…) Espanha posse cumprir com o seu plano constitucional. Lamento que os partidos tenham jogado com os prazos. Tal como lamento que Rajoy tenha declinado o debate” de investidura, disse. Recorde-se que, convidado pelo Rei a formar governo, Mariano Rajoy recusou, alegando não ter os apoios necessários devido à recusa do PSOE em viabilizar um executivo do PP.

Albert Rivera disse ainda que “o Ciudadanos quer que as negociações se iniciem esta semana”. “Vamos ter pouco tempo, mas intenso, para ver possíveis pontos de encontro com o PSOE“. Mas o PP não deve ficar de fora das negociações, explicou Rivera, que ainda defende um acordo a três, entre PSOE, PP e Ciudadanos:

Via aberta [para negociar] com o PSOE e também mão estendida para dialogar com o PP, porque sabemos que é necessária a sua participação em qualquer futuro Governo

Já com o Podemos a história é outra: “Com o Podemos há coisas que podemos votar juntos, mas nunca estaremos de acordo no artigo 1 da Constituição: [isso] é uma diferença fundamental. (…) Não me considero incompatível com ninguém deste mundo, mas o modelo económico e territorial do Podemos é o oposto do nosso“, disse Rivera.

Podemos critica impasse e diz que “é altura de decidir”

O número dois do Podemos, Iñigo Errejón, já reagiu à declaração do Rei. Num tweet, o vice de Pablo Iglesias critica o tempo perdido desde as eleições e diz que “é altura de se decidir” a formação do Governo. O que, tem defendido o Podemos, depende dos socialistas.

Antes do anúncio do Rei tinha sido Pablo Iglesias a falar aos jornalistas, em conferência de imprensa. Tal como Rivera, também Iglesias fala de incompatibilidades com o Ciudadanos, dizendo que “é impossível que cheguemos a acordo com o Ciudadanos para formar governo, que fique claro”. E critica o PSOE por ter “tentado vender” uma opção de governo que diz ser impossível de se materializar:

Pedro Sánchez tentou vender uma opção de governo impossível [entre PSOE, Podemos e Ciudadanos]. Chegar a acordo com o Ciudadanos era pactar com a bengala do PP”

“Só há duas opções de governo” em Espanha, afirmou Iglesias: “um acordo entre PP, PSOE e Ciudadanos” ou um acordo entre “PSOE, Podemos e a Esquerda Unida”. O último, contudo, precisaria de apoios no parlamento para poder governar em maioria: e se o PP (a força mais votada nas últimas eleições) dificilmente viabilizará um governo à esquerda, o Ciudadanos também tem reiterado que se oporá a um governo que inclua o partido de Pablo Iglesias.