A dieta vegan afinal não é tão amiga do ambiente como se possa pensar e isso deve-se ao tipo de utilização dos terrenos agrícolas que essa forma de alimentação implica, conclui um estudo publicado na revista Elementa.

Recorrendo a modelos de simulação biofísica, os investigadores compararam as formas de desgaste e utilização de terrenos agrícolas associados a dez tipos de dietas: dieta vegan, duas dietas vegetarianas (uma que incluía produtos lácteos, a outra produtos lácteos e ovos), quatro dietas omnívoras (com diferentes níveis de consumo de carne), uma baixa em gorduras e açúcares, e uma semelhante ao padrão alimentar norte-americano recente (que inclui o consumo elevado de produtos de origem animal e processados).

Uma das conclusões dos investigadores da equipa liderada por Christian Peters não foi surpreendente: comer menos animais permite que os terrenos agrícolas disponíveis alimentem mais pessoas. Mas eliminar por completo os produtos de origem animal da dieta não é a melhor maneira de maximizar o uso sustentável da terra, refere a Quartz.

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A dieta vegan alimenta menos pessoas do que as duas dietas vegetarianas e duas das quatro dietas omnívoras estudadas, segundo os modelos de cálculo utilizados. Quem quiser alimentar-se de forma mais amiga do ambiente, deve comer mais vegetais mas sem deixar completamente de comer produtos de origem animal.

Os elevados índices de consumo de produtos de origem animal, em especial, o consumo de carne de vaca tem sido apontado com um dos fatores que mais contribui para a insustentabilidade ambiental do planeta. Uma perceção muito ampliada com o sucesso do documentário Cowspiracy: The Sustainability Secret (2014), produzido pelo ator Leonardo DiCaprio e que levou muitas celebridades (nacionais e estrangeiras) a optar pela dieta vegan.

Em média, para sustentar a dieta de apenas um consumidor norte-americano são precisas terras agrícolas equivalentes a mais de dois campos de futebol. A quantidade de terrenos diminui drasticamente à medida que se reduz o consumo de carne na dieta e se adiciona mais vegetais.

O modelo de cálculo dos investigadores foi aplicado partindo do princípio que existem diferentes tipos de terras — e baseados na distribuição dos terrenos agrícolas nos Estados Unidos — para cultivar os vários alimentos. As pastagens são muitas vezes inadequadas para o cultivo, mas ótimas para alimentar os animais. As terras de cultivo perene são aquelas onde se cultivam plantas que produzem várias vezes ao ano (como, por exemplo, os cereais). As terras de cultivo sazonal são aquelas onde se fazem culturas por épocas, como os legumes.

A investigação conclui que as cinco dietas com mais carne utilizam todos os terrenos de pastagens e terras de cultivo (perene e sazonal) disponíveis nos EUA. As cinco dietas com menos carne (ou nenhuma) variam na utilização das terras. Mas a dieta vegan destacou-se nos resultados por ser a única que não recorre à utilização de forma plena das terras de cultivo perene. Ou seja, a dieta vegan seria menos eficiente a alimentar um grande número de pessoas porque implica menos produção de alimentos. E por outro lado, o tipo de culturas necessárias a que essa dieta seja o mais equilibrada possível em termos nutricionais, implica também um maior desgaste das terras.

Evitar totalmente o consumo de produtos de origem animal, afinal, pode não ser a escolha mais sustentável em termos ambientais a longo prazo.