O sistema de tutorias nas escolas, lançado este ano para ajudar os alunos com mais dificuldades nos estudos, pode não resultar. O alerta é deixado pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE) no relatório sobre a economia portuguesa, divulgado esta segunda-feira. Dizem os especialistas da OCDE que, embora seja uma boa medida, “há o risco de este apoio chegar muito tarde, e as intervenções tardias são menos propícias a serem bem sucedidas”. Acrescentam ainda que é preciso dar formação aos professores que vão assumir o papel de tutores, o que, neste caso, está a ser feito em Portugal.

Em causa está o sistema de tutorias lançado pelo ministro Tiago Brandão Rodrigues, no presente ano letivo, para alunos de 12 anos com dois ou mais chumbos. Estes alunos terão direito a um tutor durante quatro horas por semana, que os ajudará com os estudos e na resolução dos problemas em casa e na escola. A tutoria veio substituir os cursos vocacionais no ensino básico.

No mês passado, o jornal Público noticiou que à volta de 1.200 professores tinham recebido formação específica para serem tutores. E, em declarações ao jornal, o professor Pedro Rosário, responsável pela formação, explicou que “o modelo que propomos está centrado na promoção dos processos de auto-regulação, em que são os alunos a conduzir o seu processo de aprendizagem, estabelecendo metas, formas de lá chegar, planificando o tempo para tal”.

Apesar dos riscos, a Organização aplaude a medida que vem no sentido de combater o insucesso e reduzir os chumbos que, em Portugal, têm uma taxa muito mais elevada do que no resto dos países. Em 2012, 34% dos alunos portugueses tinham chumbado pelo menos uma vez no ensino primário ou secundário. Na OCDE essa percentagem era de, apenas, 12%. A OCDE reafirma que chumbar não resulta em termos de melhoria de resultados escolares, além de que aumenta as desigualdades, uma vez que os alunos de contextos socio-económicos mas baixos chumbam mais.

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Professores mais experientes em escolas mais problemáticas

E é precisamente este outro dos pontos importantes. Para os especialistas da OCDE, Portugal tem um outro desafio no que toca à educação: “reduzir a ligação entre os resultados escolares e o contexto socio-económico dos alunos”. E para que isso aconteça sugere, por exemplo, que um “apoio mais precoce e individualizado aos estudantes em risco de ficar para trás, reforçando a formação de professores e directores e expondo-os às melhores práticas”. Além disso, poderiam ainda ser criados “incentivos para atrair os professores mais experientes para escolas desfavorecidas”.

Podia ser que com esta abordagem, Portugal conseguisse, por exemplo, reduzir ao mínimo o abandono escolar precoce, o que não tem conseguido, apesar de ter alargado o ensino obrigatório até ao 12.º ano.

Portugal precisa, de resto, de continuar a melhorar as competências da sua população. Nem metade dos portugueses em idade ativa (43%) concluiu o ensino secundário, o que contrasta com os 76% na média da OCDE. E esta pintura não fica esborratada só por conta dos mais velhos. Mesmo olhando para os jovens adultos, sublinha a OCDE, só 65% completaram o ensino secundário, abaixo dos 83% da OCDE, e apenas 31% têm canudo do ensino superior. Na média dos países da OCDE essa percentagem chega aos 41%.

Lembram os especialistas que o desemprego, em Portugal, é mais baixo no segmento da população com estudos superiores, assim como os salários são mais altos quando estão empregados. Aumentar as competências junto dos adultos será o caminho mais eficiente para aumentar as competências junto da população. A questão da autonomia foi também focada pelos especialistas da OCDE. Para eles, as escolas têm de ter mais poder para decidir quem querem contratar, por exemplo.