Nas redes sociais pode ser “Príncipe Gurdjieff”, “Maestro G”, “Maestro Vajrayana” ou “Guivanny Misterio”, líder de uma seita gnóstica apocalíptica com base na capital do Peru; um dos “sete reis da criação” e uma espécie de Messias escolhido para governar e repovoar, com a ajuda de pelo menos sete “esposas submissas”, o mundo depois do fim.
Na vida real é Félix Steven Manrique, um peruano de 34 anos, auto-proclamado presidente de uma organização não governamental sem sede e com 12 seguidores no Facebook, a Acoracom.
Foi identificado pela Interpol e pela polícia do País Basco como o responsável pelo desaparecimento de Patricia Aguilar, 18 anos acabados de fazer, da casa dos pais em Elche, Alicante, no passado dia 7 de janeiro de 2017. E também como o homem que, novamente através da Internet, estava agora a tentar aliciar outra jovem espanhola, de apenas 16 anos, também de uma cidade do País Basco, a juntar-se a ele no Peru.
“Manrique terá seguido o mesmo modus operandi que usou para aliciar Patricia. Contacta com elas quando ainda são menores de idade, oferece-lhes ajuda e serviços espirituais e prepara-as para, aos 18, deixarem as suas vidas e se entregarem a ele”, explicou fonte da polícia local à Interviú.
Já terá três mulheres no harém que está a reunir — Patricia, agora com 19 anos; Paola, de 42, que terá um filho de 9 com Manrique; e Mayita, “bastante mais nova”, diz o El Español, mãe de três crianças, também filhas do líder da seita. O seu objetivo será chegar às sete. “Ele dizia sempre que tinha de conseguir sete esposas. Quem me contou isto foi uma rapariga que saiu da seita, com quem falei”, explicou ao mesmo jornal Noelia Bru, prima de Patricia.
Hoy se cumple 1 año sin Patricia.
Durante este año han habido momentos de respiro, ya q a mediados de año reaparecio y pudimos saber que estaba viva. Pero en julio desaparecio definitivamente sin dejar rastro.@patriiiap Te queremos y seguiremos luchando por ti!
#1añosinpatricia pic.twitter.com/haFuR0SemS— SOS Víctimas Sectas (@VictimasSectas) January 7, 2018
Foi depois de a família de Patricia Aguilar ter alertado para o seu desaparecimento que as autoridades começaram a investigar o caso. O trilho da jovem, que já se corresponderia com Manrique há mais de um ano, o que coincidiu com uma série de mudanças no seu comportamento — passou a ter pentagramas pendurados nas paredes do quarto, a ouvir gravações sobre o fim do mundo e a dormir com uma espada de madeira sob a almofada –, foi reconstituído com alguma facilidade.
Da casa dos pais, de onde levou 6 mil euros, Patrícia seguiu de comboio para Murcia. No dia seguinte regressou a Alicante para apanhar um avião para Madrid e da capital espanhola voou para Lima. O resto só foi conhecido a 18 de março de 2017, depois de o comandante de um voo doméstico chileno ter alertado a Interpol e a associação SOS Desaparecidos para a presença a bordo de uma jovem aparentemente drogada e acompanhada de um homem mais velho, que não a deixava sozinha um instante e até à casa de banho a levava. À chegada a Santiago do Chile, as autoridades comprovaram: a jovem em “mau estado” era Patricia Aguilar, dada como desaparecida há dois meses em Espanha. Como era maior de idade e garantiu estar bem, seguiu caminho e acabou por regressar ao Peru, com o auto-proclamado “Príncipe Gurdjieff”.
Mais tarde, a jovem garantiu estar naquele país “voluntariamente” e assegurou que não pertencia a seita nenhuma. Acusou os media de estarem a difamá-la e chegou a pedir ajuda ao Podemos e a Pablo Iglesias, num vídeo publicado no YouTube: “Peço-lho porque é jovem, e sabe o que é ser perseguido pelos meios de comunicação, ter o seu nome difamado e as suas fotografias difundidas sem autorização… não é nada agradável”.
Apesar de tudo, os pais não desistem de tentar resgatá-la. E o facto de Félix Steven Manrique ter sido várias vezes denunciado no Peru, por abuso sexual de uma menina de apenas 9 anos e também por maus-tratos físicos e psicológicos a um familiar, piora ainda mais a situação.
“Sabemos que a Patricia o conheceu na Internet, numa página de esoterismo, durante o verão de 2015. Na altura ela só tinha 16 anos e estava vulnerável, até porque o tio tinha acabado de morrer repentinamente. Temos provas de que ele a foi fanatizando aos poucos”, disse à Interviú a prima e porta-voz da família.
Há sete meses que não sabem dela.