Miguel Albuquerque, o homem que abriu a Caixa de Pandora do PSD/Madeira ao assumir a sua candidatura à liderança do partido em 2012 e que conseguiu em pouco tempo tornar-se no sucessor de Alberto João Jardim, sabe mesmo nadar. Especialista de crawl, ­técnica de natação e disciplina olímpica, a mais rápida e livre que permite a cada atleta inventar o seu próprio estilo, ­foi campeão da Madeira desta modalidade aos 14/­15 anos.

Se cedo se preparou para enfrentar as ondas, a política ativa só acontece pela porta do Movimento de Apoio a Mário Soares (MASP­ I) quando o PSD Madeira, por decisão de Jardim, divide o partido em dois: um grupo apoia Soares, o outro, Freitas do Amaral (presidenciais de 1986). Segue­-se a liderança da JSD­ Madeira precisamente na mesma altura em que Pedro Passos Coelho era líder da Jota nacional.

Advogado, deputado regional, tudo corria normalmente quando, na qualidade de número dois de Virgílio Pereira, então presidente da Câmara Municipal do Funchal, é obrigado a substituí-­lo quando este bate com a porta da autarquia em rutura com Jardim. O caminho estava traçado. Três mandatos seguidos. No arquivo, ficaram registadas as vezes que entrou em rota de colisão com o líder do partido e com outros membros do governo regional.

As relações azedas com Jardim não são de agora. Albuquerque conquistou espaço e transformou­-se no “enfant terrible” galgando terreno dentro e fora do PSD/M. Mas é, realmente, a família que o molda. Miguel nasceu no registo de duas matrizes. Do pai, os pergaminhos açorianos, quase monárquicos, da família Canto de Albuquerque. Da mãe, é a figura forte do avô, Tenente Francisco Ernesto Machado, um dos militares da Revolta da Madeira de 4 de abril de 1931 contra Salazar. Um homem da oposição.

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O Tenente Machado, como era conhecido, integrava o Regimento de Infantaria 13 no Funchal e foi um dos oficiais mais ativos que aderiu ao movimento de sublevação desde a primeira hora, segundo relata o Major António Fernandes Varão, no livro “Infantaria 13 no movimento político da Madeira” editado em 1932.

Pela sua participação na revolta, o Tenente Machado sofreu consequências gravosas tendo sido demitido por decreto de 1 de Julho de 1931. Em 1936, como muitos outros militares ligados a este processo, pede a reintegração depois de regressar de São Tomé e de Cabo Verde (ilha de S. Nicolau) onde cumpriu uma pena de prisão pesada, juntamente com outros militares que participaram na Revolta, incluindo o General Sousa Dias. Em 1938 é reintegrado.

O Tenente Machado foi sempre um homem ligado ao Norte, designadamente ao Arco de S. Jorge e S. Jorge e mesmo a Santana possuindo nestas freguesias abastadas propriedades rurais, onde nos anos de 50 e 60 desenvolveu atividades associativas, nomeadamente na Cooperativa dos Agricultores de São Jorge que se dedicava ao fabrico de manteiga sendo bem conhecida a sua marca “Manteiga Pico Ruivo” antes de ser absorvida pela ILMA, empresa de Laticínios da Madeira, entretanto encerrada por falência.

Outra das histórias que acompanham Albuquerque está ligada à música. Nos anos da faculdade de Direito, em Lisboa, tocou em bares e, no Funchal, em tempo férias, substituía os profissionais nos hotéis da ilha em noites de dança e solos de fim de tarde. E como o passado é para recordar, ainda hoje mantém uma banda de revivalistas, intitulada “Velhos Hotéis”. Aprendeu piano desde cedo com um maestro mexicano que residia na zona antiga do Funchal. Miguel assume-­se como um homem do jazz, razão porque, enquanto autarca, promoveu o festival de jazz da Madeira.

Miguel Albuquerque, 53 anos, é uma figura que cria com a mesma intensidade simpatias e antipatias, ferozes, que tanto cativa os conservadores de centro-­direita como certos estratos de esquerda, sobretudo ligados à cultura. Dizem os amigos que Miguel é teimoso, repentista, elitista, odeia burocracias, quer ver tudo despachado e não tem pejo em dar um ou vários gritos quando as coisas descarrilam galgando os trilhos que ele próprio projetou. Gosta das coisas boas da vida, da caça desportiva, das viagens, de ler e escrever (já publicou vários livros de ensaio), das tertúlias, da beleza da estética e de quebrar o estabelecido, como certos tabus.

É um cultivador de rosas raras, tem milhares plantadas na Quinta do Arco, no norte da ilha, jardim que já conquistou prémios e fama internacional. Na história de vida, a escola primária no Colégio Lisbonense e o secundário no Liceu Jaime Moniz. Colegas de turma confirmam que era bom aluno, irrequieto, mas nunca perdeu um ano. Nem depois, na faculdade. Em comportamento era igual aos outros, gostava de farras, de sair em grupo. A única coisa que o diferenciava era a boa educação e a sua formação humanista. Aí a avó Vera, uma senhora como mais de 90 anos, metia­-o na linha e imprimia valores.

A influência dos avós sempre foi muito forte. Com um irmão mais novo, o enólogo Francisco Albuquerque, Miguel sofreu, ainda, a influência anglo-­saxónica através da mãe e sobretudo do padrasto, um engenheiro britânico (o casal vive em Inglaterra). Daí que a segunda língua seja o inglês.