O mercado aguarda com expectativa e nervos o anúncio da dimensão das perdas que a Petrobras terá de assumir na sequência do escândalo de corrupção que envolve pagamentos milionários a fornecedores, através da inflação do valor dos contratos.

Depois de adiar por três vezes a divulgação dos resultados do terceiro trimestre, entrando em incumprimento com alguns detentores de obrigações, a Petrobras revelou finalmente esta terça-feira os resultados do terceiro trimestre que apontam para uma descida de 9% dos lucros. Mas depois de uma reunião de dez horas, a administração acabou não chegar a um consenso sobre as perdas a reportar, não revelando a informação que os investidores mais querem saber: qual vai ser a fatura do caso Lava-Jato, como é conhecido o caso de corrupção?

Em causa está um alegado esquema de pagamento de subornos em contratos de 23 mil milhões de dólares (7,9 mil milhões de euros) que quase paralisou a maior empresa brasileira, que é parceira da Galp, em vários projetos de produção petrolíferas nas águas brasileiras.

A presidente executiva, Maria das Graças Silva Foster, explicou em comunicado que é impraticável quantificar de forma exata os valores indevidamente reconhecidos porque os pagamentos foram efetuados por fornecedores externos e não estão registados na contabilidade da empresa. Segundo a gestora, as metodologias usadas para calcular os pagamentos indevidos mostraram-se impróprias e não permitiram identificar de forma correta os ajustamentos que a empresa precisa de fazer aos seus ativos. Os valores apurados apontam para uma sobreavaliação de 88,6 mil milhões de reais (30,4 mil milhões de euros), mas também há ativos subavaliados.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Dívida e cortes no investimento

Ainda assim a empresa decidiu divulgar as contas do terceiro trimestre, que não foram auditadas, para evitar o incumprimento perante os detentores da dívida. O prazo final terminava a 31 de janeiro e se não fosse cumprido os obrigacionistas poderiam exigir o reembolso antecipado dos títulos. Os investidores detêm 54 mil milhões de dólares (47,8 mil milhões de euros) em dívida. A empresa que está envolvida no plano de grandes investimentos na exploração e produção poderá ter de recorrer ao financiamento do banco público BNDES. A petrolífera já anunciou cortes no investimento.

O apuramento das perdas fica assim adiado para os resultados anuais. A empresa vai explicar aos analistas os seus argumentos esta quinta-feira, mas analista e investidores ficaram desapontados, porque a revelação das perdas seria o primeiro passo para recuperar a credibilidade da Petrobras. Analistas contactados pela Bloomberg sublinham: o mercado já não sabe qual é a verdadeira situação financeira da empresa, e portanto quanto vale a petrolífera.

As ações reagiram em forte queda, da ordem dos 10%. Deste setembro, a petrolífera brasileira perdeu 68 mil milhões de dólares do seu valor em bolsa. Parte mais relevante da queda aconteceu a partir de novembro, quando pela primeira vez foram adiados os resultados.

A operação Lava-jato foi descoberta em março de 2014 quando foi detido o responsável pela área da refinação. Desde então foram presos mais dois da Petrobras e 40 gestores e empresários de outras companhias, onde se incluem várias construtoras. As investigações já revelaram cartelização dos fornecedores (para fazer subir preços) e o pagamento de subornos a funcionários. Estes pagamentos ilegais foram contabilizados no valor dos ativos da Petrobras.