A vida dá muitas voltas. Virgolino de Jesus representou o Sporting entre 1943 e 1945. Jogou pouco. Não ficou na história. Até porque o que estava para chegar ofuscaria qualquer príncipe dos relvados. Os Cinco Violinos dariam à costa pouco depois, naquela que seria uma autêntica história de amor entre cinco homens, uma bola e um desporto. Quem os viu suspira ao lembrar. Virgolino não fez obra na bola, mas o sentimento que o ligou ao clube ficou imortalizado quando se tornou sócio. Já lá vão mais de 50 anos. Ironia das ironias, passados tantos e tantos anos a vibrar por leões, Virgolino mudou a agulha e torce agora pelo maior rival.
E tudo porque o seu filho, nascido a 24 de julho de 1954, que também jogou no Sporting (1975/76), chegou a treinador do Benfica. Ninguém tem dúvidas que também Jorge Jesus é sportinguista de coração. É sócio há muitos, muitos anos e até foi visto no Jamor, entre sportinguistas, numa final da Taça de Portugal. Na hora da conquista do primeiro troféu pelo Benfica (Taça da Liga, 2010), dedicou, com a voz embargada, pesada, a vitória ao seu pai. Jesus é sempre genuíno, mas talvez tenha sido o momento mais vulnerável da sua parte. A carreira de Jesus já vai longa e não deixa de ser um exercício engraçado puxar a fita atrás e conhecer todos os resultados contra o Sporting. O seu Sporting, um clube que o abordou em 2013/2014 para lhe oferecer o cargo de treinador. Contas feitas, Jesus ganhou 12 jogos e perdeu 15 num total de 33. Vamos a isto?
A chegada à Primeira Divisão aconteceu em 1995/96, no comando técnico do Felgueiras. A estreia contra os leões foi em Alvalade e foi bem pesada, cortesia de Paulo Alves, Sá Pinto, Pedro Barbosa e Marco Aurélio (0-4). Em casa, a equipa esteve melhor, mas voltou a perder: 0-1, resolveu Emílio Peixe. Em ambas as partidas, o treinador natural da Amadora teve em campo um guerreiro com jeito para a coisa chamado Sérgio Conceição. Vestia a camisola 7.
Seguiu-se o Estrela da Amadora, onde em quatro jogos registou dois empates e duas derrotas. A missão parecia estar a mudar de figurino. Em Setúbal voltou a perder, tudo porque um tal de Jardel fez o que melhor sabia: destruir as defesas rivais. No Vitória de Guimarães, União de Leiria e Moreirense só conheceu o sabor da derrota. A glória teimava em não chegar…
Mas chegou. A primeira vitória de Jesus contra o Sporting chegou pela canhota de um jogador que parecia Jesus. Confuso? Falamos de Zé Pedro, aquele médio com muito toque de bola e bela patada na hora de assaltar a baliza do inimigo. Tinha pinta o esquerdino. Essa primeira conquista aconteceu em fevereiro de 2008. Entre 95 e 2008 foi uma longa viagem.
No Sp. Braga até conseguiu vencer em Alvalade, mas a hegemonia contra o clube que lhe derrete o coração surgiu quando chegou ao Benfica. Jesus já ganhou dez vezes ao Sporting desde que chegou ao Estádio da Luz. Perdeu apenas uma. Vale a pena também acabar com um mito criado pelo próprio: não, Jesus não ganhou “várias vezes em Alvalade com Artur na baliza”. Aconteceu uma vez, em dezembro de 2012. As outras duas vezes deram empate e derrota (Wolfswinkel resolveu de penálti).