Por um lado, a revolta com um erro de arbitragem claro num jogo sem VAR; por outro, o assumir de culpas naquela que foi uma das exibições menos conseguidas desde que Bruno Lage chegou à Luz. A eliminação na Liga Europa após a derrota na Alemanha por 2-0 em Frankfurt com o Eintracht deixou o Benfica resumido à Primeira Liga, naquele que foi desde início o grande objetivo da temporada e aquilo que deu o mote à palavra definida em termos internos para definir o trajeto da equipa: reconquista. 11 letras que, uns minutos antes da chegada do autocarro encarnado à Luz, já estavam na rotunda Cosme Damião enquadradas por várias cheerleaders com bandeiras do clube e uma outra tarja do lado contrário da rotunda com a mesma palavra. No relvado, destacavam-se as cartolinas com a inscrição “Dá-me o 37”. E ainda houve um dado curioso, quando Bruno Lage regressava ao balneário e aceitou o pedido de um adepto ao pé do túnel para levar o cartaz de apoio que tinha feito para o jogo.
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“Eu acredito neste senhor… Gostava que isto chegasse ao balneário”, dizia a cartolina branca com três recortes de imagens do treinador encarnado. Chegou mesmo. O Benfica percebeu da melhor forma a importância da receção ao Marítimo para o que falta do Campeonato e, depois de uma primeira parte onde foi melhor mas com apenas um golo, “atropelou” um conjunto insular que pouco mais fez do que marcar presença na Luz – para se ter noção do que é esta equipa habituada noutros anos a andar na luta por um lugar europeu, fez apenas dois remates enquadrados com a baliza em 360 minutos nos campos de Benfica, FC Porto, Sporting e Sp. Braga. Lage, além da goleada, ganhou opções. Franco Cervi à cabeça, a aposta surpresa desta noite no onze que bisou, mas também Salvio e o próprio Taarabt, que continua a ganhar minutos de competição. “Não abandono ninguém”, tinha dito o técnico antes do jogo a propósito de Jardel e Fejsa. E voltou a repetir, no final do encontro.
O destaque maior, esse, ficou reservado para o nome do costume. E se João Félix, que continua a ser apontado em Itália como possível reforço da Juventus, não passou a Páscoa a ver a Premier League, imitou bem. Dentro e fora de campo: se o primeiro golo que apontou é uma fotocópia a papel químico do primeiro do Liverpool em Cardiff por Wijnaldum este domingo, no final o avançado “seguiu” a flash interview de Bernardo Silva após o triunfo do Manchester City frente ao Tottenham e, depois de elogiar o trabalho coletivo dos encarnados, comentou que quem merecia o prémio de Homem do Jogo era Cervi e não ele, por ter regressado com dois golos. Também aqui, aquele que já é tratado como Mágico na Luz faz a diferença.
Ficha de jogo
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Benfica-Marítimo, 6-0
30.ª jornada da Primeira Liga
Estádio da Luz, em Lisboa
Árbitro: Luís Godinho (AF Évora)
Benfica: Vlachodimos; André Almeida, Rúben Dias (Taarabt, 77′), Ferro, Grimaldo; Samaris, Florentino Luís; Pizzi (Salvio, 79′), Cervi; João Félix (Jonas, 72′) e Seferovic
Suplentes não utilizados: Svilar, Jardel, Gedson Fernandes e Zivkovic
Treinador: Bruno Lage
Marítimo: Charles; Nanu, Lucas Áfrico, Grolli, Rúben Ferreira; Vukovic, René Santos (Gamboa, 79′), Pelágio (Fabrício, 67′); Correa, Barrera (Chico Banza, 58′) e Getterson
Suplentes não utilizados: Amir, Bebeto, Traoré e Johnson
Treinador: Petit
Golos: João Félix (3′ e 64′), Pizzi (49′), Cervi (71′ e 88′) e Salvio (90′)
Ação disciplinar: cartão amarelo a René Santos (39′), Chico Banza (80′) e Fabrício (83′)
Sem contar ainda com o castigado Rafa, o elemento que mais desequilíbrios tem conseguido nas últimas partidas do Benfica (sem contar com a deslocação à Alemanha, onde esteve muito abaixo do habitual rendimento), Bruno Lage tinha duas hipóteses mais “prováveis” para lançar no lugar do internacional português: Taarabt, que parece outro jogador depois de ter sido recuperado pelo atual técnico e que consegue dar outra força pelo corredor central quando é utilizado, e Salvio, ala que deixou boas indicações no regresso à competição frente ao Eintracht (acertou mesmo no poste a poucos minutos do final). O escolhido não foi nem um, nem outro. Nem sequer Zivkovic, outra possibilidade mais remota – três meses depois, Cervi voltou ao onze na Liga.
O argentino, a par do também canhoto Zivkovic e de Salvio, foi um dos mais “prejudicados” com a entrada de Bruno Lage para o comando. Não que o técnico não conte com ele, não que de repente tenha desaprendido o que sabia, mas a ideia e modelo de jogo na era pós-Vitória não encaixa propriamente nas características do pequeno ala nascido em San Lorenzo. Por isso, é apenas Cervi e não Chucky, como era conhecido na Argentina pelo terror que representava para os adversários. Mas nem por isso o Marítimo e os seus defesas tiveram uma noite muito sossegada com o pequeno sul-americano, que bisou na parte final antes de João Félix se ter revelado mais uma vez um pesadelo para o adversário, como se viu desde o início da partida.
Não possuindo dotes de adivinho, alguém esteve a ver o jogo do Liverpool em Cardiff este domingo de Páscoa. Ou os responsáveis da equipa técnica. Ou os jogadores. Ou ambos. Em termos práticos, Pizzi e João Félix vestiram os papéis de Alexander-Arnold e Wijnaldum no lance do primeiro golo dos reds logo a abrir o segundo tempo: canto marcado da direita com cruzamento atrasado e remate fortíssimo na passada sem hipóteses para o guarda-redes. Recentemente, Rui Vitória e Jorge Jesus também tentaram a jogada, antes Camacho trabalhou esses lances, mas o difícil mesmo é interpretar com sucesso perante o aglomerado de jogadores que estão a povoar a área. A dupla que mais golos produziu em conjunto no Benfica conseguiu. E os encarnados passaram para a frente a abrir, quebrando qualquer vestígio de trauma pela eliminação europeia quatro dias antes.
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A chuva aumentava, o vento apareceu também em força sem ser propriamente convidado mas nem por isso a qualidade baixou nos 20 minutos iniciais, com Grimaldo a obrigar Charles a uma defesa apertada (7′) antes da primeira (e praticamente única) iniciativa dos insulares na primeira parte, com Barrera a fazer uma arrancada pela esquerda que terminou com um remate forte pouco por cima (12′). Ato contínuo, Grimaldo foi ganhar uma bola ao último terço mas Seferovic, em boa posição, atirou ao lado (14′) e Pizzi teve uma boa tentativa que passou pouco por cima da trave de Charles (20′). Ao contrário do que se passou por exemplo na Alemanha, o Benfica não ficou à espera do resultado – foi à procura do resultado. Com mais intensidade, com mais velocidade, com melhor circulação de bola. No entanto, nunca aumentou a vantagem mínima.
Grolli, o melhor central do Marítimo que já levava dez ações defensivas pouco depois da primeira meia hora, ainda chegou a colocar a bola na baliza de Vlachodimos mas o lance estava interrompido, com Luís Godinho a considerar que o defesa fez falta sobre o guarda-redes na pequena área no seguimento de um canto (29′). À exceção desse lance, quase zero em termos ofensivos. Por duas razões: incapacidade em conseguiu meter o primeiro passe na zona de construção antes de sair em transições e mérito de Florentino Luís, que foi somando recuperações na sua (extensa) zona de ação. Mas também o Benfica abrandou na frente, apesar de mais uma boa chance para Seferovic visar a baliza de Charles, sem sucesso.
⏰ INTERVALO | Benfica 1 – 0 Marítimo
???? chega ao descanso na frente, com golo fabricado pela "parceria" com maior produção na Liga: Pizzi assistiu Félix (é a 5ª vez na prova)#LigaNOS #SLBCSM #Reconquista #SempreMarítimo pic.twitter.com/Wt7ItIqHzI
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Ferro teve um bom regresso ao onze, Florentino Luís voltou a destacar-se nas recuperações de bola ao lado do “renascido” Samaris, Grimaldo foi o melhor durante o primeiro tempo a defender e a atacar. Em termos defensivos, e depois de cinco jogos consecutivos a sofrer, o Benfica parecia ter conseguido estabilizar um Marítimo com um futebol muito curtinho que explica o porquê de, em vez de estar a lutar pela Europa como é normal, tenta fugir à despromoção (tendo uma almofada mais ou menos confortável de seis pontos para gerir nas últimas quatro jornadas). Assim, e para fechar o encontro, sabia que tinha “apenas” de acelerar um pouco mais na frente para desconstruir uma defesa forte pelo ar mas perdida nas combinações rápidas.
Demorou apenas quatro minutos. João Félix ainda teve uma boa jogada logo a abrir mas seria o “parceiro” Pizzi a apontar o 2-0, recebendo de forma orientada um passe da esquerda numa insistência após canto para rematar cruzado sem hipóteses para Charles, que viu ainda a bola sofrer um desvio em Rúben Ferreira antes de entrar. Se a tarefa já não estava propriamente fácil porque o Marítimo mal chegava ao último terço contrário, a partir tornou-se impossível apesar de faltarem ainda mais de 40 minutos para jogar. E foi o Benfica a aproveitar esse contexto mais favorável para sarar feridas e ganhar força para as quatro jornadas que faltam até ao final do Campeonato, com momentos de grande futebol perante um opositor de rastos.
João Félix, quem mais, agarrou na batuta: primeiro, no seguimento de uma boa combinação pela direita com cruzamento de André Almeida, surgiu na frente do defesa maritimista como mandam as regras (ou como Bruno Fernandes “ensinou” a Luiz Phellype no Sporting, por exemplo) e encostou com classe para o 3-0 (64′); depois, em mais uma aceleração a explorar o espaço entre linhas que os insulares iam deixando perante a mobilidade dos encarnados, viu bem a desmarcação de Cervi na área e o argentino picou por cima de Charles perante a saída do brasileiro (71′). Antes, durante e depois, Seferovic foi confirmando que esta noite era tudo menos sua. E ainda houve tempo para Bruno Lage poupar Félix por questões físicas e Rúben Dias por motivos disciplinares (em risco caso visse amarelo) – a próxima ronda é em Braga no domingo e um triunfo diante dos minhotos será um passo muito importante para garantir o primeiro lugar até ao final do Campeonato. Cervi (88′) e Salvio (90′) fecharam as contas finais de um resultado que premiou a boa exibição do Benfica e a imagem demasiado má do Marítimo.
???????? FINAL | Benfica ???? Marítimo
???? volta a castigar duramente uma equipa madeirense na Luz
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