É uma espécie de maioridade. À 18ª parede, a galeria Underdogs percebeu que já era tempo de organizar um percurso para mostrar a arte que tem feito em Lisboa desde 2013. Chame-se-lhe uma exposição coletiva, com a diferença de que não acontece entre molduras mas espalhada por toda a cidade.

As Public Art Tours arrancam no sábado, dia 21 de março, e são mais um passo no caminho da galeria que abriu pela mão de Pauline Foessel e Alexandre Farto, conhecido como Vhils, para levar a arte urbana para dentro de quatro paredes, e ao mesmo tempo espalhá-la pelas ruas. Depois de uma série de exposições que já trouxeram nomes como Cyrcle e How & Nosm a pintarem fachadas em zonas como Alcântara e Campolide, a galeria acaba de reuni-las num percurso guiado onde se revelam segredos e detalhes de cada trabalho.

O ponto de partida acontece na loja de arte do Mercado da Ribeira, no Cais do Sodré, e segue para o Jardim do Tabaco, onde rapidamente se percebe que estas obras não têm nada de rabiscos desordenados — para quem tem andado desatento e não viu como a arte urbana vai muito para além dos tags — e são antes o resultado de um processo demorado de licenças da Câmara Municipal de Lisboa, pareceres de arquitetos e muito sobe e desce de gruas.

É no Jardim do Tabaco que está um dos trabalhos mais mediáticos de todas as intervenções da galeria: uma colaboração entre o próprio Vhils e o italiano Pixel Pancho, conhecido por desenhar robots enferrujados ou mesmo em decomposição, numa espécie de futuro passado.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Pixel Pancho jardim do Tabaco

Uma das obras de Pixel Pancho no Jardim do Tabaco.

No local, o guia destacado, que é sempre uma das pessoas da galeria, contextualiza a obra dos artistas mas desvenda também alguns pormenores. Neste caso, Pauline Foessel, diretora da Underdogs que fez uma pré-visita para o Observador, conta por exemplo que a casa em betão foi uma dor de cabeça para as brocas com que Vhils e a equipa escavam rostos na parede e que, apesar das dimensões, Pixel Pancho “desenha tudo diretamente na fachada, sem projeção e com o primeiro traço feito a pincel e tinta acrílica, e o resto a spray”.

Diferentes materiais, linguagens e técnicas são mostrados ao longo de cerca de três horas, com obras que passam por artistas brasileiros, como Finok e Nunca, franceses, como Olivier Kosta-Théfaine, alemães, como Clemens Behr, e portugueses, como Mais Menos e AkaCorleone, e que incluem uma paragem para conhecer a própria galeria e ver três curtos vídeos sobre as exposições, os prints e o trabalho na rua.

[jwplatform Bu52y2sj]

“Chamamos-lhe uma tour de arte pública, e não urbana, porque no futuro queremos desenvolver também instalações e esculturas”, diz Pauline. “Não é uma visita turística, é cultural, mas o objetivo também é mostrar algumas zonas de Lisboa que as pessoas geralmente não veem”, acrescenta a diretora, com especial enfoque na zona oriental da cidade, onde se concentram algumas peças. “Queremos chamar a atenção para Marvila, até porque temos lá a galeria e temos visto como as coisas estão a mudar nos últimos dois anos.”

Nem de propósito, é em Marvila que duas senhoras, vendo um pequeno grupo tirar fotografias ao Pedro Álvares Cabral desenhado por Nunca na rotunda da Rua do Vale Formoso de Cima, comentam: “Este está muito bonito. Mas já viram o outro, muito colorido e com papagaios? Também vale a pena.” Estão a falar de Okuda e da sua coroação alternativa do rei Felipe de Espanha. E são pombos, o que não interessa para o caso.

“Esta parte também é muito importante para nós, porque estas pessoas vivem aqui e isto dá uma nova vida aos edifícios que elas veem todos os dias”, comenta Pauline.

Não todos os dias mas uma vez por semana, as visitas acontecem aos sábados à tarde, por marcação e mediante um mínimo de sete inscrições (e um máximo de 15), num mini-autocarro e com um custo de 35 euros por pessoa. Para quem preferir algo ainda mais exclusivo e personalizado, há uma VIP tour individual em sidecar que custa 135 euros. No final, cada participante recebe um mapa com todos os pontos avistados, mapa esse que em breve também estará à venda na loja da Underdogs, para quem se quiser aventurar sozinho.

Nome: Underdogs Public Art Tours
Quando: Todos os sábados das 14h00 às 17h00, mediante pré-reserva até à sexta-feira anterior (às 13h00) ou presencialmente na loja.
Preço: 35€ adultos, 12,25€ até aos 12 anos.
Ponto de encontro: Underdogs Art Store (Time Out Mercado da Ribeira, no Cais do Sodré)
Inscrições: info@under-dogs.net; 21 868 0462