O perfil das etapas enganam e é dessa forma que os corredores também conseguem enganar. Depois de uma etapa com chegada ao Gran Sasso onde imperou a fuga e não houve movimentações entre os candidatos pelo medo também que o vento foi gerando, a tirada entre Terni e Fossombrone deste sábado tinha outro perfil sem chegada a subir mas com montanha que poderia fazer diferenças. Ao contrário do que acontecera na véspera, mesmo não sendo nada decisivo, acabou por fazer. E com vencedores e vencidos pelo meio.

Roglic lançou o caos para lembrar quem se tinha esquecido dele e nem João Almeida resistiu

Como se não bastasse todos os contratempos que marcaram os dias iniciais do Giro, Remco Evenepoel, que se tornou ainda mais um “alvo” por ter chegado ao hotel onde a Soudal pernoitou antes da oitava etapa de helicóptero para evitar um maior desgaste com viagens, já tinha provocado Primoz Roglic antes do Gran Sasso. “Tenho a sensação de que o Roglic está nervoso. Sabe que está a 44 segundos de mim. Eles estão nervosos no pelotão, puxam imenso. É esse o estilo da Jumbo. Vamos ver se me consegue acompanhar. Depois do contrarrelógio e da etapa de anteontem [quarta-feira], acho que sou o ciclista mais forte. Na Catalunha estava atrás, agora estou à frente. Para nós não há stress algum, para eles acho que sim”, atirou.

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Uma fuga de mais de 200 quilómetros para a vitória: Davide Bais ganha no Gran Sasso, João Almeida mantém-se em quarto do Giro

O esloveno não respondeu à imprensa mas guardou a primeira resposta para a estrada. E enquanto lá na frente Ben Healy conseguia isolar-se para a glória ganhando a outros fugitivos como Derek Gee, Filippo Zana, Warren Barguil, Carlos Verona, Mattias Bais (irmão de Davide, que ganhou no Gran Sasso), Toms Skujins, Alessandro Tonelli ou Oscar Riesebeek, mais atrás Roglic cortava em 14 segundos a desvantagem para Remco tendo a seu lado os dois corredores que lideram a Ineos, Tao Geoghegan Hart e Geraint Thomas. João Almeida, que tem andado sempre na roda de um ou outro, também não resistiu ao ataque e ficou com Remco Evenepoel sem que alguém fosse a tempo de desfazer o corte. Aurélien Paret-Peintre caiu para sétimo mas o português manteve a quarta posição, tendo desta feita Roglic à sua frente com menos dois segundos.

Não foi o melhor dia para João Almeida, também não foi o pior dia numa daquelas tiradas que podem trazer mais consequências do que a oitava trouxe. E agora, na antecâmara do primeiro dia de descanso, surgia um novo cenário de um contrarrelógio de 35 quilómetros que poderia causar mais mossa a nível de diferenças no top 10, que partia com Andreas Eknessund da DSM a fazer a despedida da camisola rosa tendo apenas oito segundos de avanço face a Remco Evenepoel. Seguiam-se Roglic (38”), João Almeida (40”), Geraint Thomas (52”), Tao Geoghegan Hart (56”), Paret-Peintre (58”), Aleksandr Vlasov (1.26), Damiano Caruso (1.39) e Lennard Kämna (1.54). E até os tempos referência do primeiro crono eram próximos.

“É um percurso bom, com uma boa estrada como vimos no reconhecimento. Ausência de Ganna? Pode mudar algo na classificação, foi uma pena ter ido para casa com Covid-19. Temos na mesma o Remco, o Roglic ou o Kung mas sem ele não vai ser o mesmo espectáculo”, dizia João Almeida na antecâmara de uma etapa em contrarrelógio que teria o português a sair às 15h19 como quarto a contar do fim com estrada molhada, chuva e a temperatura também a descer face ao que estava no arranque deste dia, sendo que se percebia com a chegada dos principais candidatos que se desenhavam novas trajetórias mais pela zona das bermas que permitiam fugir dos troços mais molhados ao longo dos 35 quilómetros de contrarrelógio.

Quando João Almeida partiu, logo a seguir de Gerain Thomas e Tao Geoghegan Hart e antes dos favoritos Primoz Roglic e Remco Evenepoel, Stefan Kung tinha o melhor tempo com 41.28 seguido de muito perto por Bruno Armiral (mais quatro segundos), sendo dois corredores que nesta fase já não contam em termos de geral individual. Mais acima na classificação, Thymen Arensman passou com mais 20 segundos, ao passo que Jay Vine fez mais 48 segundos Assim, era uma questão de tempo até perceber o que poderia trazer esta etapa não só a nível de vitória mas também de distâncias para o que falta do Giro. Analisavam-se as trajetórias em piso não tão molhado, pontos de travagem antes das curvas e a técnica em linha mas sem que se percebesse quem poderia sair a sorrir mais no final. As horas das decisões estavam a chegar com mais chuva.

Aos 13 quilómetros, João Almeida estava com o nono tempo, a perder cerca de 21 segundos para as duas unidades da Ineos que em termos virtuais o deixaria na quinta posição da geral caso Leknessund saísse mesmo das contas mas com Vlasov muito próximo do português. Na segunda contagem, aos 28,8km, eram já 33 segundos de diferença para Thomas, sendo que qualquer que fosse o resultado final este não seria um contrarrelógio com a qualidade do primeiro em que acabou na terceira posição. Mas as variações tocavam a todos e, depois de um arranque canhão, também Remco Evenepoel foi perdendo um pouco de fulgor.

Tao Geoghegan Hart, vencedor da prova em 2020 quando João Almeida começou a dar nas vistas, ganhou a liderança provisória do contrarrelógio com menos dois segundos do que Kung (41.26), sendo que Geraint Thomas conseguiu ser mais rápido do que o companheiro da Ineos por apenas um segundo (41.25). Já se olhava para João Almeida, o próximo a chegar, numa perspetiva de tentar minimizar as perdas para a equipa britânica. De forma provisória ficou em sétimo com 41.59, perdendo pouco mais de 30 segundos quando se chegou a temer que as perdas fossem bem maiores mas sem evitar a descida ao quinto lugar. Primoz Roglic também se juntou à “confusão”, com uma quinta posição com mais 16 segundos do que Thomas, e Remco ganhou o contrarrelógio mas com apenas um segundo de vantagem, abaixo do esperado – e com o belga a não conseguir disfarçar no final a frustração de não ter marcado grandes diferenças nos tempos.

Contas feitas, Remco Evenepoel voltou a assumir a camisola rosa da liderança tendo agora 47 segundos de avanço sobre Gerain Thomas, 48” de Primoz Roglic e 50” de Tao Geoghegan Hart. João Almeida desceu à quinta posição a 1.07 da liderança mas ainda a menos de 20 segundos da segunda posição, ficando com a mesma diferença do antigo primeiro classificado, Andreas Leknessund (que para o que se esperava fez um bom contrarrelógio). Fecham o top 10 Aleksandr Vlasov (1.48), Damiano Caruso (2.13), Lennard Kämna (2.37) e Pavel Sivakov (3.00), o terceiro elemento da Ineos que tem ainda Thymen Arensman no 13.º lugar (3.17) e Lauren De Plus na 14.ª posição (3.21). Esta segunda-feira o Giro tem o primeiro dia de folga.