Nenhuma competição serve como salvação de uma temporada, dirá qualquer treinador. Ainda assim, esta quinta-feira, seria sempre difícil para Roger Schmidt não assumir que a Liga Europa poderá servir como salvação de uma temporada que já não tem Taça da Liga, já não tem Taça de Portugal e dificilmente terá Campeonato. O vazio interno pode dar lugar ao sucesso europeu — um sucesso europeu que escapa há décadas e que poderia, mais uma vez, salvar a temporada.

Para isso, porém, era preciso eliminar o Marselha e seguir para as meias-finais: que até podem valer o apuramento direto para a fase de grupos da Liga dos Campeões da próxima temporada devido às mudanças no formato das competições europeias. Depois de afastar Toulouse e Rangers, o Benfica defrontava uma equipa que vinha de quatro derrotas consecutivas e que já vai no terceiro treinador da época. Contudo, também os encarnados vinham de dois jogos seguidos sem ganhar, dois dérbis, e de uma semana particularmente traumática em que ficaram sem Taça de Portugal e muito longe do Campeonato. E Roger Schmidt assumia que os encontros contra o Sporting poderiam fazer mossa.

Ficha de jogo

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Benfica-Marselha, 2-1

Quartos de final da Liga Europa

Estádio da Luz, em Lisboa

Árbitro: Michael Oliver (Inglaterra)

Benfica: Trubin, Alexander Bah, António Silva, Otamendi, Fredrik Aursnes, Florentino, João Neves, Di María, Rafa, David Neres (João Mário, 71′), Tengstedt (Marcos Leonardo, 71′)

Suplentes não utilizados: Samuel Soares, André Gomes, Álvaro Carreras, Morato, Arthur Cabral, Kökçü, Rollheiser, Tomás Araújo, Tiago Gouveia

Treinador: Roger Schmidt

Marselha: Pau López, Mbemba (Emran Soglo, 68′), Leonardo Balerdi, Samuel Gigot, Quentin Merlin (Ndiaye, 45+2′), Veretout, Luis Henrique, Kondogbia, Amine Harit, Aubameyang, Moumbagna (Ounahi, 54′)

Suplentes não utilizados: Rubén Blanco, Joaquín Correa, Said M’Madi, Raimane Daou, Michael Amir Murillo

Treinador: Jean-Louis Gasset

Golos: Rafa (16′), Di María (52′), Aubameyang (67′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a David Neres (18′)

“A Liga Europa é uma grande competição. Também queríamos estar na Liga dos Campeões, mas reconhecemos a importância desta Liga Europa, sobretudo quando vemos as equipas que marcam presença na competição. Quando jogamos a um nível elevadíssimo, conseguimos alcançar excelentes resultados e agora temos mais experiência a nível internacional. As duas derrotas que sofremos na última semana foram muito duras, os jogadores tentaram de tudo para vencer, mas não foi possível. Mas sinto que estamos preparados e que os jogadores estão muito focados e motivados”, disse o treinador alemão na antevisão da partida, aproveitando para desvalorizar os rumores que têm ligado José Mourinho ao futuro do Benfica e que levaram o clube a emitir um comunicado nos últimos dias.

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Neste contexto, Schmidt não mudava nada no onze que foi titular nos dois jogos contra o Sporting e mantinha Tengstedt como referência ofensiva, para além de Rafa, Neres e Di María e da dupla formada por Florentino e João Neves no meio-campo. Do outro lado, num Marselha muito fustigado por lesões, o veterano Jean-Louis Gasset tinha Moumbagna, Aubameyang e Amine Harit no trio ofensivo e o ex-FC Porto Mbemba no eixo defensivo.

O Benfica não demorou muito a assumir o controlo da partida, com mais bola e maior presença do meio-campo adversário, e Bah poderia ter inaugurado o marcador logo nos instantes iniciais num lance em que falhou o desvio na área depois de um cruzamento vindo da direita (6′). O Marselha começou a conseguir soltar-se à passagem dos primeiros 10 minutos, com Tengstedt a fazer um corte providencial junto ao poste da baliza de Trubin depois de uma espécie de assistência de Aubameyang (12′), e Amine Harit trocou as voltas a Florentino antes de rematar contra António Silva (14′).

Logo depois, porém, os encarnados conseguiram mesmo abrir o marcador. Num desenho ofensivo muito bem trabalhado, tudo começou com Rafa, que soltou Neres e viu o brasileiro combinar com Tengstedt, que segurou a voltou a descobrir o mesmo Rafa: na área, o avançado português segurou e atirou rasteiro e colocado para bater Pau López (16′). O Marselha nunca conseguiu propriamente reagir à desvantagem, terminando a primeira parte sem uma ocasião clara de golo, e tinha como grande inconformado o marroquino Amine Harit, que estava a tornar a noite de Florentino muito mais difícil do que o esperado.

Até ao fim da primeira parte, as verdadeiras aproximações perigosas à baliza pertenceram ao Benfica: Tengstedt recebeu na área, mas permitiu a antecipação da defesa francesa (24′), Neves rematou de longe para Pau López encaixar (32′) e Neres atirou ao lado de primeira quando estava completamente sozinho (40′). Já nos descontos, Jean-Louis Gasset foi forçado a realizar uma substituição forçada por lesão grave de Quentin Merlin, que saiu de maca e deu lugar a Ndiaye.

Ao intervalo, apesar de não estar a ser brilhante, o Benfica estava a vencer o Marselha de forma justa e ia tornando claro que era superior ao adversário sempre que o pretendia: Neves estava a assinalar outra exibição de luxo, Rafa reaparecia na sua melhor versão depois de dois dérbis em que esteve muito apagado e Bah, tal como tem vindo a acontecer nos últimos jogos, mostrava-se muito certinho tanto a defender como a atacar.

Nenhum dos treinadores fez alterações ao intervalo — onde decorreu a emocionada homenagem a Sven-Göran Eriksson —  e o Benfica precisou de pouco mais de cinco minutos para aumentar a vantagem. Já depois de rematar por cima (51′), Di María conduziu um lance muito bem construído pelos encarnados, combinou com Neres e aproveitou a assistência perfeita do brasileiro para bater Pau López já na área (52′).

Jean-Louis Gasset reagiu com uma substituição, lançando Ounahi, mas a reação do Marselha não aparecia e até era o Benfica que ameaçava novo golo, com Tengstedt a rematar ao lado na área depois de um passe de Aursnes (55′). Bastou um erro, porém, para relançar tudo: Ounahi ganhou no meio-campo e tirou um passe vertical à procura de Aubameyang, que aproveitou o alívio falhado de António Silva para arrancar à direção à baliza e reduzir a desvantagem com um remate cruzado à saída de Trubin (67′).

Roger Schmidt respondeu com duas alterações, lançando Marcos Leonardo e João Mário, e o Benfica conseguiu colocar algum gelo no jogo e controlar o ímpeto do Marselha, que ainda teve aproximações perigosas à baliza de Trubin logo depois do golo. Até ao fim, os encarnados foram pressionados essencialmente pelos adeptos: desde assobios sempre que os franceses atacavam, assobios quando Di María mostrava que estava completamente esgotado apesar de não ter sido substituído e assobios logo após o apito final.

No fim, o Benfica venceu o Marselha e segue em vantagem nos quartos de final da Liga Europa, com a segunda mão a disputar-se já na próxima semana no Vélodrome. Apesar de não ter marcado nenhum golo, David Neres esteve no lance dos dois golos dos encarnados e foi constantemente um dos melhores elementos da equipa até ser substituído, mostrando-se um verdadeiro bálsamo de qualidade para as feridas que ainda parecem muito abertas.