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A equipa que andava a banhos mudou com a chegada de um turco (a crónica do Boavista-Benfica)

Aktürkoglu é um craque mas a maior magia que saiu daquela varinha foi dar a largura que jogo de Schmidt há muito perdera. Lage acrescentou outra "poção": colocar os jogadores nas suas posições (0-2).

Pavlidis e Kökçü marcaram dois dos três golos do Benfica no Bessa após assistências de Aktürkoglu
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Pavlidis e Kökçü marcaram dois dos três golos do Benfica no Bessa após assistências de Aktürkoglu

Pavlidis e Kökçü marcaram dois dos três golos do Benfica no Bessa após assistências de Aktürkoglu

O discurso mudou, a realidade aproximou o que se faz em campo do que se sente nas bancadas, os jogadores começaram também a pisar posições em que se sentem mais confortáveis. De forma quase “natural”, também os resultados apareceram. A troca técnica promovida por Rui Costa, com o consequente regresso de Bruno Lage ao banco, foi como uma mola estabilizadora após um início de temporada conturbado mas aquilo que se viu este fim de semana é que o momento que se vive na Luz tem epicentros diferentes que vão criando pequenos terramotos em planos distintos – capazes, por exemplo, de fazerem com que o líder da Assembleia Geral, Fernando Seara, se demitisse em plena reunião magna de aprovação da revisão estatutária. Mais do que nunca, os resultados no relvado influenciam o que se passa fora dele, sendo que o principal desafio do novo timoneiro é escudar o balneário de tudo o que funcione como potencial ruído que venha do exterior.

Benfica vence Boavista no Bessa, soma terceira vitória seguida e sobe ao terceiro lugar da Liga

“Assembleia Geral? Foi um momento à Benfica mas o que me interessa neste momento é estarmos determinados para o que acontece dentro de campo. A minha missão é treinar e blindar a equipa do que acontece fora. Marcar golos, conquistar o maior número de pontos, é essa a nossa preocupação. Temos de jogar da forma que os nossos adeptos gostam”, comentara na antecâmara do fim da sexta jornada da Liga. “Não temos tido tempo para nada. Vou dizer o que foram as minhas últimas horas: cheguei na sexta-feira à tarde, treinámos, preparei o jogo, cheguei a casa às 22h com os meus filhos já a dormir, no outro dia saí às 6h e cheguei às 20h. Vamos seguir para a concentração para seguir para estágio. A minha atenção tem sido para isto, olhar para o jogo, fazer análise dos aspetos que temos de melhorar, prolongar os nossos bons momentos no jogo e preparar a melhor estratégia”, acrescentou Bruno Lage, explicando esta “corrida contra o tempo”.

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“O meu papel neste momento é o de continuar a ganhar jogos e criar a dinâmica de vitória, o que queremos é juntar uma nova vitória e fazer com que a equipa cresça, que os nossos bons momentos se prolonguem mais no tempo. Só assim se conquista mais os adeptos. Não é por eu correr para os adeptos, é a jogar bom futebol, ofensivo, atrativo, criando várias oportunidades. Esse tem de ser o papel do treinador e dos jogadores. Os adeptos foram importantes, no Estádio da Luz e os que nos seguiram na Champions. Os adeptos do norte também vão ser importantes agora. Quando a onda começa empurra a equipa para a vitória. Sei disso porque vivi e joguei com estádios vazios, é uma diferença enorme”, apontara, minimizando aquelas que foram as reações aos golos e aos triunfos diante do Santa Clara e do Estrela Vermelha, na Sérvia.

A temporada será uma corrida de fundo, Bruno Lage tem de trabalhar ao sprint e sem margem de erro ou distrações. Em busca de uma terceira vitória que voltasse a contribuir para a diminuição do ambiente mais crispado, o foco entroncava em três pontos: “Primeiro ponto, o Boavista é uma equipa aguerrida, com muita velocidade e com grande espírito. Depois, jogar no Bessa tem sido difícil para o Benfica. Em terceiro lugar, não há mudanças de chip, só há um chip que é jogar com qualidade e conquistar os três pontos. Não temos tempo para mudar chips da Champions para o Campeonato”. A teoria estava lá, em busca de uma interpretação prática da mesma no campo onde os encarnados perderam nos descontos da primeira jornada da última temporada. E bastou apenas ser competente e sério na abordagem para “facilitar” tudo o resto.

O Benfica não tem propriamente “culpa” pelo momento que o Boavista atravessa mas foi pela forma como encarou o encontro desde início que tornou evidentes as diferenças atuais entre ambos os conjuntos. Houve velocidade, tentativas de variação rápidas, jogo entre linhas, criatividade sobretudo do meio-campo para a frente. Houve, mais uma vez, Aktürkoglu. O internacional turco conhecido pela varinha com que festeja os golos à Harry Potter acrescenta muito à equipa em todas as vertentes individuais mas dá a largura ao jogo ofensivo que há muito Schmidt perdera. A isso, Bruno Lage juntou a “poção” mais simples: colocar os jogadores nas suas posições, com os rendimentos de Florentino Luís e Kökçü a subirem a pique com essa “novidade” de passarem a contar com o elo que torna toda a equipa mais forte, Aursnes. Se a AG de sexta-feira vai ser mais ou menos calma, ninguém sabe, mas se for pelo futebol tudo vai voltando ao “normal”.

Ficha de jogo

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Boavista-Benfica, 0-3

6.ª jornada da Primeira Liga

Estádio do Bessa XXI, no Porto

Árbitro: João Pinheiro (AF Braga)

Boavista: Tomé Sousa; Pedro Gomes (Augusto Dabó, 81′), Filipe Ferreira, Bruno Onyemaechi, Joel Silva; Ibrahima (Marco Ribeiro, 76′), Vukotic (Tomás Silva, 81′), Seba Pérez; Salvador Agra, João Barros (Gonçalo Miguel, 57′) e Bozeník

Suplentes não utilizados: César, Namora, Tiago Machado, Alex Marques e Leo Ferreira

Treinador: Cristiano Bacci

Benfica: Trubin; Tomás Araújo (Kaboré, 88′), António Silva, Otamendi, Álvaro Carreras; Florentino Luís, Aursnes (Leandro Barreiro, 78′); Di María (Prestianni, 78′), Kökçü, Aktürkoglu (Amdouni, 71′) e Pavlidis (Arthur Cabral, 88′)

Suplentes não utilizados: Samuel Soares, Beste, Rollheiser e Schjelderup

Treinador: Bruno Lage

Golos: Pavlidis (11′), Kökçü (31′) e Arthur Cabral (90+1′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Ibrahima (69′) e Pedro Gomes (77′)

Com Tomás Araújo sem receio de assumir um papel de lateral e não defesa direito e com Aursnes de volta às opções iniciais jogando naqueles que são os melhores terrenos para as suas características (caindo de quando em vez no lado direito para dar jogo interior a Di María), o Benfica não demorou a assumir as rédeas do jogo para retirar a única coisa que restava a um Boavista envolto em lesões graves, problemas de última hora e muita juventude chamada para cobrir os buracos no plantel: a esperança. Um desentendimento entre Kökçü e Aktürkoglu na sequência de um canto ainda deu oportunidade a uma saída rápida de Salvador Agra que terminou com um remate ao lado quando tinha Bozeník em melhor posição (3′) mas essa seria uma mera exceção na regra que rapidamente se foi instituindo no Bessa com os resultados como uma questão de tempo.

[Clique nas imagens para ver os melhores momentos do Boavista-Benfica em vídeo]

Aktürkoglu, quase de forma inevitável, deixou o primeiro sinal de perigo depois de uma diagonal nas costas dos centrais axadrezados que terminou com uma tentativa de chapéu travado por Tomé Sousa, guarda-redes de apenas 17 anos que se tornou o mais novo de sempre como titular num jogo da Primeira Liga quando foi lançado na Amadora (7′). Pouco depois, Kökçü, que mesmo atuando mais descaído sobre a esquerda como interior continua com confiança para dar e vencer, arriscou a meia distância para nova defesa do guardião do Boavista (10′). À terceira seria mesmo de vez, com Álvaro Carreras a carregar bem o jogo pela esquerda, Aktürkoglu a inventar espaço numa cabine telefónica em mais um toque de magia e Pavlidis a surgir de forma oportuna na pequena área para desviar o cruzamento atrasado na pequena área para o 1-0 (11′).

Ainda houve alguns pequenos e momentâneos erros na saída na pressão alta que foram levando depois a zonas descobertas aproveitadas pelos médios do Boavista para testarem a meia distância, como aconteceu com Vukotic e Seba Pérez para defesas de Trubin (18′ e 25′), mas bastava haver pequenas acelerações ou na construção a partir de trás ou na projeção da equipa no último terço para o conjunto encarnado destapar todas as (muitas) limitações dos axadrezados. O vencedor parecia logo aí encontrado, o volume do resultado estava ainda por apurar. Kökçü, já depois de duas oportunidades flagrantes falhadas por Pavlidis que seriam depois anuladas por fora de jogo, aumentou após nova assistência do compatriota Aktürkoglu (31′). O ala que chegou do Galatasaray ainda teve um remate a passar perto do poste após uma diagonal da esquerda para o meio mas o 2-0 subsistiu até ao intervalo numa partida que em 45 minutos estava “resolvida”.

Sem alterações em nenhuma das equipas, a segunda parte seria aquilo que o Benfica quisesse perante a falta de argumentos do Boavista (que não significa falta de vontade, entrega ou espírito de sacrifício de quem joga mas sim escassez de quantidade e qualidade de opções como reflexo de um clube de problema em problema). Tomé, logo a abrir, tirou a Tomás Araújo e Otamendi a hipótese do 3-0 na sequência de um canto (47′). Di María, numa diagonal da direita para o meio antes do remate em jeito que passou muito perto do poste, teve também a sua ameaça (53′). Aktürkoglu, lendo bem o atraso defeituoso de Pedro Gomes, apareceu isolado frente a Tomé mas arriscou mais uma vez o chapéu que ficou nas malhas de cima da baliza (58′). Era só mesmo acelerar para que um tabuleiro já desequilibrado ficasse ainda mais “inclinado”.

Depois, começou a faltar gasolina. Ainda houve dois/três cortes vitais da defesa do Boavista numa altura em que tentava subir linhas e o Benfica procurava mais a profundidade mas nem os encarnados foram capazes de manter a mesma intensidade com e sem bola nem os axadrezados encontraram capacidade para deixarem outra imagem em termos ofensivos apesar de um desvio de cabeça de Augusto Dabó após canto para as mãos de Trubin (86′). Ainda assim, e já em período de descontos, surgiu o 3-0 final com Arthur Cabral, acabado de entrar, a receber um passe longo na profundidade, a ganhar em termos físicos na área a um esgotado Bruno Onyemaechi e a rematar cruzado sem hipóteses para Tomé, “selando” a vitória (90+1′).

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