As novas tecnologias, os voos ‘low-cost’, a adesão à União Europeia e as mudanças no mercado de trabalho mudaram o fenómeno da emigração portuguesa, que hoje tem mais opções de escolha, mas também novos desafios, defende o Observatório da Emigração.

Em entrevista à agência Lusa, Cláudia Pereira, investigadora permanente do Observatório da Emigração, começou por apontar que na década de 1960 Portugal era um país diferente do que é hoje, já que tinha uma população muito pouco qualificada e uma emigração mais diversificada, fruto do país ainda não ter aderido à União Europeia.

“Havia os países que recrutavam os emigrantes, como o Brasil, a Venezuela, Estados Unidos [da América], Canadá, e depois havia os países para onde conseguiam entrar, como França e Alemanha, portanto nesse sentido era mais diversificada”, explicou.

Cláudia Pereira diz mesmo que há um antes e um depois da adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia (CEE), já que a abertura para a Europa, e a maior facilidade de circulação, altera os destinos dos portugueses, aproximando-os de países como o Luxemburgo, a França ou a Suíça.

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“Países como o Brasil ou os Estados Unidos deixaram de ser tão atrativos porque por muito que aceitassem imigrantes, eram sempre mais fechados com os países europeus e a emigração portuguesa foi-se tornando cada vez mais europeia”, adiantou a investigadora.

Comparando as dificuldades sentidas pelos emigrantes da década de 1960 com as dos emigrantes da atualidade, Cláudia Pereira dá como exemplo as comunicações, sublinhando que dantes eram sobretudo feitas à base de carta e telefone.

“Hoje é muito mais fácil comunicar todos os dias e até com imagem, por exemplo com o ‘skype’, e isso diminui os custos emocionais de emigrar”, sublinhou.

Por outro lado, as viagens ‘low-cost’ ajudaram a diminuir o intervalo de tempo passado entre cada visita à terra natal, fazendo com que seja possível vir a Portugal entre cada dois ou três meses.

“Outra facilidade é desde logo na saída: a escolha do país para onde se vai, o trabalho, o mercado é muito mais competitivo porque há mais gente, mas também há mais hipóteses, mais vagas de trabalho disponíveis”, destacou.

Não quer isto dizer, frisou a investigadora, que não continuem a haver dificuldades, já que emigrar “nunca é um processo fácil” e quem emigra passa sempre por ter de encontrar casa, integrar-se num mercado de trabalho mais competitivo, aprender outra língua, mesmo quando vai para um trabalho qualificado.

A propósito da questão da língua, a investigadora lembrou que nos anos 60 havia muito menos recursos e as pessoas não tinham como aprender línguas, dizendo mesmo conhecer casos de emigrantes que ainda hoje não falam a língua do país de destino, mesmo depois de já lá viverem há mais de 20 anos.

“Isso é algo que é muito mais difícil de acontecer hoje porque há uma maior competitividade no mercado de trabalho, enquanto antes isso funcionava na base de redes familiares e de amigos”, apontou.

No que diz respeito à realidade do mercado laboral, Cláudia Pereira diz que atualmente tanto há o caso do emigrante que sai do país com vista a um emprego na sua área, como há quem, apesar das qualificações, agarre o primeiro emprego que apareça, independentemente da área.

Uma realidade que leva a investigadora a sublinhar que apesar dos emigrantes de hoje serem mais qualificados do que os emigrantes da década de 1960, a taxa de emigração dos qualificados apesar de tudo é menor do que a população qualificada.