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Tomicornio Prod

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Adeus benji price, olá João Maia Ferreira: "Porque é que não posso usar o meu nome para rimar em cima de um beat dos anos 80?"

Depois de Conan Osíris, cruzou-se com Alex D'Alva Teixeira e apresenta o segundo single de uma nova fase. O álbum “O Lobo Um Dia Irá Comer a Lua” está a caminho e ao Observador o músico abre o jogo.

O processo tem vindo a acontecer ao longo do último ano, mas materializa-se cada vez mais, agora que se aproxima o primeiro álbum em que o músico natural de Torres Novas assume o nome próprio. O Lobo Um Dia Irá Comer a Lua chega nos próximos meses e esta sexta-feira, 19 de abril, é a vez do segundo single. Depois de partilhar Gárgulas com Conan Osíris, desta vez convocou Alex D’Alva Teixeira para Impala.

Deu-se a conhecer no rap como benji price, mas João Maia Ferreira pretende ser cada vez mais livre. De géneros musicais e de cânones, de egos e normas, de expetativas e categorias. Está numa jornada de procura de uma autenticidade que se começa a revelar na sua música — cujo espetro se tem vindo a expandir, com sonoridades eletrónicas ou indie rock a entrarem definitivamente na sua palete de tons — como mostrou na versão de Saber Amar, no recém-lançado álbum de tributo aos Delfins.

Em primeira mão para o Observador, João Maia Ferreira abre o jogo e explica o que o levou a abdicar do seu nome artístico e o que podemos esperar do novo álbum.

“O rap é uma cultura muito competitiva e tóxica”

Estávamos em 2017 e o mundo do hip hop em Portugal estava prestes a mudar. ProfJam inaugurara a sua nova editora, intitulada Think Music, no ano anterior, com a sua Mixtakes. E a profecia de se tornar o “prof dos putos da nova gen”, como já havia imortalizado em 2013 no tema Mambo Nº1, com Mike El Nite, estava à beira de se concretizar.

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Uma das figuras que apareceram nesse ano de 2017 oriundas do covil da Think Music — editora e coletivo vanguardista, de ouvidos postos no que de mais fresco se fazia no rap norte-americano, por oposição ao muito tradicional e conservador rap português — foi precisamente benji price.

Totalmente desconhecido, sem dar a cara nem contexto, destacou-se logo pela maneira fluida e original como conjugava as palavras, com muitos anglicismos pelo meio. O primeiro tema, 40 Oz. Freestyle, um rascunho entretanto apagado do catálogo, talvez não fosse para todos os ouvidos, é certo — mas era impossível não reconhecer a qualidade da escrita e a forma disruptiva como os versos eram apresentados. Nunca tínhamos ouvido nada assim em português.

"Quando me cruzei no estúdio com ele [Conan Osíris], perguntei-lhe à descarada: ‘queres fazer um som comigo, importas-te?’"

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Ao longo dos anos, embora permanecesse sobretudo na sombra, o público foi-se apercebendo do contributo essencial de benji price na edificação da Think Music. Enquanto produtor, era um nome praticamente omnipresente nos créditos de todas as faixas e discos lançados. Além disso, assumia um terço da gestão do projeto, ao lado de ProfJam e do agente Nelson Monteiro. Não é algo de somenos — a Think Music revolucionou o circuito do rap em Portugal, abrindo caminho para novas sonoridades, estéticas visuais e formas de rimar, quebrando com os padrões há muito em vigor dentro do movimento. Foi um daqueles momentos que definem um “antes” e um “depois”.

benji price viria a unir-se ao parceiro ProfJam para o álbum SYSTEM (2020), uma obra-prima de rimas e flows inspirada sobretudo pelo universo de ficção científica de Matrix; e, já depois do fim da Think Music, estrear-se-ia a solo com o álbum ígneo (2022). Já nessa altura pensava em assumir o seu nome verdadeiro. benji price havia sido uma sugestão de ProfJam, não havia nenhuma ligação particularmente profunda ao nome. Mas era uma das tais regras não escritas do rap: todos devem ter um nome artístico.

“Nunca pensei: vou utilizar este nome artístico porque é muito fixe, porque é mesmo aquilo que quero. Para mim sempre foi algo um pouco artificial”, explica João Maia Ferreira. “Havia alguma dissociação em termos mentais. Sinto que a maior parte das pessoas só me via estritamente sob essa lente. benji price não é uma pessoa, é um rapper. E especialmente aliado ao facto de nunca ter dado muitas entrevistas, de nunca ter sido muito interventivo publicamente, de nunca ter dado muitos concertos, o único contacto que as pessoas tinham comigo era através da música que eu lançava — e do meu nome. E comecei a achar isso extremamente redutor. Pensei: não quero ser só isto. E sentia que já me tinha metido a mim mesmo nessa caixa. Ou seja, não ia conseguir alterar aquilo. Tinha mesmo de dizer às pessoas: eu existo além disto.”

[“Impala”, com Alex D’Alva Teixeira:]

Foi pai no ano de ígneo, o que só reforçou ainda mais o desejo de se livrar do peso que o nome benji price carregava. Inicialmente, chegou a pensar fazer uma trilogia de discos com o nome artístico. Mas rapidamente percebeu que este terceiro álbum já era fruto de uma nova fase. “Era importante mudar a página e iniciar um novo capítulo. Não queria mesmo perpetuar uma coisa com a qual já não me sentia confortável. A paternidade só reforçou mais a minha necessidade de ser autêntico, de passar um bom exemplo para o meu filho, de que nos devemos sentir confortáveis na nossa pele, e devemos referir-nos a nós mesmos da forma que queremos. Devemos mesmo ser quem nós queremos ser. E se o que quero ser é eu mesmo, não quero ser outra coisa, por consequência não posso utilizar mais um nome artístico.”

A par disso, João Maia Ferreira diz que a sua própria saúde mental estava interligada a esta mudança. “Muitas vezes passo por fases extremamente depressivas e de auto-sabotagem, de não gostar de quem sou e de como sou. São obstáculos que tenho de ultrapassar. Essa auto-aceitação e auto-apreciação passam também por gostar da minha identidade e não querer ter outra. Esse trabalho de mim próprio sinto que também passa por isto, por ter aí o meu nome exposto na montra.”

Apresentar-se como benji price fazia com que estivesse na “caixinha” chamada rap, com tudo o que isso implica. E João Maia Ferreira começou a identificar-se cada vez menos com muitos dos padrões do género, que vive quase num circuito à parte da música no geral.

“O rap é uma cultura muito competitiva e tóxica. Existe muito uma mentalidade de macho alfa, de dizer ‘eu sou o melhor, o mais forte e o mais incrível e bonito, e sou quem tem mais dinheiro’. E não quero acrescentar mais a isso. Quando me removi desse tipo de pensamento, tornei-me uma pessoa melhor. Porque só me tornei essa pessoa quando fui para o hip hop, na altura da Think Music. E dei por mim a pensar: não sou esta pessoa. Genuinamente que não quero saber do sucesso, das posses e dos feitos dos outros. E houve uma altura em que isso me começou a importar, só que isso não é quem eu sou, não é quem era antes nem quem sou agora. Então tive de fazer aqui um grande trabalho de recondicionamento mental para me tirar desse buraco em que sinto que me enfiei e em que também me enfiaram um bocadinho.”

“Se for só superficial, é divertido, está tudo bem. Até é um dos pilares. Mas quando isso começa a entrosar-se com a tua personalidade e passa a ser algo real, começa a tornar-se problemático. E sinto que, comigo, se tornou problemático. Sinto que no hip hop português as pessoas levam-se muito a sério e eu não me levo assim tanto a sério."

O espírito competitivo inerente à cultura hip hop — que tem tudo a ver com as suas raízes, das rivalidades entre gangues de rua na Nova Iorque dos anos 70, que transpostas para a arte perderam a violência mas mantiveram a competição no ADN, desde as batalhas de rap aos concursos de breakdance, passando pela essência do graffiti e pelas disputas entre DJs — acabou por afastar João Maia Ferreira, mesmo que o próprio admita que possa ter uma componente de entretenimento saudável.

“Se for só superficial, é divertido, está tudo bem. Até é um dos pilares. Mas quando isso começa a entrosar-se com a tua personalidade e passa a ser algo real, começa a tornar-se problemático. E sinto que, comigo, se tornou problemático. Sinto que no hip hop português as pessoas levam-se muito a sério e eu não me levo assim tanto a sério. E dei por mim a levar-me a sério de mais. Nada contra, adoro quase todas as pessoas que estão dentro do hip hop nacional. Ou seja, não sinto que isto seja um problema individual. É um problema coletivo, é algo sistémico. Não estou a dizer que este ou aquele é um egocêntrico e está a causar este problema. Não, a culpa é distribuída por todos. Isto em algum ponto foi institucionalizado e as pessoas novas que vão entrando herdam isso e tornam-se assim e nem sabem bem porquê. Precisei de me afastar disso.”

Ainda assim, o músico sublinha que esta mudança de nome não tem a ver com o facto de já não se rever naquilo que fez. “É sempre importante fazer a ressalva de que não estou a desdenhar o que fiz enquanto benji price. Adoro aquilo tudo e estou extremamente orgulhoso, desde as coisas iniciais às mais recentes. São coisas que continuo a tocar em concertos. Não quero nunca passar a impressão de que estou arrependido de alguma coisa, ou de que alguma forma não me revejo no que fiz. Revejo-me no que fiz, continuo a erguer e a abanar essa bandeira, mas simplesmente chegou ao fim da linha, a um ponto de término que não valia a pena arrastar mais.”

“Não quero ser o benji price para o rap, e o não sei quem para o rock’n’roll”

João Maia Ferreira nunca quis ser apenas um rapper — nem sequer um produtor de hip hop. Aliás, a sua primeira ligação à música, depois de aprender a tocar guitarra no conservatório, foram experiências em bandas de metal. Sempre se movimentou por estúdios caseiros e aos poucos foi aperfeiçoando a arte da produção. A sua reaproximação ao rap, pois já tinha sido um ouvinte assíduo numa fase mais precoce da sua vida, só se deu em 2012, quando Kendrick Lamar lançou good kid, m.A.A.d city e João Maia Ferreira descobriu uma nova geração e corrente de artistas que o fizeram mergulhar a fundo neste universo e a iniciar os seus primeiros projetos no hip hop.

Ao longo dos últimos anos, foi-se apercebendo de que estava preso a uma categoria e sentia a urgência de se libertar. “Quero deixar para mim a possibilidade de se eu quiser lançar um álbum de guitarra acústica ou música eletrónica… Quero poder fazê-lo com o meu nome e as pessoas poderem reconhecer que isto é tudo da mesma pessoa. Não são projetos distintos, não estou a vestir indumentárias diferentes. Não quero ser o benji price para o rap, e o não sei quem para o rock’n’roll. É desdobrar-me de mais, não tenho cabeça para isso. E no meu nome cabe tudo.”

"Já queria fazer qualquer coisa com o Alex há algum tempo, adoro a música da banda dele e adoro-o a ele"

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No álbum que aí vem, houve a decisão consciente de não procurar construir instrumentais convencionais de hip hop. “Deixa-me lá tentar fazer uma coisa um bocado mais eletrónica e ver o que acontece. Nunca senti que tivesse essa porta aberta nos outros álbuns. Mas também não fiz as músicas a pensar que queria uma deste género e outra daquele. Este álbum é muito transitivo e híbrido, no sentido de não teres aqui um beat de hip hop — o mais perto que houve foi o Gárgulas e mesmo assim não considero que seja — mas obviamente também está aqui alguma da identidade que fui demonstrando enquanto benji price. Continuo a rimar, porque gosto de rimar. E porque é que não posso usar o meu nome para rimar em cima de um beat dos anos 80?”

Também há canções, adianta, em que usa a voz de forma mais melódica. Em geral, sentiu-se livre para experimentar, mas também não queria ser demasiado exploratório, chegando a resultados muito distantes da sua obra inicial ou demasiado exigentes para agarrar o público que atraiu ao longo dos anos. “Apetecia-me fazer canções mais simples, autossuficientes, que talvez não precisassem de tanto tcharan para fazer sentido. E este álbum é muito mais expansivo, por oposição aos outros, em que estava preocupado que aquilo fosse mais homogéneo. Sinto que agora, após este álbum, já estou numa posição privilegiada em que posso ir ainda mais para sítios diferentes. Em Portugal, cada vez tens mais artistas a procurar fazer coisas assumidamente fluidas de género, que não se querem restringir.”

[“Gárgulas”, com Conan Osíris:]

A eletrónica, em particular, tem algum peso no disco. Afinal, enquanto benji price já tinha feito uma série de experiências, desde ébano (tema que produziu para xtinto) até Pó de Cosmos, do álbum ígneo, onde também colaborou com o mesmo comparsa. “Já há muito que queria explorar esse lado de ‘o que é que acontece quando o hip hop se cruza com uma palete mais eletrónica?’”

Todo o álbum é composto por si, embora conte com alguns contributos externos de colaboradores próximos, como Kidonov, Lunn e Beiro — amigos e companheiros com quem partilha o estúdio da Munnhouse no centro de Lisboa. Em relação a outras colaborações, revela que tem um tema com Keso, uma parceria que já ambicionava “há anos”; e xtinto, que tem participado em todos os seus projetos.

Em relação ao single com Conan Osíris, outro “produtor de quarto” de origem, a relação deu-se quando ambos trabalharam no álbum de Rita Vian. “Sou um fã gigante, a música dele para mim é brilhante. Se a oportunidade surgisse, iria sempre tentar aproveitá-la. Quando me cruzei no estúdio com ele, perguntei-lhe à descarada: ‘queres fazer um som comigo, importas-te?’ E ele: ‘não, curtia fazer. Manda-me aí algumas coisas e eu escolho um’. Ele escolheu o Gárgulas, que era aquele que eu pensava que ele não iria escolher, mas estou super orgulhoso do resultado. Ele trouxe algo extremamente surpreendente. Está super único, é um momento de música que se calhar não vai acontecer nunca mais e sinto-me um privilegiado por ser uma das pessoas raras que tem o Conan Osíris numa música sua.”

"Neste álbum, falo muito das coisas que acho que certos setores da nossa sociedade fazem a outros. Ou seja, tenho muitas queixas políticas. Nesse sentido, nunca me calarei. Falo dos interesses de grandes grupos económicos. Mas, em relação a lutar contra pessoas que são meus pares, não quero mais fazer isso. O mais importante é procurar o que nos une do que acentuar o que nos diverge.”

Também há muito que queria concretizar uma faixa com Alex D’Alva Teixeira. “Já queria fazer qualquer coisa com ele há algum tempo, adoro a música da banda dele e adoro-o a ele enquanto pessoa, é mesmo um tipo cinco estrelas.” Antes do lançamento do álbum, ainda haverá um terceiro single com mais uma colaboração, por enquanto no segredo dos deuses.

A escolha do título do álbum, O Lobo Um Dia Irá Comer a Lua, tem a ver com a mitologia nórdica e o conceito de Ragnarök, que representa o fim dos tempos. “Optei por este título como um lembrete para mim mesmo de que eventualmente tudo acaba. O fim dos tempos é uma inevitabilidade. Sinto que é importante vivermos a vida de uma forma propositada. Queremos fazer isto e procuramos fazer isto porque sabemos que eventualmente vamos morrer. E falo muito disso neste álbum, é um tema recorrente”, explica. “Na mitologia nórdica, o fim dos tempos começa com um lobo que come a Lua e outro que come o Sol, antes dos deuses e dos gigantes se matarem todos uns aos outros, e pensei que era engraçado. Acabei por optar pela Lua porque sinto que a minha música é mais noturna.”

“Espero que as pessoas consigam ler nas entrelinhas do que eu estou para ali a palrar”

Fazer este álbum, mudar de nome e explorar diferentes sonoridades é precisamente concretizar essas intenções, levar a cabo objetivos concretos, livre de constrangimentos. “Porque também não é um disco super fatalista, não vem desse sítio.”

Em termos temáticos, é um disco mais introspetivo e, nalguns casos, até mais politizado. “São temas com essa carga e a falar das minhas emoções em relação à minha vida e às pessoas que me rodeiam, tem a ver com essas reflexões que faço. Para mim, era importante tematicamente progredir para outros sítios. Neste álbum, falo muito das coisas que acho que certos setores da nossa sociedade fazem a outros. Ou seja, tenho muitas queixas políticas. Nesse sentido, nunca me calarei. Falo dos interesses de grandes grupos económicos, espero que as pessoas consigam ler nas entrelinhas do que eu estou para ali a palrar. Mas, em relação a lutar contra pessoas que são meus pares, não quero mais fazer isso. O mais importante é procurar o que nos une do que acentuar o que nos diverge.”

O álbum não está totalmente fechado, mas à data da entrevista existiam pelo menos 18 demos que poderiam muito bem encaixar no alinhamento final. “Não sei se passarei a ter 20, ou se vou acabar a decidir só lançar 14. De momento está em aberto. Depois também tenho de ouvir tudo completamente, para me certificar que está com a energia que quero.”

Quando for apresentar o álbum ao vivo, João Maia Ferreira sente que o facto de usar o seu nome verdadeiro também irá contribuir para se sentir mais à vontade.

O álbum não está totalmente fechado, mas à data da entrevista existiam pelo menos 18 demos que poderiam muito bem encaixar no alinhamento final

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“Quis desprender-me da imagem de ‘benji price é um rapper e tem de ser esta figura larger than life‘, de que tenho sempre de ser percecionado de determinada maneira ou projetar isto ou aquilo. Quero só ser um gajo normal que se apresenta de uma forma em que se sente confortável. Não quero sentir que tenho de ser mais extravagante. Toco com banda e está toda equiparada a mim, não estão escondidos lá para trás. Não estou a tentar trazer o foco todo dos holofotes para mim. Se é assim que sou enquanto pessoa, também é assim que tenho de me apresentar. E com benji price, na minha cabeça, sentia que tinha de me apresentar de outra forma. Por isso é que agora também comecei a tocar guitarra nos concertos, porque é o que quero fazer. Não tenho de ser um rapper só agarrado ao microfone, também quero tocar guitarra ao mesmo tempo, diverte-me mais. Todas essas coisas são efeitos dominós que levaram a este ponto. Música é uma coisa que tem de ser sempre divertida, não a quero ver como algo brutalmente séria. Tanto que a minha música, um bocado também deliberadamente, vem sempre de um sítio mais positivo.”

Embora seja comum os músicos descreverem o processo de composição e escrita como terapêutico, por estarem a explorar criativamente as suas dores e a processarem as coisas por que passam, João Maia Ferreira tenta criar música positiva de forma deliberada para, no final do dia, se conseguir sentir melhor.

“Não faço música muito depressiva ou em que me lamente muito, mesmo porque estou a tentar combater isso, que é uma tendência natural em mim. Não há problema nenhum em fazê-lo, pode ser algo muito nobre, mas a mim mete-me num sítio pior, manda-me mais para baixo. Tenho de fazer música positiva para me sentir mais positivo. Neste álbum também falo de coisas más, de fragilidades… Não quero é dizer: agora vou fazer uma música sobre estar triste. Não faço música para purgar nada, faço-o pelo total oposto, faço música para trazer algo para mim mesmo. E neste momento sinto que posso ser eu próprio”

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