A mesma pessoa, um projeto semelhante com o acrescento de mais 50 propostas, um posicionamento muito diferente em relação ao que se passara em 2020. Após terminar a primeira candidatura à liderança do FC Porto com 4,91% numa eleição em que José Fernando Rio chegou a superar os 26% contra o eleito Pinto da Costa (algo que não valoriza, mas já lá iremos), Nuno Lobo decidiu avançar de novo para a presidência dos dragões. Diferença? Está com um discurso mais calmo, mais ponderado, mais alinhado para o bem maior do que para coisas pequenas que só diminuem os dragões. É quase como se o professor e empresário quisesse ser o adulto numa sala onde todos os olhos estão apontados para o líder que quer manter essa posição e um antigo aluno que quer agora chegar a diretor. “Comigo, para isso, não vão contar”, garante. E muita da conversa no dia que foi acompanhado pelo Observador passa por isso e pela ideia de recusa de uma bipolaridade num sufrágio que é a três – e se dúvidas existissem, é só olhar para o telefone que tem na mão.
Com a modernização das comunicações e demais funcionalidades, as pessoas foram deixando aquela prática de colocarem fotografias e demais recordações pessoais entre a capa transparente e o telefone. Ali pode agora entrar um bilhete de jogo, um passe de metro mas nada de imagens que estão no ecrã do aparelho. No caso de Nuno Lobo, é ali que se encontra o autocolante já gasto pelo uso e pelo sol que tem a imagem do candidato da lista C com o mote “Sim, somos Porto”. Por onde fomos passando, há sempre alguém da cidade que deixa uma palavra de apoio ao portista – mesmo que isso não venha no próximo dia 27 de abril a traduzir-se num voto nas eleições. Existe quase um reconhecimento da coragem que tem em avançar para novo sufrágio destinado a outras duas grandes figuras, é por esse reconhecimento que luta também para ter uma voz.
Nuno Lobo já não tem aquelas saídas como em 2020, quando dizia que ia ser “o dobro ou o triplo terrível” do que Pinto da Costa foi. Também não passa grande parte do tempo a apontar ao rival Benfica e a toda a esfera de influência no futebol português que reclamava ter há quatro anos. Foca-se no estado do FC Porto, foca-se naquilo que defende para o clube, foca-se no que lê, vê ou ouve que não é o suficiente para ter foco completo em situações muito faladas nos últimos dias como o acordo comunicado à CMVM com a Ithaka. Foca-se, sobretudo, naquilo que não fez com que estivesse em foco no universo azul e branco – o facto de ter sido o primeiro candidato confirmado ao sufrágio de 2024 e o primeiro a partilhar o programa eleitoral.
“Fui o primeiro candidato a formalizar a candidatura em 2020 e fui agora também mais uma vez o primeiro a formalizar a intenção de apresentar a candidatura em 2024. Fui o primeiro também a apresentar um programa, que enviei à comunicação social há dois ou três meses. Candidato-me novamente por tudo aquilo que foi proposto, o que preconizei em 2020. Não vi no decorrer destes quatro anos nenhuma das nossas propostas a ter sido concretizada e daí a razão de uma nova candidatura”, destaca Nuno Lobo.
– Não pensei em nada de percentagens, o único pensamento continua a ser servir o FC Porto. É evidente que a margem com que Pinto da Costa ganhou é algo com o qual vocês se importam muito, com o valor, o número de votos que José Fernando Rio ou eu atingimos… Não é esse o cerne da questão…
– Mas é um barómetro para perceber como está o universo FC Porto porque nunca tinha existido uma vitória com uma margem tão pequena mesmo sendo grande…
– Certo mas esta candidatura surge por amor ao FC Porto. Agregar o FC Porto, unir o FC Porto, apresentar novos projetos, apresentar um programa novo para o FC Porto. É com esse intuito que esta candidatura surge, unicamente para servir o FC Porto. É uma candidatura de puro portismo, de associados que têm as suas vidas… Temos as nossas carreiras bem definidas, excelentes profissionais, competentes e que têm um amor único que é o FC Porto. Estamos cá por isso, não estamos a pensar naquilo que aconteceu em 2020 a nível de votos. Sentimos essa obrigação como amamos o FC Porto de ajudar, tentar servir o FC Porto.
O fim dos estudos em Birmingham, as aulas em Pedrouços e uma garantia sobre o programa
Nuno Lobo vai recusando sempre qualquer tipo de colagem a Pinto da Costa, mesmo quando a pergunta vai no sentido de perceber se, entre aquilo que propõe e defende para o FC Porto e aquilo que os candidatos que tem pela frente preconizam, se aproxima mais do atual líder. Há algo que se percebe nas declarações que foi tendo ao longo da campanha (mais modesta) que foi tendo – tem mais a “mira” apontada a André Villas-Boas, a carta nova no baralho eleitoral. Curiosamente, o programa de 2020 começava com uma ideia que ficou conhecida pelo antigo treinador. “Não será a minha cadeira de sonho porque o FC Porto é mais que um sonho, é real! O meu amor ao clube não chega, mas aliado à competência daqueles, que comigo estão neste desígnio, sei que darão de alma e coração a sua total entrega ao clube que tanto amamos”.
A ligação aos azuis e brancos faz com que descreva o FC Porto como “uma doença boa, uma paixão”. Nem o facto de ter passado por Lisboa depois de sair de Angola fez com que desviasse o foco dos dragões numa vida que o fez viver ainda em Vila Real antes de se fixar na Invicta. Viu o primeiro encontro dos azuis e brancos quando tinha oito anos, numa goleada diante do Barreirense por 4-1, chegou a fazer parte das claques dos dragões, foi várias vezes de Ermesinde ao Porto a pé, tem como um dos dias mais memoráveis da sua vida a conquista da Taça dos Clubes Campeões Europeus em 1987 – tanto que se recorda de acordar na manhã seguinte ainda nos Aliados depois de uma festa onde chegou a beijar um cão entre tanta felicidade.
Aos 54 anos, a paixão continua latente e não se coloca abaixo dos outros candidatos a nível de percurso por isso mesmo. “Passado? Sou sócio do FC Porto. Sou e serei sempre uma voz ativa. O meu passado foi mostrar o meu cachecol e a minha camisola do FC Porto por esses campos fora”, contou o adepto que um dia a Liga NOS colocou como “o” adepto, numa campanha que fez para o Campeonato em que cada clube da principal divisão tinha o seu representante. Agora, Nuno Lobo quer ser “o” representante de outra forma, a liderar o clube. Mas, enquanto esse possível momento não chega, continua a começar os dias com aquela que é a sua maior paixão: o ensino, o ser professor, a ideia de que a educação é um bem comum inalienável.
“Terminei o curso de História e Arqueologia em 1998/99, a fazer esse último ano em Birmingham. Se gostei da experiência? Gostei mas não achei nada do outro mundo também… Houve uma coisa que me marcou e aí de facto era um mundo à parte: já naquela altura, todas as escolas tinham computadores. Quando voltei para Portugal e quando comecei a dar aulas há mais de 20 anos, nessa altura na Escola Secundária de Castêlo da Maia, tínhamos três computadores e era para todos os professores dividirem. Essa diferença foi aquela que mais notei na passagem por Inglaterra. Agora estou na Escola Secundária de Pedrouços, este ano estou a dar aulas de História a sétimo e oitavos anos”, recorda.
“Nesses tempos claro que aproveitei também para ver futebol em Inglaterra, a paixão está sempre presente. Fui ver jogos do Aston Villa, aproveitei que o amigo que estava comigo conseguiu chegar ao Nelson, lateral internacional que mais tarde iria para o FC Porto e que antes tinha estado no Sporting, e ele ajudou-nos com os bilhetes. Depois nessa altura fiz visitas a outros estádios. Fui a Liverpool ver Anfield, fui a Manchester ver o Old Trafford, passei pelo Museu do United… Por acaso sou sincero, não sei se aquilo entretanto mudou, mas aquele Museu num clube como o Manchester United parecia-me pouco”, acrescenta.
É ali, na Escola Secundária de Pedrouços, que Nuno Lobo começa todos os dias. Caso fosse eleito presidente, deixar de dar aulas seria um dos pontos que mais lhe custaria perante aquilo que mais gosta de fazer. Seria, como referiu mais do que uma vez, “um mal necessário”. E esse “mal necessário” que teria de ser remunerado, recusando a ideia de Villas-Boas de um presidente não remunerado e explicando os seus males.
“Aquilo que vejo é que o presidente, paulatinamente, nestes últimos dois meses, quando a minha candidatura estava lançada, quando o programa estava escrito e lançado, de certa maneira que… Repare: apresentou uma equipa nova depois de ter denunciado em 2020 essa situação, apresentou a ideia de não haver prémios para os administradores que era uma ideia minha, apresentou a situação do futsal, padel e surf que está no meu programa, apresentou uma Academia nova que defendo no ponto 1 do nosso programa, que subscrevo. Ou seja, Pinto da Costa olhou de certeza para o meu programa e viu as coisas que estavam mal no FC Porto… Isto penso eu, não quero também ser arrogante ou prepotente. Muitas das coisas que defendi em 2020 e que defendo agora em 2024 neste processo eleitoral, Pinto da Costa tem feito. É a realidade”, aponta.
“Em relação ao facto de o André não ser remunerado, acho que é uma ideia… Sinceramente, nem tenho palavras para descrever essa situação. Não sei se falou só na remuneração dele como presidente, se foi das pessoas que já apresentou, dois diretores desportivos como o Zubizarreta e o Jorge Costa, como é que vai fazer em relação a essas situações? É normal que uma pessoa abdique da sua vida profissional. Se eu abdico da minha profissão, que é ser professor, em nome do FC Porto, gostava de perguntar quem é que vai para lá e tenha uma vida profissional, o que vai fazer… Não quero ser comissionista no FC Porto, claro que qualquer presidente tem de ser remunerado. Agora, se essa é uma das estratégias para chegar perto dos sócios, acho que é uma estratégia completamente errada. Mas se ele pode… Em 2010/11 quando sai do FC Porto, saiu porque razão? Foi para um projeto maior do que o FC Porto, um clube maior do que o FC Porto? Foi para o Chelsea, é maior do que o FC Porto onde, em quê? Apresentaram um contrato chorudo e ele deixou o FC Porto. Aí falamos de remuneração… Eu ia abdicar da minha vida e não ia ser remunerado? Agora, eu não quero as remunerações que temos visto no FC Porto, obviamente…”, salienta.
Chega antes das 9h à escola, almoça em casa, mantém nesta fase de eleições o hábito de, antes de passar pela empresa ligada à restauração que tem (e da qual diz não gostar de falar publicamente por não querer ser acusado de alguma forma aproveitar a candidatura do FC Porto para promover os seus negócios), fazer uma paragem no emblemático Café Velasquez, na Praça Dr. Francisco Sá Carneiro. No caminho, passa pelas ruas adjacentes ao Estádio do Dragão. Mesmo ao volante e concentrado na estrada, os seus olhos parecem de repente entrar numa sala do Louvre quando vê o recinto dos azuis e brancos. É essa parte genuína de portismo que o diferencia também dos outros candidatos e que lhe permite ser abordado nas ruas.
Aquela capa do Viva Cidade que tem no banco da frente do carro foi também partilhada nas redes sociais como uma série de imagens em momentos do FC Porto. Não há propriamente poses para fotografias, são só selfies com amigos e membros da sua lista em vários momentos de equipas dos azuis e brancos. Nos últimos dias, esteve no jogo 1 da final do Campeonato de voleibol feminino com o Colégio Efanor e no clássico com o Sporting da penúltima jornada da fase regular da Liga de basquetebol, ambos no Dragão Arena, antes de agarrar na família e rumar em caravana com o núcleo duro da candidatura para assistir ao encontro da equipa de futebol em Rio Maior frente ao Casa Pia. A parte da “campanha” em si tem de estar presente todos os dias até ao próximo sábado mas aquilo que faz era o que faria sem haver eleições.
A paragem no Velasquez, o treino de hóquei do filho e a desilusão da Youth League
Já depois da passagem por casa para almoçar e de uma breve paragem na empresa, mantém o costume de parar no café Velasquez. É ali que muitas vezes se encontra com os companheiros de lista e amigos, é ali que muitas ideias são trocadas para depois chegarem ao programa eleitoral que vai a votos. As 330 assinaturas que conseguiu recolher para ir a sufrágio não tiveram ajuda de sedes e garagens, como recordou no momento em que oficializou a candidatura, e há muito ambiente de carolice para cumprir tudo o que é necessário para nova incursão nas eleições. É ali também que alguns sócios e adeptos do FC Porto param para cumprimenta-lo, dando-lhe os parabéns por nova corrida à liderança dos azuis e brancos com histórias pelo meio.
Neste dia, um sócio recorda as eleições de 1988 e 1991. No primeiro sufrágio com Martins Soares a tentar discutir a liderança com Pinto da Costa, o facto de o FC Porto ter conseguido contratar Rabah Madjer de novo ao Valencia acabou por esvaziar aquela que seria a principal promessa eleitoral da oposição. Três anos depois, tudo foi diferente. Martins Soares voltou a avançar com uma candidatura, neste caso prometendo o britânico Kenny Dalgish, que tinha sido campeão pelo Liverpool, como sucessor de Artur Jorge e fazendo uma série de ações contra Pinto da Costa, incluindo o lançamento de centenas e centenas de panfletos que diziam “Pela decência” (lema da sua candidatura) a partir de um avião. Recordam-se tempos que não mais voltaram a ser conturbados pelas eleições como agora. Lobo, em resposta, diz que só quer unir.
“O único contacto que tive foi de vários associados do FC Porto a questionarem-se porque é que não juntávamos as três candidaturas e fazíamos só uma. Nunca aconteceu, não aconteceu, ponto final parágrafo. Nem um contacto de Pinto da Costa, nem um contacto do André [Villas-Boas]. Em todo este processo só estive dez segundos se foi com o André, no dia da primeira Assembleia Geral. Apertou-me a mão, disse qualquer coisa ao ouvido que nem ouvi e depois pedi-lhe para repetir mas acho que entrou no carro. Foi o único contacto que tive com o André. Não houve nenhum contacto para unir listas, nada disso. Não houve nada disso…”, conta em forma de lamento ao Observador, antes de recordar dois reptos falhados.
“Lancei dois reptos às outras candidaturas. O primeiro era que, caso estivéssemos todos de acordo e havendo essa possibilidade, de adiarmos as eleições a bem do clube, do FC Porto e todas as equipas além do futebol. Não tive resposta. Depois lancei o repto para haver um debate entre os três, também não foi acolhido. Disse que deveria haver um espaço para quem quisesse debater comigo mas também não obtive resposta. Foram os dois reptos que lançámos, não houve feedback nenhum. Lancei o repto… Não é só o Porto Canal, nenhuma das outras estações quis… Entrevistas no Porto Canal aos três? Não sei se vai haver… Eu sei que dia 24 estarei em direto no Porto Canal às 22h, penso que Pinto da Costa estará no dia 25. Relativamente ao André, não tenho conhecimento disso até agora. Nem disso nem de nada…”, atira o candidato da lista C.
“A colagem a Pinto da Costa é um completo absurdo… Vocês sabem que fui o primeiro a apresentar o programa, como é que eu posso copiar as ideias dos outros se fui o primeiro a lançar? Pus as minhas ideias e muitas delas, como vocês sabem… Fui o primeiro a queixar-me e a denunciar as contas do FC Porto, fui o primeiro a avançar com os ordenados que os nossos administradores tinham assim como os prémios, fui o primeiro a denunciar a falta de ecletismo usando como uma das bandeiras o futsal, fui o primeiro a denunciar aquela Academia que só serviu para o jornal em Matosinhos, fui o primeiro a denunciar isso tudo. Depois, aquilo que vi em 2024 foi que depois de ter denunciado tudo isso a primeira pessoa que subscreveu a candidatura de Pinto da Costa em 2020 foi André Villas-Boas. Para ele, em 2020, tudo estava bem. A Academia em Matosinhos estava tudo bem, os ordenados e os prémios aos administradores estava tudo bem, o passivo do FC Porto de 420 milhões estava bem, os capitais próprios negativos que hoje são tão badalados e que em 2020 eram de 120 milhões estava tudo bem… Foi eu que denunciei tudo isso mas em 2020 para o André estava tudo bem”, sustenta, antes de ser mais cauteloso na análise de outras pastas.
– Não tenho uma opinião completamente assertiva porque ainda não li, só gosto de falar daquilo que sei. Ainda não li nada, apenas o que veio dos jornais. Os 30% da sociedade que são cedidos, nem sei se essa empresa trabalha ou não para o Barcelona ou para o Real Madrid… Aquilo que eu quero, porque não tenho conhecimento profundo, é não alimentar mais a fogueira. O conhecimento que tenho deste processo ainda está pouco lúcido. Terei de estudar tudo e formar uma opinião. Com o que tenho, não posso dar uma opinião concreta. Tudo o que seja um bem superior para o FC Porto será sempre bem-vindo, se um investidor vai apostar forte no FC Porto… Mas eu não sei bem os contornos… se me puder elucidar mais alguma coisa…
– Tem mais a ver com exploração comercial, não é uma participação de 30% no capital social da SAD, com investimento e impacto no Estádio do Dragão entre outras coisas…
– Se for rentável para o FC Porto, se esse contrato prevê que não haja prejuízo para o FC Porto, tudo o que venha e tudo o que seja investimento estou de braços abertos até para potenciar a marcar FC Porto porque o pensamento não devem ser os interesses pessoais mas sim olhar para um bem maior: servir o FC Porto…
Aproveitando a conversa que gira toda à volta do FC Porto depois das conversas sobre sufrágios anteriores, as perguntas da praxe: como se combate a bipolaridade nestas eleições e como se consegue exprimir gratidão sem expressar isso no boletim de voto? “A bipolaridade combate-se através das redes sociais e de palavra a palavra. Nem vale a pena falar sobre a comunicação social e esta bipolaridade, como perguntou e bem… Este lavar de roupa suja, o aproveitamento de tudo para denegrir e meter o FC Porto na lama… Não vou contribuir para isto. Neste último mês assisti a muito. Primeiro eram as ações da SAD que tinham suspensas pela CMVM, o embargo dos terrenos da Academia porque passou lá um dinossauro, a seguir o incumprimento financeiro do fair play da UEFA que foi logo desmentido…. É inadmissível. Não sei quem levanta essas suspeitas mas parece que há prazer em pisar o FC Porto e não vou contribuir para isso”, diz.
“Não estou preocupado com isso da gratidão. Na segunda Assembleia Geral do FC Porto, virei-me para Pinto da Costa, uma pessoa por quem tenho a maior admiração do mundo e que é o maior símbolo do FC Porto, e disse que o FC Porto é dos sócios. Eu sou, fui e serei eternamente grato ao enorme presidente. Não é o presidente dos presidentes, é o presidente. Ainda é o presidente do FC Porto mas não sou refém em relação a essa gratidão. Tenho o meu projeto. Divergimos em programas, em projetos para o FC Porto, era isso que as pessoas deviam ver. Quem não concorda, tudo bem. Agora, não vou entrar na palhaçada, na situação de falar de ralis, que aos 46 anos ainda consigo estar de pé… Não entro no lamaçal. Não concordam, respeitem, não insultem porque eu nunca farei”, acrescenta, ao mesmo tempo que explica que houve um retratamento mútuo com o atual líder dos dragões, que lhe moveu um processo entretanto arquivado e que critica o “tempo de antena” dado sobretudo a Villas-Boas em comparação com a lista que encabeça.
A parte da tarde, essa, costuma estar dedicada a algo que dá um especial prazer a Nuno Lobo: levar o filho mais novo, Manuel Maria Lobo (tem outro filho, Diogo), aos treinos de hóquei em patins no Académico do Porto. E além de explicar que “o miúdo tem mesmo jeito”, fica impressionado ao recordar como começou a paixão pelo hóquei em patins. “Gosto muito de antiguidades e há uma armazém grande perto do Porto que tem feiras. Fui lá e havia um clube, o Alfena, que tinha uma baliza, uns patins, um stick e uma bola. Ele quis experimentar e gostou. Perguntaram-me quando tinha aprendido a patinar, expliquei que aquela era a primeira vez. Foi logo fazer treinos, depois passou pelo Valongo, agora está no Académico”, conta.
A ligação ao FC Porto é transversal a toda a família, as idas ao Pavilhão e ao Estádio também com a especial predileção pelo hóquei em patins em relação ao mais novo. É por isso também que uma das preocupações por esses dias passava por garantir bilhetes para a Final Four da Liga dos Campeões que se vai realizar na Super Bock Arena, no Porto. “Era a terceira. Fui a uma que também foi no Pavilhão Rosa Mota, nesse caso com o Barcelona, e depois estive naquela já no Dragão em que perdemos com o Benfica com aquele golo decisivo no prolongamento… Um remate quase de baliza a baliza, a passar por tanta gente, nem sei como é que foi possível…”. No entanto, e nesta sexta-feira, as atenções enquanto o filho tem o habitual treino estão no futebol e na formação, com a equipa Sub-19 a jogar as meias da Youth League com o AC Milan em Nyon. Uma boa oportunidade para falar da questão das Academias apresentadas e a sua importância na formação.
“Para não voltarem a fazer colagens absurdas… O que defendo no ponto 1 do meu programa é uma Academia de raiz e vejo o presidente Pinto da Costa a apresentar uma Academia de raiz no valor que penso estar nos 40 milhões de euros. Depois, há os três campos e o Centro de Alto Rendimento ou lá o que é, essa promessa está feita há muitos anos. Os nossos clubes rivais têm 15 ou 20 anos de avanço. E o André diz que quer o Centro de Alto Rendimento e fala de investidores. Há acordos mas também há confidencialidade nestes acordos. O que vejo é que apresentou algo à volta dos 30 ou 33 milhões de euros… O que vi que defendia era que primeiro seria no Olival e daqui a 15 ou 20 anos podia ser na Maia. Ora, se juntar os 20 anos que já temos de atraso com os 15 ou 20 que defende daqui para a frente, são quase 40 anos. O FC Porto vai continuar 40 anos atrás dos nossos clubes rivais, de Alcochete e do Seixal?”, aponta Lobo. E como se paga?
“Não sei dar uma resposta a isso porque não tenho os contratos comigo mas através dos investidores e parceiros certos é possível fazer de raiz a Academia. Os tratores andam no terreno. É uma proposta que me agrada a mim e a todos, só uma pessoa cega é que não quer ver isso. Quem é que não quer ver a nossa formação ou a nossa equipa B jogar na Academia? Porque é que temos de andar sempre com as malas às costas? É isso que defendo e o que está no meu programa. Não tem a ver com colagem nenhuma, é algo que está no nosso programa e que foi o primeiro a ser difundido e passado à comunicação social. Está no ponto 1 do nosso programa e Pinto da Costa passado uns meses apresenta uma proposta idêntica ou igual à nossa do nosso programa…”, refere. Sobre os seniores, a questão é mais fácil: “A minha estrutura do futebol passa por Sérgio Conceição… Já apresentei a minha lista e a minha candidatura, sobre o resto não digo nada porque as equipas estão a terminar a época. Vamos sentar-nos com o Sérgio Conceição e definir o que queremos de futuro para o FC Porto. A equipa, se é preciso diretor desportivo, o scouting, tudo isso”, garante.
A forma como o FC Porto conseguiu a reviravolta no jogo com o AC Milan deixou Nuno Lobo entusiasmado, a maneira como os azuis e brancos falharam o 3-1 numa jogada em que Gil Martins acertou num adversário em cima da linha sem guarda-redes na baliza e Anhá Candé atirou perto do poste na recarga deixou Nuno Lobo à beira de um ataque nervos, o empate de Simmelhack nos descontos foi um autêntico balde de água fria confirmado depois com a derrota nas grandes penalidades. O candidato mostrava-se desiludido e só o treino do filho no Académico do Porto trouxe o sorriso para o que faltava do dia. O mesmo sorriso que espera manter até dia 27 de abril, “qualquer que seja o resultado que as eleições do FC Porto tenham”.