Do they still play the blues in Chicago
When baseball season rolls around
When the snow melts away,
Do the Cubbies still play
In their ivy-covered burial ground
When I was a boy they were my pride and joy
But now they only bring fatigue
To the home of the brave
The land of the free
And the doormat of the National League
(Excerto de A Dying Cubs Fan’s Last Request, de Steve Goodman, 1981)
Da última vez que os Chicago Cubs ganharam o World Series, o campeonato de Baseball, o mundo ainda não sabia o que eram semáforos ou uma guerra mundial, o Titanic ainda não tinha afundado, Portugal ainda era uma monarquia e o mundo ainda nem sonhava com o que viria a ser uma televisão.
Mas tudo na história desta maldição quebrada é cena de filme: 108 anos de espera, uma equipa completamente posta de parte na luta pelo título, um jogo suspenso e empatado, a reviravolta e, claro, o final feliz. Um século depois, os adorable losers cumprem finalmente A Dying Cubs Fan’s Last Request, como cantou Steve Goodman em 1981.
Mas vamos ao jogo, porque ainda é disso que se trata. Os Cubs de Chicago não chegaram à final, a World Series, por acaso. Tiveram uma das melhores épocas e um registo de vitórias impressionante, com 103 vitórias e 58 derrotas, o melhor desempenho da regular season, ganharam contra os San Francisco Giants por três jogos a um e de seguida ganharam a National League (o campeonato de Baseball é divido em duas ligas, a National League e a American League) contra os Los Angeles Dodgers, depois de terem estado a perder por 2-1 em jogos, e chegaram à final contra os Cleveland Indians.
Em Cleveland, a seca não era muito menor. A última vez que os Indians ganharam um campeonato foi em 1948, mas agora tinham nas suas fileiras alguns dos melhores jogadores da liga – como a sensação de Porto Rico, Francisco Lindor, de apenas 22 anos, ou o pitcher Corey Kluber, apenas o terceiro jogador a começar de início a arremessar contra uma equipa em três jogos na World Series – e uma equipa demolidora.
A série esteve sempre a favor de Cleveland, cidade do Ohio que esperava festejar mais um título este ano, depois do primeiro título da NBA vencido pelos Cleveland Cavaliers de LeBron James. O primeiro jogo foi ganho por uns demolidores 6-0, com dois pontos marcados logo no primeiro inning. Os Cubs ainda empataram a série no segundo jogo em Cleveland, mas a partir daí foi um massacre dos Indians, que ganharam os dois jogos seguintes em Wrigley Field, o estádio onde os Cubs nunca conquistaram um World Series.
Faltava um jogo para a vitória final dos Indians sobre os Cubs, para que Cleveland acabasse com uma seca de 68 anos e estendesse a maldição que se abatia sobre Chicago para os 109 anos. Tudo apontava para que assim fosse, mesmo com o expansivo apoio de Bill Murray, o mais famoso e mais extrovertido dos adeptos dos Cubs. Ninguém ainda vivo tinha alguma vez visto os Cubs ganharem um campeonato e tudo indicava que era isso que aconteceria, mais uma vez, no último jogo no estádio de Chicago.
Como qualquer cena de um filme tipicamente americano — e há poucas coisas mais americanas que o baseball —, a caminhada para o triunfo impossível começou a desenrolar-se devagar. O 3-2 em jogos fez-se ainda em Chicago, com os Cubs a começarem a perder, mas a conseguirem dar a volta e a acabarem a ganhar pela margem mínima. Seriam precisos mais dois jogos para dar a volta, já em Cleveland.
Os homens de Chicago empataram a final com um jogo quase perfeito. Três pontos no primeiro inning. Outros quatro no terceiro. Um passeio no ballpark.
Jogo sete. Aquele pelo qual todos os adeptos de baseball anseiam no final do ano. Duas equipas que não ganham há (pelo menos) muitas décadas. Imparáveis na época regular, capazes do melhor e do pior no World Series. Uma reviravolta histórica para este jogo acontecer. O que mais se podia querer? Emoção até ao fim. E assim foi.
Os Cubs marcaram primeiro. Um ponto, logo no primeiro inning. Cleveland empatou. Mais pontos para os de Chicago fazerem o 3-1. Dois para cada no quinto inning e 5-3 para os Cubs, que ainda chegaram aos 6-3. Chicago estava lançado, mas o jogo não estava ganho. Não podia estar, não estivéssemos a falar de uma história à americana: empate antes do fim e o jogo vai para prolongamento. Quem marcar, dificilmente não será campeão. Mas ainda não acabou. Mais um bocadinho de drama e o jogo é interrompido por causa da chuva, mesmo com o cronómetro a cegar ao fim.
Nervos em franja, sem vencedor à vista e com cem anos de seca a pesar sobre cada uma das equipas, entra no filme o jogador que ninguém esperava. Ben Zobrist, 35 anos, 11 épocas na principal liga de baseball, já com um anel de campeão e uma derrota em World Series, chegou aos Cubs como jogador livre esta época. Um jogador fora, a sua última tacada e acerta em cheio para o meio do campo: Chapman corre e marca o 7-6 para os Cubs. Logo a seguir vem Montero que bate, também ele, para o meio e permite a Anthony Rizzo, um dos heróis da temporada, marcar o 8-6.
Pressão em cima dos Indians, mas calma que ainda não acabou. A equipa de Cleveland ainda marca o 8-7 e deixa tudo em suspenso até ao último minuto. Uma troca de pitcher, para aquela que se espera que seja a última jogada, só acrescenta mais drama ao filme. A bola sai das mãos de Montgomery, Martinez dos Indians bate e o resto é história feita por dois dos melhores atacantes de Chicago esta época: Kris Bryant pega na bola, atira-a para a primeira base para Rizzo, o último a marcar pelos Cubs, que mete a bola ao bolso, braços no ar e vitória. Os jogadores correm, saltam e gritam eufóricos como crianças, ainda assim menos que Bill Murray, o mais famoso dos adeptos dos Cubs e que seguiu a equipa para todo o lado.
108 anos depois, a vitória. Acabou-se a maldição de Billy, a Cabra, lançada pelo dono de uma cabra que foi convidado a tirar o seu animal de Wrigley Field em 1945, no jogo quatro da última final em que os Cubs participaram, porque a cabra estava a incomodar os restantes adeptos, com o cheiro e com o barulho. O dono jurou que os Cubs nunca mais ganhariam um World Series e houve quem visse a derrocada épica de 1969 contra os New York Mets, o falhanço monstruoso contra os San Diego Padres em 1984 e o gigante erro de um adepto – Steve Bartman – em 2003, que impediu os Cubs de chegarem à final (e que com isso quase provocou um motim, tendo de ser escoltado do estádio) como a expressão dessa maldição.
A maldição manteve-se, até esta madrugada. O último desejo de um moribundo foi cumprido, 32 anos depois da morte de Steve Goodman, e a canção que os Chicago Cubs baniram do seu estádio foi substítuida por uma canção de vitória.
Baseball season’s underway
Well you better get ready for a brand new day
Hey, Chicago, what do you say
The Cubs are gonna win today
They’re singing
Go, Cubs, go
Go, Cubs, go
Hey, Chicago, what do you say
The Cubs are gonna win today
Go, Cubs, go
Go, Cubs, go
Hey, Chicago, what do you say
The Cubs are gonna win today
They got the power, they got the speed
To be the best in the National League
Well this is the year and the Cubs are real
So come on down to Wrigley Field
We’re singing now
Go, Cubs, go
Go, Cubs, go
Hey, Chicago, what do you say
The Cubs are gonna win today
Go, Cubs, go
Go, Cubs, go
Hey, Chicago, what do you say
The Cubs are gonna win today.
Baseball time is here again
You can catch it all on WGN
So stamp your feet and clap your hands
Chicago Cubs…