910kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

STUCK SHIP EVER GIVEN, SUEZ CANAL -- MARCH 26, 2021:  Maxars WorldView-2 collected new high-resolution satellite imagery of the Suez canal and the container ship (EVER GIVEN) that remains stuck in the canal north of the city of Suez, Egypt.
i

O porta-contentores saiu do porto de Kaohsiung, em Taiwan

DigitalGlobe/Getty Images

O porta-contentores saiu do porto de Kaohsiung, em Taiwan

DigitalGlobe/Getty Images

Como um porta-contentores encalhou no Suez e complicou todo o comércio internacional

O porta-contentores MV Ever Given encalhou na quarta-feira no Canal do Suez, que liga a Europa à Ásia, dois dos principais mercados mundiais. Efeitos já se fazem sentir e petróleo já está mais caro.

    Índice

    Índice

350 milhões de euros por hora; 12% do comércio global afetado; e preço do barril de Brent a subir, já que 5% a 10% das mercadorias que por ali passam são de petróleo e gás natural. Estas são apenas algumas das consequências da suspensão da via principal do Canal do Suez, no Egito, que desde a manhã de quarta-feira está bloqueada pelo navio porta-contentores MV Ever Given, cujo tamanho pode ser comparado ao de um arranha-céus — 400 metros de comprimento e 59 metros de largura, pesando 219 mil toneladas.

Desencalhar o navio não está a ser tarefa fácil e as últimas previsões apontam que poderá demorar semanas. Até lá, procuram-se alternativas e começam a temer-se os custos para o comércio mundial.

Porque é que o MV Ever Given encalhou?

Foi no Canal do Suez que o percurso do porta-contetores se alterou de forma imprevisível. A 22 de fevereiro, o navio saiu do porto de Kaohsiung, em Taiwan, dirigindo-se depois para as cidades chinesas de Quingdao, Shanghai e Ningbo. Voltou depois a Taiwan, a Taipei, passou novamente pela China, no porto de Yantian, e depois seguiu caminho para Tanjung Pelepas, na Malásia. A 23 de março chegou ao Egito e estava previsto que saísse do país na quinta-feira, a caminho da Europa. A primeira paragem seria Roterdão, nos Países Baixos, indo depois ao porto britânico de Felixstowe. O destino final seria Hamburgo, na Alemanha.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Não chegou, porém, a sair do Egito. Na manhã de dia 23 começaram os problemas. Segundo um comunicado da empresa detentora do porta-contentores Evergreen Line, “o acidente ocorreu a seis milhas da entrada sul do Canal, quando o porta-contentores se dirigia a norte no Mar Vermelho”. As rajadas de vento na ordem dos 30 nós (cerca de 55 quilómetros por hora) fizeram com que o navio “se desviasse do seu curso, levando a que encalhasse”, ficando atravessado e preso aos dois lados do canal. “Foi de forma acidental”, acrescenta a empresa.

Grounded cointainer ship blocks Suez Canal in Egypt

Imagem registada a partir do espaço mostra o navio atravessado entre as margens do canal

Roscosmos Press Office/TASS

Segundo explica o The Washigton Post, as rajadas ainda diminuíram a visibilidade e criaram uma tempestade de areia. O vento criou um “efeito vela” na mercadoria, que, devido ao peso, alterou o curso do porta-contentores. Além disso, o comprimento do MV Ever Given (400 metros de comprimentos e 59 metros de largura) é considerado o limite para um navio passar no Canal do Suez — criando pouco espaço de manobra para prevenir incidentes deste tipo. 

Esta não é a primeira que o MV Ever Given tem um acidente por causa do vento. Em 2019, no porto de Hamburgo, o porta-contentores embateu contra outro navio, acabando por danificá-lo.

O que está a ser feito para desencalhar o porta-contentores?

Os responsáveis pelo Canal do Suez estão a tentar desencalhar o porta-contentores “empurrando a embarcação com recurso a oito grandes rebocadores”, sendo o maior o BARAKA 1 que tem um “poder de reboque” de 160 toneladas, lê-se no site oficial das autoridades egípcias.

Ao mesmo tempo, empreendem-se esforços para tentar escavar a área onde o porta-contentores encalhou, com a ajuda de retroescavadoras, existindo também dragas que extraem areia e lama de debaixo da embarcação. O objetivo é que, juntando estes processos, o navio consiga deixar de estar atravessado entre as margens do canal.

DR. Rebocadores. Imagem

Suez Canal Authority

Além disso, as autoridades estão a retirar carga do navio para que o MV Ever Given consiga flutuar com maior facilidade, sendo também mais fácil empurrá-lo. E aqui também se incluíram os 25 membros da tripulação, todos indianos, que estão todos bem e já abandonaram o Egito.

Até agora, os esforços têm sido em vão, revelou a empresa Bernhard Schulte Shipmanagement à BBC. Para Sal Mercogliano, especialista em história marítima ouvido pelo órgão britânico, o foco deve estar em retirar a areia e a lama da zona em que o navio embateu, junto à margem — um processo pode “demorar semanas” até estar concluído.

Outra opção passa ainda por descarregar ainda mais o navio, ainda que, de acordo com o especialista, isso levante outros problemas: “Ter-se-ia de trazer guindastes flutuantes — e qualquer coisa que se faça agora tem de se determinar como isso afetaria a estabilidade do navio”. No pior cenário, a embarcação podia mesmo “partir-se em duas” por causa da “distribuição desigual de peso”.

A empresa japonesa que construiu o porta-contentores, a Shoei Kisen Kaisha, também prometeu “trabalhar arduamente para resolver a situação o mais cedo possível”, tendo também pedido “desculpa pelo sucedido”.

Qual é a importância do Canal do Suez?

Aberto para navegação a 17 de novembro de 1869, foi o primeiro canal artificial construído pelo Homem, ligando o Mar Mediterrâneo ao Mar Vermelho através do Rio Nilo — e também a Europa à Ásia. Atualmente, é a rota marítima “que liga os dois maiores mercados do mundo” — o da União Europeia (UE) e do Extremo Oriente, o primeiro “consumidor” e o segundo “produtor”, descreve José Augusto Felícia, especialista em gestão estratégica, em declarações à Rádio Observador.

Canal do Suez: “Compensa dar a volta pelo Cabo”

Esta passagem permite que a travessia entre os dois continentes seja muito mais rápida, evitando-se contornar o continente africano, naquele que foi um percurso descoberto pelos portugueses no século XV. No caso do Evergreen Line, o navio saiu da Malásia e chegou ao Suez em apenas onze dias. Se tivesse de contornar a costa africana, demoraria seguramente mais do que duas semanas, indica José Augusto Felícia — ainda que essa seja agora uma das alternativas para ultrapassar o problema do corte do Suez. O canal também é a opção mais económica para ligar os continentes: as empresas poupam cerca de 300 mil dólares em combustível.

O corte da travessia impacta de forma considerável o comércio mundial, estimando-se que cerca de 12% passe pelo Canal do Suez. Por dia, o tráfego marítimo que passa por lá atinge os 9.600 milhões de dólares (8.150 milhões de euros), de acordo com uma estimativa da Lloyd’s List Intelligence. Um dia após o barco ter encalhado, na quinta-feira de manhã, já havia aproximadamente 100 barcos que aguardavam pela passagem no Canal do Suez. 

"É a rota principal do mundo e é essencial. As implicações que cria a nível mundial são brutais. As cadeias logísticas são um instrumento essencial na economia moderna. [Ter] os navios parados quer dizer que o stock de fábricas e dos estabelecimentos comerciais vão entrar em rutura", avisa José Augusto Felícia.

As implicações do encerramento do Canal

“É um drama” que o principal ponto de passagem entre os dois continente esteja bloqueado, diz José Augusto Felícia. A razão? “A grande fábrica do mundo é a China, nas últimas três dezenas de anos o país tornou-se o centro abastecedor das fábricas que abasteciam os Estados Unidos e a Europa”. Para mais, “a mão de obra e tecnologia estão China”.

Por causa do bloqueio, há a expectativa de que as mercadorias cheguem atrasadas à Europa. E não só. Ouvido pela revista Time, Jan Hoffman, titular da pasta do Comércio e Logística na Conferência das Nações Unidas Sobre Comércio e Desenvolvimento, defendeu que “o impacto a curto prazo deste bloqueio aumentará a pressão e os preços dos portes de envio”. E admite que as consequências podem mesmo chegar ao consumidor.

Suez Canal traffic blocked by massive ship in Egypt

A situação do Ever Given fez com que outros navios se começassem a acumular junto ao canal, à espera de uma solução

dpa/picture alliance via Getty I

Ainda assim, o “drama mais imediato” tem a ver com as energias fósseis. O Canal do Suez é uma artéria em que transita entre 5% e 10% do petróleo transoceânico do mundo. “A questão baseada em produtos fósseis é essencial”, defende José Augusto Felícia. Se a situação se prolongar no tempo — e se os grandes petroleiros não puderem percorrê-lo –, o especialista antevê que uma rutura de stocks que “vai afetar a economia” da Europa. “É um problema sério”, salienta.

O preço de cada barril de petróleo já começou a subir na ordem dos 4%. De acordo com as declarações à CNBC de Yasushi Osada, investigador da Nissan, “as expectativas de que o bloqueio do Canal de Suez possam durar semanas aumentaram os temores de escassez de oferta nos mercados de petróleo”, o que fez subir os preços. Ainda assim, o facto de os investidores preverem lockdowns em países europeus faz com que “possa haver uma limitação no aumento do custo do petróleo”.

Não se sabe quanto tempo demorará a abrir o canal e para Diane Gilpin, fundadora da associação Smart Green Shipping Alliance, ouvida pela Time, é importante que se repense o papel do comércio internacional e das exportações mundiais: “Será que realmente queremos enviar tantas mercadorias ao redor do mundo e ficar à mercê dessas cadeias logísticas frágeis?”

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça até artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.