Nuno Melo ganhou um prémio imobiliário por garantir um T-tudo no Largo do Caldas. Manuel Monteiro o prémio Gipsy King (assim mesmo, no singular), com uma provocação a André Ventura. O partido, como um todo acumulou prémios pelos atrasos, pela escolha da música ou até pela atenção meditática. Aí estão os “Conservadores de Ouro”, os prémios criados pelo Observador para o 31° Congresso do CDS.

Prémio Remax: Nuno Melo

No primeiro discurso no Congresso, Nuno Melo quis acertar contas com quem anunciou a morte do partido e não esqueceu a tentativa de humilhação de André Ventura ao CDS. Num período difícil da vida do CDS, Ventura anunciou que o Chega ponderava mudar-se de malas e bagagens para o Largo do Caldas, a histórica sede do CDS, a troco de 7 milhões. Só a ideia assombrou os democrata-cristãos, que faziam de tudo para equilibrar contas e montar uma estratégia para inverter a hecatombe que tinham sofrido. Agora, dois anos após a intenção expressa de Ventura, Melo lembrou a história do Largo do Caldas, os tempos do PREC em que diz que a sede do CDS foi assaltada pela extrema-esquerda, e falou de “outros extremistas que davam por certo o desaparecimento do CDS e anunciaram que seriam donos do Caldas”. Nuno Melo lá disse que “com estas coisas não se brinca” e enviou um recado para que o Chega ouvisse: “Não são os novos donos do Caldas, a sede nacional é nossa e será nossa, é mais do que um símbolo, é identidade.” Ao CDS o que é do CDS, o Largo do Caldas, sem necessidade de recorrer à Remax.

Prémio Gipsy King: Manuel Monteiro

Para marcar as diferenças para o Chega, Manuel Monteiro lembrou que o CDS não faz distinção entre etnias ou nacionalidades. O antigo líder centrista disse mesmo que, após o período revolucionário, o CDS era mesmo conhecido como “o partido dos ciganos”. Em entrevista à Rádio Observador, Manuel Monteiro relembrou que, em 1976, quando se deslocava para atividades partidárias no Alentejo, a segurança da comitiva do CDS (que era então um alvo para a esquerda revolucionária) era feita precisamente pela “comunidade cigana”.

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Prémio Sem Noção: Afonso Sousa

A hora já era tardia, o momento estava a ser ocupado por sucessivas intervenções de membros da JP, quando subiu ao palco Afonso Sousa, grande candidato à intervenção com menos noção da noite. O militante do CDS começou, com deselegância, por fazer um comentário indireto à forma física da líder do PAN, ao dizer que “antes de se preocupar com a alimentação dos outros”, devia preocupar-se com “a sua própria alimentação”. Os sorrisos foram tímidos. Mas não ficou por aí e, no domínio da falta de noção e da teoria da conspiração, acusou o PCP de ter estado envolvido na morte de Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa. As palavras falam por si: “Elegemos um partido comunista que o que defende representou e ainda representa milhões de mortes em todo o mundo, atacou o CDS no Palácio de Cristal, perseguiu opositores políticos e até, quem sabe, e permitam-me que o diga, provocou a morte a um dos nossos fundadores de Camarate.”

Prémio Coelho da Alice: CDS

Há coisas que nunca mudam e, num partido tradicionalista, as tradições são para manter. E uma delas são os sucessivos atrasos, naquilo a que se chama hora CDS. O Congresso que no sábado devia arrancar por volta das 10h00, começou por volta das 11h30. As retomas do almoço e do jantar também tiveram atrasos entre 20 a 40 minutos. Congressistas chegaram a reclamar no púlpito desses atrasos, ao que a Mesa respondeu que se tratava da “tradição no CDS”. Para quem não gosta de atrasos, o CDS não é o melhor partido, fazendo lembrar a personagem da Alice no País das Maravilhas, o coelho branco, que anda sempre atrasado. Paulo Portas, no seu tempo, era um dos melhores intérpretes da “hora da CDS”, mas a era Nuno Melo está a fazer por cumprir a tradição.

Prémio Plateau: novo CDS

Vários congressistas e dirigentes do partido lembraram do púlpito o momento do switch off mediático do partido, em que o partido deixou de ter cobertura mediática das atividades por ter perdido a representação parlamentar. É verdade que as televisões estiveram presentes, mas, ao contrário de outros Congressos do partido (inclusive o que elegeu Nuno Melo em 2022 em Guimarães) só a televisão pública (a RTP) ocupou os plateaus destinados às emissões em direto. As outras televisões diminuíram consideravelmente as suas equipas no Congresso de Viseu, o que mostra que – apesar de estar no Governo – o CDS ainda tem um longo caminho até recuperar a presença mediática que tinha antes da tragédia eleitoral de 2022.

Prémio Skype: Paulo Portas

De Viseu a Lisboa são três horas de caminho — mas não terá sido o tempo de locomoção a impedir Paulo Portas de estar no Congresso do CDS. O ex-líder do partido foi essencial para este regresso do CDS ao Parlamento e ao Governo, tendo sido um dos impulsionadores da era Melo depois de Francisco Rodrigues dos Santos ter deixado o partido em frangalhos. Apesar do apoio a Melo, este não é o partido catch all que Portas idealizou e que Assunção Cristas tentou materializar. Apesar de ter participado na campanha eleitoral e de ter ajudado Melo em alguns momentos nos últimos dois anos, o esforço de Portas também não foi ao ponto de abdicar de um fim-de-semana para ir até Viseu. Até porque o seu espaço de eleição para intervir já não é o púlpito de um Congresso do CDS, mas sim o comentário domingueiro na TVI. Ainda por cima, hoje é domingo.

Prémio Spotify: produção do Congresso

A trilha sonora do Congresso não teve o rasgo de outros tempos como quando uma líder do CDS chegou a entrar para o discurso de encerramento ao som de música mainstream, como o There’s Nothing Holdin’ Me Back, de Shawn Mendes. A música deste Congresso de Viseu foi sempre mais genérica (para não dizer conservadora) e o hino do CDS, da cantora Dina, não passou nas colunas tantas vezes como noutras reuniões magnas e atividades partidárias centristas. Quando já se comentava a ausência do hino, mesmo, mesmo no encerramento do Congresso começou a ouvir-se a voz da Dina. Foi assim que se encerrou o conclave, seguido, claro, do hino nacional.