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A derrota de Fernando Medina foi a grande surpresa da noite, mas de muitas outras danças se fizeram estas eleições. A campanha autárquica tinha sido marcada por alguns candidatos que queriam saltar da televisão (do entretenimento ou do combate à pandemia) para o mundo autárquico, só que nem todos tiveram grande sorte.

A exceção foi o secretário de Estado adjunto e da Saúde, António Lacerda Sales, mas também Ricardo Mexia, o médico que suspendeu o mandato como presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública para concorrer à Junta de Freguesia do Lumiar e apoiar Carlos Moedas. Teve sorte nos dois objetivos.

O mesmo não se pode dizer do “marido da Lara” ou de Isabel Reis, que se propôs a “abraçar Aranhas”. Ou dos dois candidatos mais jovens (de 19 e 20 anos). Opinião diferente terá o já experiente Tiago Mayan Gonçalves, que ficou em sexto nas presidenciais: agora, é presidente da junta.

Abstenção é a segunda maior de sempre numas autárquicas

A abstenção nestas eleições autárquicas ultrapassou os 46%, pouco acima dos cerca de 45% de há quatro anos. Mas o valor deste ano não é o pior de sempre: para isso, é preciso recuar a 2013, ano em que a abstenção ultrapassou os 47%. O número mais baixo foi registado em 1979, com 26,2%.

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Os resultados das caras da pandemia

Deram a cara durante a pandemia, ora por serem um médico infeciologista, um médico de saúde pública, ou um secretário de Estado com a pasta da Saúde. E tentaram a sorte nestas autárquicas, nem todos com muito sucesso.

Comecemos pelos vencedores. António Larcerda Sales, secretário de estado adjunto e da Saúde, encabeçava a lista do PS à Assembleia Municipal de Leiria e acabou eleito. Aliás, os socialistas conseguiram manter o primeiro lugar com 46% (mais de 27 mil votos), o que se materializa em 18 mandatos. O PSD segue em segundo, com quase metade (24,82%).

Lacerda Sales é candidato do PS à presidência da Assembleia Municipal de Leiria

Por sua vez, Ricardo Mexia, que suspendeu o mandato como presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, para concorrer à Junta de Freguesia do Lumiar, conseguiu o objetivo. Ganhou com mais de 40% dos votos, destronando o primeiro lugar do PS em 2017 (e o vice-presidente da bancada do PS Pedro Delgado Alves). Mexia era candidato pela Coligação Novos Tempos, candidatura encabeçada por Carlos Moedas que junta PSD, CDS-PP, PPM, MPT e Aliança.

Ricardo Baptista Leite, médico infeciologista e vice-presidente da bancada do PSD, não teve tanto sorte. O socia-democrata tem assumido um papel de destaque nas críticas endereçadas ao Governo no que toca ao combate à pandemia. Nestas autárquicas, era o candidato da coligação PSD/CDS/MPT/PDR/PPM/RIR a Sintra para destronar Basílio Horta, que está à frente da autarquia desde 2013. Mas, apesar da mega coligação, não atingiu o objetivo: ficou em segundo (27,52%) ligeiramente abaixo do resultado de 2017 (29%). Destaque para o Chega que atinge o terceiro lugar com mais de 11.000 votos e 9%. Ainda assim, contribuiu para que Basílio Horta perdesse a maioria.

O “médico da TV” que quer “curar Sintra” não tira a “tranquilidade absoluta” a Basílio Horta

Filho de António Costa ganha Junta de Campo de Ourique por apenas 25 votos

Pedro Costa, filho do primeiro-ministro, António Costa, ganhou a junta de Freguesia de Campo de Ourique mas com apenas mais 25 votos do que a coligação PSD/CDS/Aliança/MPT/PPM liderada por Teresa Morais Leitão. O socialista conseguiu 34,26% dos votos (3.500), enquanto que a coligação de direita atingiu 34,02% (3.475).

A presidência da Junta de Campo de Ourique passou para as mãos de Pedro Costa no ano passado, quando o então presidente Pedro Cegonho abdicou do mandato.

Da TV para as autarquias? Nem por isso

Ganharam ambos notoriedade na televisão, mas também não conseguiram levar a melhor nas urnas. A advogada e comentadora televisiva Suzana Garcia não tirou a socialista Carla Tavares da Amadora, que se manteve com mais de 43%. A coligação de Garcia (PSD/CDS/Aliança/MPT/PDR) ficou em segundo com 24,55% (15.230 votos), ainda assim melhorando o resultado do PSD de há quatro anos (18,09%).

Suzana Garcia assume responsabilidade por falhar vitória na Amadora

Também Marco Pina, comentador de arbitragem da CMTV, tentava a eleição em Odivelas, mas não foi suficiente para destronar o PS. Os socialistas mantêm-se na liderança com 44,84%; Pina ficou pelos 20,13%.

Celorico de Basto (onde Marcelo vota) mantém-se nas mãos do PSD, mas PS ganha (muita) força

Celorico de Basto, onde vota Marcelo Rebelo de Sousa (e a terra da avó Joaquina), mantém-se nas mãos dos social-democratas. De 46,86% em 2017, o PSD atingiu agora 44,80% dos votos (5.507). Mas é o PS que mais sobe — de 15,49% e um terceiro lugar passa para 37,88% e segundo lugar. O movimento Cidadãos Independentes por Celorico de Basto (CIC) caiu para terceiro.

O presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, tem raízes em Celorico de Basto, onde foi, aliás, presidente da Assembleia Municipal em dois mandatos (1997/2005).

O concelho em que cada partido teve maior percentagem de votos

  • PS: Vizela (74,09%)
  • PSD: Sernancelhe (81,89%)
  • CDS (coligado com o PSD): São Vicente (70,48%)
  • BE (coligado com PS, PAN, MPT e PDR): Funchal (39,22%)
  • Chega: Serpa (14,97%)
  • CDU: Monforte (62,37%)

PS mantém-se no concelho maior e no mais pequeno

Odemira, com uma área de 1.720,60 quilómetros quadrados, mantém a liderança do PS, embora tenha perdido 9,03 pontos percentuais. A CDU melhora 4,05 pontos percentuais e volta a ficar em segundo. Já o PSD perde o terceiro lugar, a que ascende o Bloco, com 6,59%. Os social-democratas vêm logo a seguir (6,32 %).

No lado oposto, no concelho mais pequeno do país, o centrista João Almeida queria tirar São João da Madeira das mãos do PS, mas sem sucesso. O ex-candidato à liderança do CDS concorria coligado com o PSD e a Iniciativa Liberal, mas não foi além do segundo lugar, num resultado muito semelhante ao de 2017. O PS renova, assim, a maioria absoluta, descendo ligeiramente para 51,60% (5.009 votos). A candidatura de João Almeida conseguiu 32,13 % (3.119 votos).

Mayan Gonçalves ficou em sexto nas presidenciais. Agora, é presidente da Junta

Oito meses depois de conseguir o sexto lugar nas eleições presidenciais de janeiro pela Iniciativa Liberal, Tiago Mayan Gonçalves foi eleito presidente da União de Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde, depois de vencer aquela autarquia do concelho do Porto a que se candidatou pela lista do movimento independente de Rui Moreira.

Mayan conseguiu 36,92% dos votos, acima dos 27,53% do PSD, que ficou para segundo. No Twitter, Mayan Gonçalves confirmou que venceu  em todas as mesas de voto da união de freguesias. “Muito feliz pela confiança depositada pelos fregueses de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde. Ganhar em todas as mesas é uma enorme responsabilidade. Contem comigo, contem connosco”, escreveu.

Nos concelhos com maior área ardida, o PS tem mais força

Apesar de alguns dos mais violentos incêndios do país terem acontecido numa legislatura socialista (em 2017), a base de dados da Eye Data para a agência Lusa revela que nos concelhos com maior superfície ardida tendem a escolher mais o PS (36,9% dos votos nesses concelhos vão para os socialistas).

Os dois candidatos mais jovens ficaram em sexto

Um com 19, outro com 20 anos. Foram os candidatos mais jovens à presidência de Câmaras municipais, mas não venceram as respetivas corridas. Mário Bettencourt Amaro (20 anos) concorria à Câmara de Alenquer numa coligação CDS-PP/Nós Cidadãos/Aliança/PPM/PPT CDS-PP, só que não foi além do sexto lugar, com 6,43 % (1.162 votos). Não conseguiu eleger nenhum vereador. Em 2017, as coligações a votos eram bem diferentes: o CDS-PP, de que Mário Amaro faz parte, concorreu coligado com o PSD e, na altura, teve mais de 20% dos votos.

André Xavier, ainda mais jovem (19 anos), era o candidato do Bloco de Esquerda à Câmara de Bragança e também não pôde gritar vitória. Ficou em sexto lugar com 1,32% (237 votos), metade do que o partido conseguira em 2017.

As campanhas mais insólitas: como ficou o “marido da Lara” e quem “abraça Aranhas”?

Foram os protagonistas de alguns dos cartazes mais insólitos da campanha. Paulo Gonçalves, para muitos conhecido como o “marido da Lara” (ou o “professor da Mariana” e o “treinador dos Félix e dos Malaquias”) ficou pelo segundo lugar com 36,61%, melhorando ligeiramente o resultado de há quatro anos. Candidatava-se pelo PS à Câmara de Óbidos, mas não foi capaz de tirar o lugar ao PSD.

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Já Isabel Reis, candidata independente, queria “Abraçar Aranhas”. Não conseguiu vencer na junta de freguesia de Aranhas (Penamacor): ficou com 32,74% dos votos (73), praticamente metade do que o PS.

E Alexandre Poço, que não escondeu as meias laranjas e se propôs a “dar tudo por Oeiras”? Também não impediu a maioria absoluta de Isaltino Morais. Poços, candidato do PSD/MPT, conseguiu que o partido social-democrata subisse para um terceiro lugar, embora tenha perdido alguns votos. Em 2017, numa coligação com CDS-PP e o PPM teve 8,77% e, desta vez, ficou com 7,91%. Ainda assim, consegue manter um vereador.

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Algumas das Câmaras foram reconquistadas após décadas

O PS volta ao poder em Alvito (Beja), 20 anos depois. Os socialistas somam 49,66% dos votos (658), destronando a CDU, que nas últimas eleições ficou em primeiro com 49,05%. Desta vez, os comunistas não vão além dos 34,26% (2 mandatos). O PS tem três mandatos. Em terceiro surge o PSD coligado com o CDS (11,7%).

Também 20 anos depois, o PSD voltou a ganhar em Águeda, com 46,07% dos votos, face aos 19,42 % conquistado em 2017. O PS conquistou 30,32 %, o CDS obteve 11,14 %, o Chega 3,87 % e o Bloco de Esquerda 1,99 %. Por fim, 1,46 % para o PCP.

Da mesma forma, o PCP conseguiu virar o jogo em Viana do Alentejo, conseguindo, 16 anos depois, vencer com 37,36 % dos votos. Recuperou, assim, o concelho ao PS, que em 2017 tinha conseguido maioria absoluta com 52,01 % dos votos. Agora, o PS conquistou 33,03 % e a coligação encabeçada pelo PSD obteve 26,99%.

Já o PSD voltou à Câmara Municipal de Pedrógão Grande, agora com 52,6% dos votos. Os socialistas, com Valdemar Alves, tinham levado a melhor nas eleições autárquicas de 2017, com 55,8% dos votos, depois de em 2013 o próprio ter sido eleito mas pelo PSD.

Com Carolina Branco e Marta Leite Ferreira

Artigo corrigido: o PCP reconquistou Viana do Alentejo e não Viana do Castelo