David está outra vez em casa. Depois de meses a gerir pequenos sustos, o teste positivo da namorada colocou-o em isolamento preventivo. O seu não acusou presença do vírus que há oito meses virou o mundo ao contrário. A entrevista presencial deixou de ser uma possibilidade. Acionou-se o plano b, ou melhor, o plano z (de Zoom), onde chegou, sorridente e simpático, determinado a compensar a distância física. Com a sua camisola de lã descolada do corpo, David não podia parecer mais confortável. Afinal, a par da bricolage e da cozinha italiana, o confinamento de março trouxe lições que não se esquecem.
Durante mais de uma hora, subtraindo apenas pausas técnicas e os breves instantes em que posou para a objetiva do João Porfírio (tudo no ecrã, entenda-se), a conversa gravitou em torno de “Os sonhos não têm teto”. O livro, escrito entre dezembro e maio, é o primeiro do jovem músico e ator. Tem lançamento marcado para a próxima terça-feira e um título que em tempos serviu de slogan, num anúncio a um automóvel descapotável. No interior, está uma espécie de diário que divide em curtos episódios a curta (porém bem-sucedida) carreira de David, mas também a vida.
Ambas as dimensões estão intimamente ligadas ao clã. Carreira é a marca cunhada pelo pai e que os três filhos acabaram por seguir. Não há nada de intencional no fenómeno, garante, muito menos uma linha de montagem de cantores no seio da família. É ela, na verdade, a principal preocupação de David por estes dias. Diz que anda a pensar em antecipar o Natal, só para poder reunir toda a gente. Uma das muitas ideias que lhe pairam na cabeça, onde também já toca um novo álbum. Vai chamar-se 8 e chega no próximo ano, embora o aperitivo tenha lançamento marcado já para o final deste mês.
Esta entrevista via Zoom não estava nos planos.
Ultimamente, a nossa vida anda um bocado… Sobretudo eu, que estou a gravar a novela, acabo por estar em ligação com muitas pessoas. Já é usual — semana sim, semana não — ficar isolado, fazer testes. Até agora, nunca dei positivo, mas tem sido a nossa vida, ultimamente.
Como é que se lida com esta imprevisibilidade na música?
Neste momento é, sobretudo, safarmo-nos através do digital. Quando é a gravação de um videoclipe, é prever uma opção a, b e c. É fazer os planos com muito mais tempo e admitir que pode haver derrapagens. Mas é, principalmente, apoiarmo-nos no digital. É óbvio que falta a ligação com as pessoas e a energia tanto do público como das pessoas com quem trabalhas. Essa ligação não tens.
Este ano, teria sido impossível continuar a programar um concerto na Altice Arena, por exemplo.
Tive sorte, mais uns meses e se calhar já não acontecia. Agora, tenho dois concertos para os dias 5 e 6 de dezembro e vão acontecer. Consoante as medidas do Governo, os produtores e os artistas podem ter de mudar os planos, mas as coisas têm de acontecer. Não podemos travar a cultura, no nosso e em qualquer país. Temos de evoluir com o que temos — com o teatro, com o cinema, com a televisão, com a música, com a arte. Matar a cultura é matar a alma do país. No caso dos meus concertos, se tiverem de deixar de ser ao fim de semana e passar para um dia de semana, mudam-se. O importante é, tanto para as pessoas como para os artistas, seguir com a nossa vida. E nós o que queremos é cantar e estar com o público.
O setor tem sido um dos mais atingidos pelas medidas de restrição. Como é que vê a resposta que o Governo tem dado às necessidades dos profissionais da cultura?
Sinceramente, acho que o nosso Governo tem de arranjar soluções. Posso falar, sobretudo, da parte que conheço, a música. Conheço artistas que estão a mudar de profissão porque não têm trabalho e não têm forma de aguentar mais tempo assim. Há situações em que queremos trabalhar, mas não temos hipótese de o fazer. E quando digo artistas, falo dos músicos, dos técnicos e dos produtores. A música gera muitos empregos. Quando não há concertos, não é só o cantor que deixa de ter trabalho, são todas as equipas que estão à volta e há toda uma estrutura de profissionais que ficam sem trabalho.
Lembro-me de, no início desta pandemia, pensar que ia ter Rock in Rio, que ia ter 60 datas e que, de repente, tinha sido tudo cancelado — “O que é que vou fazer?”. Mas sempre fui muito positivo, muito otimista. Arranjo sempre uma forma de, não indo por ali, fazer outros projetos. Mas há pessoas que não têm essa possibilidade, que precisam que lhes deem a oportunidade de trabalhar. Tenho a sorte de ter sido sempre muito virado para o digital — o tema com o Kevinho, no verão, correu muito bem, a minha marca de roupa está a correr muito bem, agora o livro. Voltei à representação na novela “Bem me Quer”, na TVI. Acabei por não parar. Não gosto de sentir que estou a estagnar e que não estou a criar alguma coisa. Mas ainda só tive um concerto este ano. É como chegar ao pé de um artista e dizer-lhe: “Agora acabou”. Sinto muitas saudades do palco.
O livro chama-se “Os sonhos não têm teto”. Lembra-se do seu primeiro grande sonho?
Ainda ninguém sabe o porquê do livro ter este nome. Devia ter uns 13 ou 14 anos. Saía de casa e sempre que ia e voltava do liceu, passava por um outdoor gigante de uma marca de carros. Era um descapotável e a publicidade dizia: “Os sonhos não têm teto”. Ia para as aulas e ficava a olhar para aquilo e para mim tinha muito sentido, não era só mais um anúncio. Bateu-me muito naquela altura. O meu sonho era ser futebolista e aquela mensagem dizia que era possível. E é verdade: não têm teto, basta sonhar. Às vezes o que sinto é que, com o passar dos anos, todos pomos certos sonhos de lado porque achamos que são impossíveis, ou que não são para nós, que não somos bons o suficiente, que não vamos encontrar as portas abertas. Ao longo da minha carreira tive a sorte de arriscar e de as coisas correrem bem. Essa frase acompanhou-me sempre. Quando proponho ao Snoop Dogg fazer o primeiro dueto com ele, foi numa de: “‘Bora, o não é garantido”. Quando lanço o primeiro álbum também foi assim — se não corresse bem, voltava a estudar. No lançamento das bilheteiras da Altice Arena foi: “Se não esgotar, pelo menos já lá fui”. Foi sempre um mote, uma frase motivadora. Não é um livro motivacional, mas é o meu testemunho sobre a forma forma como me motivo a mim próprio, um diário onde conto histórias minhas.
Até onde chegou esse sonho de ser futebolista?
Fui até ao último ano de juniores, a altura em que passamos das escolas para o escalão profissional. É sempre uma transição complicada para um jogador de futebol porque passa para um escalão onde tem pessoas de 19, 25, 30, 35 anos, que têm muito mais experiência. Nessa altura, acabo por ter uma lesão no joelho direito e por não ter muitas ofertas interessantes. Foi aí que pensei em voltar a estudar. Fui para a Nova e inscrevi-me em Economia, o curso que queria tirar. Nessa altura, fiz um casting para os Morangos, fiquei e acabei por fazer a série. E não estudei.
Há alguma relação entre essa lesão e o início da carreira na música?
A música esteve sempre presente por razões óbvias. Sempre gostei da parte da criação, no estúdio e no lado em que se monta o concerto ao vivo. Mas foi sempre um sonho inalcançável. O futebol era algo possível, sempre tinha vivido com aquilo. A música era algo de que gostava imenso, mas que o meu pai já fazia e, por isso, sempre a vi como inalcançável. Nos Morangos com Açúcar, a minha personagem queria ser bailarino e cantor. Foi aí que comecei a cantar. Foi quando pensei em gravar algumas músicas e mais tarde em lançá-las. Foi o destino.
Para dar esse passo, foi preciso vencer algumas barreiras? As que tornavam a música algo inalcançável?
Nunca pensei demasiado nas coisas. Quando comecei a escrever, não me imaginava a lançar um álbum. Queria compor umas músicas e ouvir a minha voz sem ser nas versões do Elvis Presley que me pediam para cantar nos Morangos. Nunca criei barreiras no sentido de achar que ia correr mal ou que ia ser muito difícil. Fui fazendo e foi a partir do meu terceiro álbum, ou seja o primeiro em francês, que comecei a ver a minha carreira como algo mais sólido, mas refletido. No início, fui muito pela vibe.
Pertence a uma família onde praticamente toda a gente tem uma carreira musical. Vendo de fora, parece que há uma intenção em criar uma dinastia de cantores.
Quando tiver um filho, desejo-lhe tudo menos seguir esta carreira. Não é simples, porque quem manda é o público. De um dia para o outro podes não ter trabalho. Sempre quis estudar precisamente porque as coisas podem não correr tão bem e não tens propriamente um curso para te agarrares. Dedicarmo-nos todos à música nunca foi uma intenção. No dia em que tiver um filho, a primeira coisa que lhe vou dizer é: “Não vás por aí”. Por isso mesmo — é inconstante e no momento que estamos a viver agora isso sente-se ainda mais.
É difícil ter controlo.
É isso. Fazes o teu melhor, escreves a música com o teu coração, mas não és tu que mandas. Não é matemático, nem na música, nem na representação. [Estarmos todos na música] é algo que nunca foi pensado, foi mais uma coincidência engraçada.
Qual é a sua primeira memória musical? E quando é que percebeu que o seu pai era um cantor famoso?
A primeira vez que percebo que gosto de música é quando me oferecem, no Natal, um boneco do Michael Jackson. Carregava naquilo e tinha música, cantava. Sempre fui fã do Michael Jackson, do Justin Timberlake, do Usher — muito esse tipo de cantores que combina a música, a dança e a representação. Foi nessa altura que me lembro de olhar para o boneco e de ficar fascinado. Via os videoclipes do Michael e ficava: “Uau”. Foi nessa altura que percebi que gostava verdadeiramente de música e que me interessava também o backstage e ver como é que as coisas eram feitas. Quem é que produzia as músicas? O Quincy Jones entrava no álbum do Michael, mas quais eram as histórias do Michael Jackson em torno da criação das músicas? Às vezes, ouvia os takes da voz do Michael em isolado, só para ver como é que ele gravava as vozes. Ganhei essa curiosidade.
Em relação ao meu pai, foi num concerto no Olympia, acho que o primeiro dele lá. Lembro-me de ter ido para os corredores, onde havia — não sei se ainda há — umas paredes com os moldes das mãos dos artistas que lá tinham cantado. E lembro-me de andar a pôr a minha mão em todos, a ver se era parecida com a de algum cantor que lá tivesse ido. E vi aquele concerto e pensei: “Se estivesse em cima do palco, o que é que iria fazer?”. Nem sequer me passava pela ideia cantar, devia ter uns 15 anos.
Nessa altura já vivia em Portugal. Quão marcante foi essa mudança?
Sempre senti que era português, mas culturalmente, quando vivia em França, era francês a 100 por cento. Não tinha ligação com a cultura portuguesa, nem falava português. A música que ouvia era muito hip hop francês, hip hop americano também. Quando venho para Portugal descubro a língua pela primeira vez e tenho ali um período em que não me adaptei rapidamente. Demorei um ano, o que também acho normal, durante o qual aprendi a falar. Fez-me bem. Há muitas coisas da cultura francesa das quais continuo a gostar. Sinto que essa mistura, até na minha música.
Foi um ano doloroso, também pela adaptação à escola, por exemplo?
Um bocadinho. Acho que estava no 6º ano quando vim e chumbei. Aprendi a falar português a ler as placas que diziam Lisboa e Porto. Estranhamente, em França, nós não falávamos português em casa. Depois também era um bocado cheio. Aliás, conto no livro que sofri um bocado de bullying por causa disso. Cheguei a escrever uma música sobre isso, no meu primeiro álbum francês. Mas, ao mesmo tempo, acho que me trouxe outras coisas. Quando sofres essas situações complicadas na adolescência e na infância, tornas-te mais forte.
Sentiu isso mais tarde?
Deu-me um lado rebelde, que foi bastante marcado durante a adolescência. Estás a ver quando tentas esconder mágoas criando várias camadas? É um mecanismo que uso imenso na representação, mas também no meu dia-a-dia. É esconder um defeito, exagerando outro aspeto. A minha infância foi um pouco isso: era o miúdo maluquinho, engraçado e que fazia a festa para esconder uma timidez. E continuo a ser muito assim. Quando não conheço as pessoas, estou calado. O que aconteceu ajudou-me a criar uma personagem extrovertida e que fala, mas na realidade não é bem assim.
A própria rebeldia também foi uma resposta a isso?
Sem dúvida, mas isso acalmou quando comecei a jogar futebol. Ao mesmo tempo, fiquei mais magrinho e deixei de ser alvo de algumas situações na escola. Aí acalmo. Mas continuo a ter aquela extroversão, que nem sempre é verdadeira.
No livro, diz que ser filho do Tony Carreira lhe fechou portas. Foi difícil entrar na música com esse rótulo?
Não diria que foi difícil. São dois lados da mesma moeda: é óbvio que há uma visibilidade, mas ao mesmo tempo fecham-se algumas portas, porque tens de provar que mereces estar naquele sítio.
Mais do que alguém que não tenha historial de música na família?
Sim e por uma razão: quando começas a carreira e és um desconhecido, tens tempo para errar porque ninguém está ver os erros que estás a cometer. Quando digo errar é lançar aquela música que não é assim tão boa, fazer aquela atuação que não correu assim tão bem. Tens tempo para perceber o que queres. Ou nasces no teu primeiro projeto e já encontraste a tua identidade musical ou, na maior parte das vezes, vais criando a tua identidade, vendo o que fica melhor com a tua voz, melhorando a tua escrita. Quando já tens todos os olhos em cima de ti, não tens tempo. A representação ajudou-me a chegar logo com mais bases.
Sentiu a pressão de que tinha de ser o mais assertivo possível logo na estreia?
Sim, mas, ao mesmo tempo, como sempre fiz as coisas com feeling, acabei por não pôr a pressão em cima de mim. No primeiro álbum, quis fazer umas músicas e lançá-las. Se corresse bem, corria. Se não corresse bem, ia estudar. O primeiro correu bem, o segundo aconteceu e foi só a partir do terceiro que quis provar a mim próprio que conseguia ter uma carreira em França e lançar algo sem o peso do nome Carreira. Só quando as coisas começaram a correr bem lá é que olhei para a minha carreira na música como algo a longo prazo.
Teve de sair da sombra da família para se conseguir afirmar?
Daí o álbum chamar-se Tout Recommencer — recomeçar. Porque, para mim, foi isso. A partir do segundo álbum comecei a fazer concertos como cabeça de cartaz. Quando voltei para França, tive de fazer primeiras partes, de voltar a cantar nos bares, de fazer festas de rádios locais, coisas que mexem com o ego de qualquer pessoa. Lembro-me de uma rádio local organizar um espetáculo numa pista de gelo, enquanto as pessoas patinavam, num domingo. Fui com um DJ e um MC e ninguém queria saber quem era o cantor que ali estava. Dói, sobretudo quando já conheceste coisas boas. Mas ajudou-me a crescer. Depois de ter boas condições, deram novamente condições terríveis e isso deu-me estaleca e mais motivação.
Foi uma altura de altos e baixos?
Foi. Em duas horas de avião, deixava de ser um perfeito desconhecido para passar a ser um artista que estava a começar e que já tinha uma camada jovem que o seguia. Não tem a ver com sair à rua e ser reconhecido — isso nunca me fascinou –, mas é chegar e ter uma estrutura, músicos que fazem a digressão inteira, pessoas que cantam as minhas músicas. Quando cheguei a França e ninguém conhecia as minhas músicas, tive de recomeçar.
O concerto da Altice Arena é muito referido no livro. É o momento mais marcante da sua carreira até hoje?
Sem dúvida. Acho que foi a transição para o que ainda vai surgir. Para qualquer artista, a Altice Arena é uma sala com responsabilidade, difícil de encher. Era um desafio, sobretudo da maneira como foi feito, em 360 graus. O concerto e os dois anos anteriores levaram-me a escrever o livro, a ter vontade de desabafar um bocadinho. Lancei o álbum 7 com 19 videoclipes — não sei o número ao certo –, duas tours, uma reedição do álbum e a preparação do concerto. Foi intenso, física e psicologicamente. Quis desabafar e, como tinha acabado de escrever um álbum, queria fazê-lo na música. Já me tinham convidado várias vezes a fazer um livro, mas achei sempre que era muito novo. Tinha a sensação de que quem escreve um livro tem de ter 25 anos de carreira, só tinha dez. Então, comecei a escrever um diário onde falo dos meus pensamentos e onde acabo por contar algumas histórias. Há um acontecimento — estava prestes a entrar no concerto da Altice Arena, a 70 metros de altura, e o microfone tinha desaparecido. Tudo a chamar por mim e não havia microfone. No livro, há um QR code e dá para ver o que foi filmado nesse momento.
Acabou também por ganhar visibilidade internacional, além da ponte com França. Era um objetivo?
Não foi um objetivo, mas foram certos projetos que também quis realizar. A internacionalização da minha carreira aconteceu através do Brasil. É algo que, cada vez mais, faz sentido na música: a ponte entre mercados e artistas. Hoje em dia, estamos à distância de uma mensagem no Instagram e muitos dos duetos que aconteceram com os artistas brasileiros foram convites feitos assim: “Olha, gosto muito da tua música. Que tal fazermos alguma coisa juntos?”. Sempre fui fã do discurso entre músicos dentro do estúdio, daí não trabalhar nem escrever sozinho. Muitas vezes faço a base e depois trago amigos para o estúdio, que dão uma ideia para um verso ou para a letra.
Também chegou aos Estados Unidos via Brasil, ou foi através do Instagram?
A minha colaboração com o Snoop Dogg foi via França. Estava a trabalhar no meu primeiro álbum quando conheci uma pessoa no estúdio que me disse que era muito amiga do dele e da malta que trabalhava com ele. Passados não sei quantos anos, encontro-o novamente em estúdio, já a trabalha no segundo e no terceiro álbuns. Perguntou-me se gostava de fazer um dueto com o Snoop. E as coisas aconteceram. É claro que houve toda a parte burocrática tratada pelas editoras, mas para mim, estar em estúdio com ele, vê-lo criar e filmarmos o videoclipe em LA, foi uma experiência.
O que é que o surpreendeu mais?
Já me tinham avisado que ele era muito tranquilo e aberto a ouvir ideias. E foi o que encontrei quando trabalhei com ele. O que me impressionou na altura — tinha à volta de 21 anos — foi vê-lo a escrever tão rapidamente o verso dele. A música estava escrita em francês e ele perguntou-me do que é que falava. Passados 15 ou 20 minutos, já tinha gravado a parte dele.
Voltou aos Estados Unidos depois disso. Aliás, no ano passado lançou a falsa notícia de que tinha sido detido pela polícia. Houve muita gente a zangar-se consigo nessa altura?
Houve, sem dúvida. E isso é o lado mau de fazer as coisas com feeling, no momento. Sempre fui assim e às vezes é bom porque não crias barreiras. Em relação à maneira de divulgar esse single: foi muito falada na altura por motivos que hoje em dia estão completamente resolvidos. O que fiz foi afetar uma imprensa séria quando o objetivo não era esse, mas sim chegar a uma imprensa que, nós sabemos, acaba por lançar notícias que nem sempre são verdadeiras. A minha ideia, naquele impulso do momento, foi: “Então, porque não criar uma notícia que não seja verídica e que faça parte do videoclipe”. Acho que não falo disto no livro. Fica para o próximo.
Faria a mesma coisa hoje?
Se fizesse, faria diferente. Da mesma forma que, se voltasse a fazer o álbum, não o escreveria da mesma maneira.
Como é que viveu o confinamento de março e abril?
Foi complicado. Tinha muitas coisas planeadas e que queria fazer em 2020. Ao mesmo tempo foi bom, porque tive hipótese de fazer coisas que achava que não ia conseguir, a representação e este livro. Consegui progredir na escrita para um novo álbum. Escrevi a música “Festa”, que é sobre a vontade de voltar a ter uma vida normal e de voltar a estar com as pessoas. Está a ser um ano difícil, mas também teve coisas boas.
A um nível mais pessoal, habituou-se bem à vida dentro de quatro paredes?
Montei um estúdio ali num cantinho, por isso consigo trabalhar. Armei-me em carpinteiro — adoro tudo o que seja construir e bricolage — e comecei a remodelar um bocado a casa. Quando o confinamento acabou, passei o trabalho a pessoal qualificado. Cozinhei imenso e vi imensas séries que acabaram por me dar ideias para coisas de trabalho. Mantive sempre a ligação com a família, sobretudo com a minha avó, que sofre de Alzheimer e com quem passei muito tempo nos meses de janeiro e fevereiro, em casa da minha mãe. Com a pandemia, mantive esse contacto através da tecnologia.
Na cozinha, quais são as especialidades?
Lasanha, massa carbonara, massa com trufas… Adoro trufas, foie gras, alheira e tudo o que seja servido em tapas. Normalmente não consigo cozinhar, mas a quarentena deu-me essa hipótese.
Quando pudermos retomar a vida pré-pandemia, qual a primeira coisa que vai querer fazer?
Há duas coisas: cantar ao vivo sem restrições, sem máscaras nem distanciamento — já me avisaram que é difícil e que não é a mesma coisa. Sentir a energia, dar autógrafos e falar com as pessoas no final. Depois, acho que fazer um programa de sábado à noite normal, com jantar entre amigos e muita malta. Este Natal vai magoar-me muito. Como não dá para juntar a família, já estou a a ter ideias de como organizar um Natal antecipado, com as restrições necessárias, mas para poder estar com a família.
Além da inevitabilidade de fazer 30 anos, o que é que antevê para 2021?
Há muitas coisas que quero fazer, mais na área da música. Concertos, vão acontecer de certeza, seja presencial ou virtualmente — já estou a preparar novos conceitos. Um novo álbum: 8. Alias, no final deste mês já vou lançar um novo tema que faz parte do próximo álbum. Mais projetos na ficção, sobretudo no cinema. Há várias possibilidades que quero deixar em aberto.