Esta terça-feira, 15 de setembro, a contagem decrescente para as eleições presidenciais dos EUA passará para 49 dias. Mas um dos lançamentos editoriais mais esperados nos EUA pode muito bem criar a sensação de que as eleições são a seguir — e, de alguma forma, influenciá-las. Estamos a falar do mais recente livro do jornalista Bob Woodward, co-autor da investigação ao Watergate, que lança esta terça-feira a sua mais recente obras: “Rage”. Ou, em português, “Raiva”.
Este é o segundo livro de Bob Woodward sobre a administração de Donald Trump (o primeiro, “Medo”, foi editado em Portugal pela Dom Quixote em novembro de 2018) e a sua principal força é o facto de, desta vez, e ao contrário do que aconteceu na obra anterior, o jornalista ter entrevistado o Presidente dos EUA ao longo de vários meses.
Ao todo, foram 18 as entrevistas por telefone que Donald Trump aceitou que fossem gravadas — e é precisamente nesses clipes de áudio que o Presidente dos EUA é gravado a dizer algumas das declarações que fizeram manchetes ainda antes de o livro ter sido lançado. Aquela que mereceu maior destaque diz respeito à pandemia da Covid-19: numa conversa de 7 de fevereiro, Trump reconhece que aquela doença é “letal”. Enquanto isso, em público, procurou minimizar a importância daquela doença que já fez mais de 600 mil mortos só nos EUA.
Ainda antes de ser lançado, o livro já levou a várias reações.
Na Fox News, o Presidente norte-americano respondeu que decidiu participar no livro apesar de ter dito, já depois de serem conhecidos os excertos sobre a Covid-19, que Bob Woodward só faz “hit jobs” — termo geralmente utilizados no reino dos sicarios, isto é, homicidas contratados. “Achei que valia a pena dar-lhe uma oportunidade”, disse. Agora, diz já que lhe concedeu “algum tempo” e que “como é costume com os livros que ele escreve não correu lá muito bem”.
“Ou então talvez seja bom, quem sabe”, disse. “Quase de certeza que não o vou ler, porque não tenho tempo para lê-lo.”
O que parece é que, também sem o terem lido, alguns eleitores que em 2016 votaram em Donald Trump podem agora tomar uma decisão diferente por causa do livro de Woodward e das suas revelações. De acordo com uma sondagem do YouGov com a Yahoo News, 15% de eleitores dos inquiridos disseram que aquilo que já se sabe do livro os leva a estarem mais inclinados a não votar em Donald Trump — e, destes, um terço tinham votado em Donald Trump há quatro anos.\
Coronavírus: Trump sabia que pandemia era “letal”, mas não quis gerar “pânico”
Ao longo do mais recente livro de Bob Woodward, pode ler-se em várias passagens como Donald Trump foi informado pela sua equipa, entre especialistas de saúde pública e também os seus conselheiros de Segurança Nacional, para os perigos da Covid-19. E, ao contrário do teor das suas declarações públicas à altura, que apontavam para uma desvalorização da doença, Donald Trump sabia que ela era “letal”.
A palavra foi dita pelo Presidente dos EUA em entrevista por telefone com Bob Woodward a 7 de fevereiro — isto é, numa altura em que só tinha havido 12 casos confirmados nos EUA e uma morte. Referindo-se a uma chamada em que falou com o Presidente da China, Xi Jinping, Donald Trump disse que a situação era “complicada” e explicou: “[O vírus] passa-se pelo ar. Isso é muito mais complicado do que se fosse ao toque. Não é preciso tocar em coisas, certo? Mas pelo ar basta respirar o ar e assim é que ele passa. E por isso é muito complicado, é muito delicado. É ainda mais letal do que uma gripe vigorosa”. E sublinhou: “Isto é uma coisa letal.”
Enquanto isso, em público, Trump apresentava uma postura otimista. Por exemplo, a 27 de fevereiro, dizia que a pandemia “ia desaparecer”. “Um dia, como um milagre, vai desaparecer”, disse. Porém, duas semanas mais tarde, a 11 de março, a Organização Mundial de Saúde (OMS) viria a declarar a Covid-19 uma pandemia. No dia 19 do mesmo mês, Donald Trump explicou que, apesar de ter a informação de que o vírus era “letal”, estava a “minimizar” a importância que lhe dava para não causar pânico.
“Sempre quis minimizar isto, e continuo a querer minimizar, porque não quero criar pânico”, disse o Presidente dos EUA, numa entrevista gravada em áudio.
Agora que este excerto foi tornado público e se tornou num dos factos políticos mais importantes da semana passada, Trump mantém a mesma explicação que deu a Bob Woodward no dia 19 de março: a de que não queria causar uma situação de pânico generalizada, não só nos EUA como no resto do mundo.
“Não quero que as pessoas estejam assustadas, não quero criar pânico e certamente que não vou levar o país ou o mundo a um frenesim”, explicou-se o Presidente dos EUA a partir da Casa Branca. Mais tarde, em direto para o programa de Sean Hannity na Fox News, Donald Trump insistiu nessa mesma ideia: “Eu não queria estar a saltar para cima e para baixo e ficar descontrolado. Não entrem em pânico. Eu apoio este país e não quero ver pânico”.O ex-vice-Presidente dos EUA e adversário democrata de Donald Trump nestas eleições, Joe Biden, acusou o Presidente de ter feito uma “traição de vida e morte ao povo americano”.
“Ele sabia o quão letal o vírus é. Ele sabia e minimizou tudo de propósito. Pior, ele mentiu ao povo americano. Mentiu consciente e propositadamente sobre a ameaça deste vírus ao país durante meses. É para lá de abjeto. È um abandono de dever, é uma desgraça”, disse Joe Biden num discurso no Michigan. “Enquanto esta doença letal arrasava a nossa nação, ele falhou no seu trabalho. De propósito.”
Também a speaker da Câmara dos Representantes, a democrata Nancy Pelosi, criticou duramente Donald Trump. Num comunicado enviado na quarta-feira, disse que as “próprias palavras” do Presidente continham a “verdade devastadora” de que “Trump estava completamente a par da natureza catastrófica do vírus mas escondeu os factos e recusou levar a ameaça a sério, deixando o nosso país exposto e mal preparado”.
Mas também houve quem saísse em defesa de Donald Trump. Foi o caso de Karl Rove, comentador residente da Fox News e antigo conselheiro sénior e diretor de campanha de George W. Bush. Munido de um pequeno quadro, referiu diferentes situações em que Joe Biden e outros responsáveis democratas desvalorizaram o vírus ou discordaram de medidas que Donald Trump tomou — como, por exemplo, a proibição de viagens de cidadãos chineses (mas não de voos per se) vindos da China para os EUA a 31 de janeiro, medida que Joe Biden disse que era “xenófoba”.
“Aqui está um tipo a dar um sermão ao país a dizer que Donald Trump matou pessoas deliberadamente e que [o Presidente] devia ter-lhe dado ouvidos. Mas ele e as pessoas dele não disseram para suspendermos a economia, não disseram que tínhamos todos de usar uma máscara ou que tínhamos de entrar em quarentena”, referiu Karl Rove. “Por favor, podemos dar um passo atrás e olhar para nós primeiro? Isto é um exagero.”
Racismo: a negação do privilégio, mas o reconhecimento do racismo institucional
A 19 de junho, Donald Trump ligou a Bob Woodward depois de terem passado duas semanas desde a última conversa. Nesta altura, além da pandemia da Covid-19, o tema mais discutido nos EUA era o racismo contra afro-americanos e a violência policial contra esta minoria, depois de George Floyd ter morrido asfixiado durante uma detenção que foi filmada. Num ápice, as ruas de várias cidades dos EUA foram tomados por protestos — uns pacíficos e outros, como os que ainda perduram em Portland, violentos.
A propósito do tema do racismo, Woodward perguntou a Trump se sentia que o facto de ser branco tinha sido, na sua vida, um fator de privilégio.
“Temos uma coisa em comum”, disse Bob Woodward. “Somos brancos, privilegiados. O meu pai foi advogado e juiz no Illinois. E sabemos o que é que o seu pai fez. Tem alguma sensação que esse privilégio o possa ter isolado e colocado numa cave, de certo modo, tal como me colocou a mim — e, creio, a muitas pessoas brancas que são privilegiadas — numa cave? E [acha] que temos de encontrar um caminho para fora [da cave] para entender a raiva e a dor que, em específico, os negros deste país sentem?”
A resposta de Donald Trump foi de espanto. Primeiro respondeu: “Não”. E depois acusou Bob Woodward de ter “bebido o Kool-Aid” — expressão inspirada no suicídio em massa do culto de Jonestown e utilizada para se referir a alguém que alinhe cegamente com uma ideia. “Uau. Não, não acho nada disso”, continuou Donald Trump, referindo depois uma ideia que viria a repetir no discurso da Convenção do Partido Republicano: “Fiz mais pela comunidade negra do que qualquer Presidente na História, talvez à exceção de Lincoln”. Noutra conversa, repetiu a ideia de que tinha feito “uma tremenda quantidade” de coisas pela comunidade afro-americana, mas reconheceu que não era reconhecido por isso: “Sinceramente, não sinto nenhum amor”.
De qualquer modo, apesar de não reconhecer que o facto de ser branco o possa ter privilegiado, Trump reconhece que há racismo e tensões raciais nos EUA — mas fá-lo sempre referindo que esse é um problema antigo e que é pior noutras partes do mundo.
Admitindo que há “duas Américas”, o Presidente disse: “É assim há muito tempo, Bob. Começou muito antes de eu ter estado aqui. Era assim com Obama e é assim há muito tempo. Houve uma grande divisão durante Obama. Era uma divisão mais silenciosa, mas havia um ódio e uma divisão tremendas, mais do que agora.”
Noutra conversa, a 22 de junho, quando questionado sobre se acreditava se havia “racismo sistémico ou institucional” no país, Donald Trump respondeu: “Bom, acho que há em todo lado. Acho que provavelmente há menos aqui do que na maior parte dos sítios. Ou menos aqui do que em muitos sítios”. E, questionado pelo jornalista sobre se a maneira como o racismo existe nos EUA tem um “impacto na vida das pessoas”, Donald Trump reconhece: “Acho que tem. E é lamentável. Mas acho que tem”.
Coreia do Norte: as “cartas de amor” de Trump e Kim
Outro “furo” do livro de Bob Woodward é a publicação de excertos da correspondência trocada entre Donald Trump e o ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un. O Presidente já tinha falado destas cartas (em setembro de 2018, disse em jeito de piada que Kim Jong-un lhe tinha escrito “cartas de amor” e que os dois se apaixonaram), mas o seu conteúdo era até agora desconhecido.
A correspondência que Donald Trump recebeu do seu homólogo norte-coreano foi dada a Bob Woodward pelo próprio Presidente dos EUA. E depois de Donald Trump não ter aceitado partilhar as cartas que enviou para Pyongyang, o jornalista conseguiu-as por outra via que não explicita.
Em “Rage”, Woodward refere que a leitura de toda aquela correspondência demonstra quem os dois homens tomaram a “decisão de se tornarem amigos”.
Naquelas cartas, Kim Jong-un trata Donald Trump por “Sua Excelência” e refere em textos floreados as impressões com que ficou das duas cimeiras em que esteve com o Presidente dos EUA. “À medida que entramos num novo ano, o mundo inteiro verá, num futuro não muito distante, outra reunião entre mim e Sua Excelência, própria de uma cena de um filme de fantasia”, escreve o ditador norte-coreano numa carta enviada no final de 2018.
Já Donald Trump enviou ao seu homólogo norte-coreano uma carta juntamente com uma edição do The New York Times onde os dois apareciam, aquando da visita relâmpago do Presidente dos EUA à Zona Desmilitarizada das Coreias, ocasião em que, a convite de Kim Jong-un, pisou por alguns momentos solo norte-coreano. “Presidente, é uma excelente fotografia sua, mesmo a sério”, escreveu Donald Trump a 30 de junho. A de 2 julho, voltou a enviar mais fotografias daquela visita, com novo recado: “Foi uma honra entrar no seu país e retomar as nossas importantes conversas (…) Tenho uma confiança tremenda na nossa capacidade para chegarmos a um grande acordo que leve a uma prosperidade imensa para si e para o seu povo, que vos retire o fardo nuclear e inspire as gerações vindouras”.
O livro de Bob Woodward conta ainda como na segunda cimeira entre aqueles dois líderes, a 27 e 28 de fevereiro de 2019 em Hanói, Kim Jong-un estava prestes a abdicar de um dos seus cinco centros de produção de armas nucleares — mas acabou por não fazê-lo porque Donald Trump queria que ele abrisse mão de todos e não de apenas um. É, pelo menos, essa a versão dos factos que o Presidente dos EUA dá ao jornalista Bob Woodward.
“Escute, um não chega, dois não chegam, três não chegam, quatro não chegam”, disse Donald Trump sobre os centros de produção de armas nucleares. “Cinco ajudam.”
“Mas é o nosso maior”, disse Kim Jong-un, referindo-se ao centro de Yongbyon, efetivamente o maior entre os cinco de que dispõe a Coreia do Norte. “Sim, mas também é o mais velho de todos”, respondeu Donald Trump. “Eu conheço todos os centros. Eu conheço-os melhor do que qualquer uma das pessoas da minha equipa. Você sabe disso.”
Ainda sobre a Coreia do Norte, Donald Trump disse a Bob Woodward que tinha criado “um sistema de armas nucleares como ninguém neste país alguma vez tenha visto”. “Temos coisas que nunca viram nem ouviram falar. Temos coisas de que Putin e Xi nunca ouviram falar antes. Ninguém. O que temos é incrível”, diz. Woodward confirmou com fontes que referiram que de facto havia um novo e secreto sistema de armas — e admitiram “surpresa” por Donald Trump ter referido a sua existência.
Uma administração em sobressalto: tanto em “Raiva” como em “Medo”
Já no primeiro livro sobre a administração de Donald Trump do jornalista Bob Woodward, “Medo”, eram feitos vários relatos que apontavam para uma desordem constante na Casa Branca e para uma desconfiança persistente da parte da equipa do Presidente. O livro começa precisamente com a descrição de uma cena em que o antigo conselheiro económico de Trump retirou, às escondidas, documentos da secretária do Presidente — tudo porque estes davam passos importantes na retirada unilateral dos EUA do NAFTA (acordo comercial entre os EUA, México e Canadá, entretanto substituído pelo USMCA) e de outro acordo do mesmo tipo com a Coreia do Sul.
Agora, em “Rage”, o jornalista oferece novos relatos de episódios de pessoas que, apesar de trabalharem diariamente com Trump, não confiam nele e nas suas capacidades para desempenhar corretamente as suas funções.
Um dos casos mais evidentes é o do antigo secretário de Defesa, o general Jim Mattis, que apresentou a sua demissão no final de 2018 após Donald Trump ter decidido retirar o apoio às tropas curdas na Síria — abrindo assim caminho para que a Turquia conquistasse uma importante faixa de território naquele país, à custa daqueles militares aliados dos EUA na região.
A descrição que Bob Woodward faz do general Jim Mattis daqueles tempos é a de um homem em constante sobressalto com a possibilidade de os EUA serem atacados por um míssil da Coreia do Norte — e também com a possibilidade de o reverso acontecer, sem que ele fosse consultado. Perante este sobressalto, conta Woodward, Jim Mattis passou a dormir não de pijama mas com roupas de ginástica — tudo para que estivesse minimamente apresentável para participar numa reunião com a cúpula da administração norte-americana. A possibilidade de uma reunião deste tipo ser necessária a qualquer momento era verdadeira — tão verdadeira que Jim Mattis tinha até uma luz na casa de banho preparada para se ligar no caso de uma reunião desse tipo ser convocada a meio do seu duche. Além disso, sempre que viajava, Jim Mattis tinha consigo um segundo carro — não com uma equipa de segurança, mas antes com uma equipa de comunicação e gestão de crise.
Numa conversa descrita por Bob Woodard e que terá ocorrido entre o ex-chefe dos serviços de informação Dan Coats e Jim Mattis, ambos terão estado de acordo sobre a falta de capacidade de Donald Trump para governar os EUA. A certa altura, ambos colocam a hipótese de tomar uma posição conjunta contra o Presidente sobre questões de segurança nacional e militares, como a retirada de apoio aos curdos na Síria. Jim Mattis descreve essa tomada de posição como “ação coletiva”, mas não deixa claro se esta seria em público ou em privado, perante o Presidente. De qualquer modo, Jim Mattis conclui: “Ele é perigoso”.
Outra pessoa que entrou em choque com Donald Trump foi Rex Tillerson, o primeiro secretário de Estado do primeiro mandato do 45º Presidente dos EUA. Agora, Bob Woodward explica que uma fonte para o desentendimento entre os dois homens foi um terceiro: o genro do Presidente e um dos seus principais conselheiros, Jared Kushner.
Rex Tillerson ressentiu-se pelo facto de Donald Trump ter deixado nas mãos de Jared Kushner, e não o secretário de Estado, a pasta referente ao conflito israelo-palestiniano. Referindo-se ao facto de Jared Kushner ser amigo de família do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, Rex Tillerson terá dito, numa conversa que Bob Woodward cita, que tudo aquilo era “nauseabundo”. “Dá voltas ao estômago”, referiu Rex Tillerson.
Jared Kushner, por sua vez, é retratado por Bob Woodward como uma das pessoas mais leais a Donald Trump em toda a Casa Branca, elogiando as suas capacidades de negociação e descrevendo-o como um “especialista em interrogatórios cruzados”. “É assim que ele lê as pessoas, ele vê o quão seguras elas estão da sua própria posição. Mantêm a posição? Cedem? Esse é o estilo dele”, disse Jared Kushner.
É por aí, pelo caminho do instinto treinado, que Jared Kushner vê o sogro caminhar — e defende que esse é o caminho certo. E, numa referência que Bob Woodward entende ser para Jim Mattis, Rex Tillerson e Gary Cohn, Jared Kushner completa: “É por isso que as pessoas mais perigosas para se ter à volta do Presidente são os idiotas com excesso de confiança. Se vir como fomos evoluindo, já nos livrámos de muitos idiotas com excesso de confiança. E agora ele tem muito mais pessoas ponderadas quem sabem o seu lugar e o que têm a fazer”.
Outra pessoa que em privado se terá insurgido contra Donald Trump foi Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas e principal epidemiologista dos EUA.
Numa reunião com o vice-Presidente Mike Pence; o chefe de gabinete do Presidente, Mike Meadows, Jared Kushner e o conselheiro Stephen Miller, Anthony Fauci terá falado num tom que desagradou os restantes depois de ter dito que o Presidente não estava a cingir-se aos factos durante as suas conferências de imprensa sobre a Covid-19. “Não podemos deixar o Presidente numa posição vulnerável e dizer alguma coisa que pode mais tarde vir a prejudicá-lo”, disse Fauci.
Noutra conversa, Anthony Fauci tentou corrigir Donald Trump antes de uma conferência de imprensa, dizendo-lhe: “Eu teria cuidado para não dizer isso dessa maneira, porque eles vão criticá-lo”. Donald Trump terá respondido: “Que merda é que isso interessa [‘who gives a shit’, no original]? Eles vão criticar-me de qualquer maneira faço eu o que fizer”.
Em conversa com interlocutores que Bob Woodward não identifica, Fauci terá descrito a presença de Donald Trump nas reuniões de briefing sobre a pandemia de Covid-19 como desatento e sem rumo. “A duração da concentração dele é para aí um número negativo”, disse o especialista numa dessas conversas, referindo ainda que nessas reuniões “o Presidente está noutro canal” e que a sua liderança tem estado “à deriva”. E que só tem um objetivo durante todo este processo: “Ser reeleito”.