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A princesa Carolina faz 65 anos no dia 23 de janeiro de 2022.

Corbis via Getty Images

A princesa Carolina faz 65 anos no dia 23 de janeiro de 2022.

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Dor e glória: o discreto charme de Carolina do Mónaco aos 65 anos

Prestes a chegar aos 65 anos, equilibrou uma vida de privilégio com os dramas dos comuns mortais, e continua a renascer como âncora de um principado e musa incontestável muito além do Mónaco.

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A primogénita de uma das histórias de amor do século XX, a do príncipe Rainier do Mónaco com a estrela de Hollywood Grace Kelly, tem vivido sob o olhar do público uma vida com todos os ingredientes de um poderoso enredo, mas que nada tem a ver com as tradicionais histórias de encantar. Carolina do Mónaco é uma personagem única que, a completar 65 anos de idade, continuamos a ver desempenhar o seu papel com uma naturalidade arrojada que ninguém iguala. De uma vida entre os privilégios reais e os problemas dos comuns mortais, num equilíbrio que só ela consegue, propomos aqui apenas um resumo, porque princesa está viver uma nova fase da sua vida e olhamos para trás sem esquecer o que poderá vir para a frente.

Carolina dançava na linha da frente do concerto, o rapper francês cantava a sua música mais famosa, Caroline. Desceu do palco, juntou-se ao seu público e cantou o refrão “Eu sou o ás de paus que fere teu coração, Caroline” repetidamente, de olhos postos na princesa e mão estendida em direção a ela, caso houvesse dúvidas que era para princesa do Mónaco que ele cantava. Carolina tapa a cara com a mão e o público dedica-lhe um sonoro aplauso. Carolina sempre brilhou com luz própria, como prova este episódio, que não nos remete para os tempos de festas da sua juventude, mas sim para o casamento da filha, Charlotte Casiraghi, com Dimitri Rassam, em 2019, no jardim de La Vigie, o palácio de Karl Lagerfeld no Mónaco. Vestida de Chanel Haute Couture, claro, lá estava Carolina, gloriosa nos seus sessentas, discretamente impactante e o centro das atenções sem nada ter de fazer por isso. Simplesmente sendo a princesa Carolina.

Nasceu uma estrela

A 23 de janeiro de 1957 Caroline Louise Marguerite nasceu no Palácio do Príncipe, a primogénita dos príncipes Rainier e Grace do Mónaco, nove meses depois do seu badalado casamento. Carolina foi batizada com pompa e circunstância pouco mais de um mês depois, a 7 de março, na catedral do Mónaco, e fez a primeira aparição ao balcão das janelas do palácio, ao colo da mãe. Mas na véspera já tinha sido apresentada aos seus súbditos, numa cerimónia que encheu o pátio do palácio de pessoas, foi distribuído champanhe para brindar à nova princesa e o céu encheu-se com uma nuvem de balões com a sua data de nascimento. A notícia foi transmitida na televisão e é possível revê-la no site da British Pathé. Assim como a notícia do registo do nascimento da princesa, dois dias depois da sua chegada. Afinal tratou-se do início da 31ª geração da família Grimaldi. No ano seguinte nasceu o herdeiro, o príncipe Alberto, a 14 de março de 1958. Stephanie só chegaria à família a 1 de fevereiro de 1965.

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Princess Caroline Holding Box Camera La famille princière monégasque

A princesa Carolina com um presente pelo seu segundo aniversário; com os pais e o irmão num salão canino em Monte Carlo, em 1962.

Bettmann Archive

Como uma princesa de outros tempos, Carolina fala francês e inglês, as línguas paterna e materna, e ainda alemão, espanhol e italiano. Estudou ballet, piano e flauta. Depois de fazer a escola primária no Mónaco rumou a Ascot para integrar o St. Mary’s College. Para os estudos superiores escolheu a Sorbonne, em Paris, onde estudou filosofia, psicologia e biologia, obtendo um diploma da primeira.

Carolina abriu o cofre das memórias familiares da sua infância e partilhou algumas para o livro “Alberto II do Mónaco, o homem e o príncipe” (editora Fayard), publicado em 2018, a propósito dos 60 anos do soberano do principado. Em abril desse ano, a revista Madame Figaro dedicou um artigo ao contributo da princesa para a obra e ao que revelou de novo sobre a sua infância real. Os dois irmãos mais velhos foram educados em casa e, segundo Carolina, o pai, o príncipe Rainier, era muito possessivo, dizendo aos filhos para terem cuidado com as outras pessoas e que a família bastava, razão pela qual os dois irmãos acabaram por passar a maior parte do tempo juntos. Carolina conta que, com o passar dos anos a cumplicidade com o irmão manteve-se intacta, telefonam-se e encontram-se, às vezes, na sua cozinha. Porquê neste espaço em especial, perguntaram-lhe os autores do livro. Porque durante anos nunca lhes foi possível sentarem-se, simplesmente, os três à volta de uma mesa de cozinha, respondeu a princesa.

Recordou ainda a importância da ama inglesa, Maureen King, na sua vida. Chamavam-lhe Nana e tinha 19 anos quando se juntou à família, logo após o nascimento do príncipe Alberto. Estava sempre com eles, só os deixava durante um período de tempo no verão e a princesa conta que quando o motorista a ia levar ao aeroporto, ela e o irmão corriam atrás do carro a gritar “não vá!”. Nana deixou os Grimaldi logo depois do nascimento da princesa Stephanie.

Grimaldi Royal Family Monaco - 63rd Red Cross Ball Gala

A família Grimaldi a passear no campo , em 1973. Os príncipes Stephanie, Alberto, Charlene e Carolina, no Baile da Cruz Vermelha, em 2011.

Sygma via Getty Images

Carolina admite maiores parecenças com a avó paterna, a princesa Charlotte, e não tanto com a mãe. No entanto, há uma elegante postura de diva que podia muito bem ter sido herdada de Kelly. “Desde a infância que Carolina era uma pianista competente e uma leitora voraz, com interesses variados — dos clássicos da literatura a ensaios do século XIX e ficção contemporânea”, escreve Jeffrey Robinson, jornalista, amigo de Carolina e autor da biografia oficial “Grace de Mónaco” para a qual a primogénita contribuiu. Quando Carolina tinha 10 anos a família viajou até à Califórnia e foi aí que se apercebeu que a mãe era famosa. Segundo o autor, Grace quis criar os filhos de forma normal e transmitir às filhas a confiança que precisavam para se tornarem mulheres independentes. A princesa orgulhava-se de não mentir aos filhos, porque isso seria o equivalente a tratá-los como inferiores, e de insistir para que as regras de casa fossem respeitadas, porque acreditava que a disciplina imposta era um reflexo do amor dos pais pelos filhos.

Robinson conta que a 12 de setembro de 1982 Carolina estava a passar uma semana no spa medicinal Forest Mere, no Hampshire (no sul de Inglaterra) e, quando soube que a princesa Grace e Stephanie tinham tido um acidente, ligou à amiga e ofereceu-se para a ir buscar e levar ao aeroporto. Mas Carolina respondeu-lhe que tinha conversado com o pai, que a mãe tinha partido umas costelas, a irmã também estava ferida e ela própria regressava a casa no dia seguinte. Já no Mónaco, a princesa Grace estava internada no Hospital com o seu nome. Os médicos disseram à família que nada podiam fazer em relação ao seu estado de saúde, e na noite de 14 de setembro, Rainier, Carolina e Alberto despediram-se e deixaram-na partir.

Na família, no Mónaco e um pouco por todo o mundo, a perda foi chorada. Stephanie estava internada e ainda a recuperar do mesmo acidente e Robinson conta que Carolina se mudou para o quarto de hospital da irmã para cuidar dela. Carolina confessa ao autor: “Todos estes anos depois, vejo que a morte da minha mãe deixou a família mais unida. Não que fôssemos distantes. Mas, depois da morte dela, aprendemos a trabalhar mais em conjunto, a cuidar mais uns dos outros, a prestar mais atenção à vida de cada um.” Depois da morte da mãe assumiu o papel de primeira dama do Mónaco e passou a dedicar parte do seu tempo a tomar conta do pai, com quem tinha uma forte ligação.

Um fenómeno chamado “Carolina do Mónaco”

“Ela é alguém que vimos rir em público, chorar em público e discutir em público. Há, ao longo do percurso da sua vida, coisas que nos vão aproximando dela. A morte, a dor. É muito impressionante a imagem dela, quer no funeral da mãe, quer no funeral do marido, Stefano Casiraghi.” E, apesar de tudo isso, “ela estava sempre como nós gostávamos de estar se estivéssemos a passar por aquilo.” Quem o diz é Helena Matos. É jornalista e uns anos mais nova do que Carolina do Mónaco, mas como a maioria das jovens da sua geração (e, na verdade, também das seguintes), acompanha há muito a sua vida  e ajuda-nos a perceber o fenómeno de uma princesa, que apesar de fugir aos estereótipos, se tornou um modelo. “O Mónaco é um principado e não tem atos tão institucionais, como as outras monarquias, portanto, talvez as imagens que víamos da princesa Carolina fossem muito mais de quotidiano. Ela com a mãe às compras em Paris. Nós nunca víamos a rainha Isabel II às compras com a princesa Ana. Havia umas imagens muito de quotidiano, que objetivamente não era o nosso, mas sim fazíamos compras com as nossas mães. Havia uma identificação”, conclui a jornalista.

Caroline de Monaco à vélo dans les années 1980 Retrospective On Prince Rainier

A princesa Carolina a andar de bicicleta em Paris, na década de 1980. Com o pai, príncipe Rainier III, e os três filhos de férias na Sardenha, em 1988.

Gamma-Rapho via Getty Images

Carolina era (e ainda é) uma presença constante na imprensa, fosse através de fotografias de eventos institucionais ou no seu dia-a-dia, que os paparazzi gostavam de fotografar. Talvez tenha sido a primeira estrela da realeza que nos habituamos a ver, tanto ao serviço dos seus deveres, como a viver a vida de uma mulher independente. E foi esta mistura de estilos, enriquecida pela arte de saber estar e coroada por um imenso carisma que tornou a princesa do Mónaco num híbrido princesa/celebridade que tantas pessoas ainda hoje gostam de acompanhar. No que toca à moda, as roupas e os penteados de Carolina eram tendências, uma verdadeira influencer muito antes do termo existir. No que toca à vida, a princesa é alguém que vimos atravessar a adversidade e dela recuperar. “Houve alguma parte da sua vida que foi pública, sem que ela parecesse ter acusado aquele lado sofredor de ‘estão a meter-se na minha vida’. Havia uma naturalidade em relação a tudo isso. Nunca se queixou muito dos privilégios”, reflete Helena Matos, e “tem uma relação com os filhos e com os netos que parece fisicamente próxima, o que é muito interessante. E é esse lado que aproxima as pessoas, porque ela fez aquelas coisas que [as pessoas] tiveram de fazer ao longo da vida. Ela conseguiu manter a família unida, isso é muito importante.”

Princess Grace (FILE PHOTO) Princess Caroline Of Hanover Turns 50 On January 23

Dois momento trágicos: Carolina e Alberto apoiam Rainier no funeral da princesa Grace, em 1982; Carolina e o pai no funeral de Stefano Casiraghi, em 1990

WireImage

Três casamentos e um funeral

A 28 de junho de 1978 a princesa da Europa casou-se. Carolina centrou o mundo no Mónaco para o seu casamento com Phillippe Junot, um empresário francês dezassete anos mais velho que ela. Apesar de ser filho de um político milionário e descendente de um general de Napoleão, poucas pessoas teriam fé que o casamento fosse o conto de fadas que se desejava para a distinta e bela princesa. Segundo a revista Vanity Fair (VF) espanhola, ele era conhecido como “imperador da noite” na Côte d’Azur. Conheceram-se em Paris, quando Carolina estudava na Sorbonne. Casaram-se nos jardins do palácio perante 600 convidados, a noiva usou um vestido Dior feito especialmente para ela por Marc Bohan e os jornalistas e fotógrafos ocuparam em força o principado à procura de histórias para contar. Mas, depois de muitas festas a dois e algumas infidelidades por parte do marido, Carolina pediu o divórcio ao fim de dois anos. “É incrível. Casei-me com Philippe porque estava apaixonada. Essa é uma razão suficientemente boa para se casar com alguém. Mas um dia a pessoa acorda e descobre o que fez. Acho que comecei a acordar quando ainda estávamos na nossa lua de mel.”, desabafou a Jefrrie Robinson, para a biografia da mãe. Quando se divorciou e regressou a casa, teve todo o apoio dos pais.

José Luis de Vilallonga conta à VF, no mesmo artigo, que quando o jornal Bilder Zeitung lhe pediu que intermediasse uma entrevista com o seu amigo Junot, a quem pagariam o que ele quisesse para contar detalhes da vida com Carolina, o ex-marido da princesa foi veemente no veredito: “José, diz-lhes por favor que eu não comercializo a minha vida privada e muito menos a de Carolina, uma mulher por quem sinto um grande respeito e a quem considero uma amiga”.

Um dos romances de Carolina que as revistas mais gostaram de acompanhar foi com Roberto Rossellini no início da década de 1980, um herdeiro da realeza, mas do cinema, filho de Ingrid Bergman e Roberto Rossellini. Reza a lenda que foi ele quem apresentou Carolina ao empresário e desportista italiano Stefano Casiraghi e deu assim início a uma das épocas “conto de fadas” da vida da princesa. Ao fim de seis meses de namoro casaram, a 29 de dezembro de 1983 apenas pelo civil, porque a anulação do casamento religioso de Carolina com Junot só chegaria em 1992. Ele era três anos mais novo do que ela e juntos tiveram três filhos: Andrea Albert Pierre Casiraghi (9 de junho, 1984) de quem Carolina já estava grávida quando se casou, Charlotte Marie Pomeline Casiraghi (3 de agosto, 1986) e Pierre Rainier Stefano Casiraghi (5 de setembro, 1987).

Princess Caroline of Monaco Mariage de Caroline de Monaco et Stefano Casiraghi en 1983

Dois dos três casamentos da princesa Carolina. À direita: o dia do casamento com Philippe Junot, a 29 de julho de 1978. À esquerda: o dia do casamento com Stefano Casiraghi a 23 de dezembro de 1983

Getty Images

Escreve-se que Stefano Casiraghi foi o grande amor da princesa Carolina, mas só ela o poderá confirmar. Contudo, as imagens de uma das mulheres mais fotografadas do mundo não enganam, ao lado do marido, Carolina brilhava mais que nunca e parecia genuinamente feliz. Durante os coloridos anos 80, formaram não apenas um dos casais mais elegantes da época, foram também uma inspiração para quem segue a vida social dos famosos. Dos trajes de gala em cerimónias reais, a looks descontraídos com os filhos pequenos ao colo e às cavalitas, eram o retrato de uma família unida e pacata. O conto de fadas terminou quando Stefano, desportista náutico, sofreu um acidente fatal durante uma etapa do Campeonato do Mundo de Powerboat, a 3 de outubro de 1990, perto do Mónaco.

Carolina estava em Paris e o pai deu-lhe a notícia por telefone. Uma semana antes do acidente Stefano anunciara que estava a participar no seu último campeonato e ia deixar o desporto para se dedicar à construção naval. Carolina ficou viúva aos 33 anos. Retirou-se para a Provença, Saint-Rémy, com os três filhos pequenos onde procurou uma vida discreta e longe dos flashes.

(FILE PHOTO) Princess Caroline Of Hanover Turns 50 On January 23 Retrospective On Prince Rainier Caroline Of Monaco And Her Family (FILE PHOTO) Princess Caroline Of Hanover Turns 50 On January 23

Carolina e Stefano Casiraghi estiveram casados sete anos. Nas ruas de Paris em 1984; quando nasceu o terceiro filho, Pierre, em 1987; com dois filhos, à espera do terceiro; num desfile de moda em 1984

WireImage

É nesta fase da vida da princesa, a viver uma vida descontraída com os três filhos num cenário campestre, que aparece Vincent Lindon, um ator francês de prestigiada família, que a comunicação social já tinha apostado ser o próximo marido de Carolina. Mas em meados da década de 1990 a relação conheceria o seu fim. Rapidamente anunciava-se um novo pretendente para a princesa.

Segundo a revista Vanity Fair, foi no início de 1996 que surgiram os rumores de relação entre Carolina e o príncipe Ernesto de Hanover, quando a revista alemã Bunte publicou que ambos se tinham hospedado juntos num hotel. A publicação espanhola revisita a história e lembra que foi nesta altura que a princesa perdeu o cabelo. O príncipe estava casado com Chantal Hochuli desde 1981. A casa de Hanover vivia ainda sob uma lei que obrigava os herdeiros a casarem com uma princesa e Ernesto teve de convencer o pai a mudá-la, para casar com filha de um milionário da indústria farmacêutica, mas plebeia. Os paparazzi não largaram Carolina e Ernesto e mais imagens foram surgindo e sustentando os rumores de uma relação. O que levou Chantal Hochuli que, importa lembrar, era amiga íntima de Carolina, a pedir o divórcio de um casamento que acabou em setembro de 1997. A ex princesa de Hanover recebeu 10 milhões de dólares e seguiu a sua vida em Londres com os dois filhos adolescentes.

Carolina e Ernesto conheciam-se desde há muito tempo e o príncipe chegou a ser um dos pretendentes que a princesa Grace idealizou para a filha. Na década de 1970 apresentou-os, com alguma esperança que um namoro começasse, mas nada aconteceu. O príncipe tinha acabado de comprar um automóvel desportivo e tudo se resumiu a um passeio de carro, do qual Carolina nem gostou porque o veículo era pequeno e teve de fazer uma valente ginástica para lá entrar. Em janeiro de 1999 Carolina casou-se com o príncipe Ernesto de Hanover, no dia em que fazia 42 anos, tornou-se sua alteza real a princesa de Hanover e, a 20 de julho do mesmo ano, nascia a princesa Alexandra, na Áustria. Contudo as indiscrições de Ernesto com outras mulheres e escândalos provocados pela bebida e algum mau feitio começaram a surgir com alguma frequência na imprensa e talvez por estes, ou por outros motivos, os príncipes seguem vidas separadas desde 2010, mantendo-se, no entanto, casados.

Uma outra educação

A educação e as crianças são uma das causas de vida da princesa Carolina. Em 1993 tornou-se presidente da associação AMADE Mondiale (Association Mondiale des Amis de l’Enfance), fundada pela mãe, a princesa Grace, e em 2003 foi nomeada embaixadora da boa vontade da UNESCO. Carolina recebeu da Ministra da Cultura e da Comunicação francesa, em 2014, o grau de Commander of the Order of Arts and Letters, uma distinção com muito prestígio. Em outubro de 2020, a princesa Carolina, que raramente dá entrevistas, falou à revista francesa Madame Figaro com a filha, Charlotte Casiraghi, sobre cultura, livros e filosofia, temas que apaixonam ambas. A princesa conta que recebeu uma educação ainda à imagem do que se fazia no século XIX. “Não víamos muito os nossos pais, eu tinha uma ama inglesa e uma governanta francesa.” Carolina era privilegiada e mulher, o que a levou a ter de provar o seu valor. “Ainda me lembro da minha mãe me dizer de boa fé: ‘Você não precisa ir à escola’. Também me lembro de um professor universitário me dizer com uma enorme crueldade: ‘Você está a ocupar o lugar de um aluno que merecia estar aqui’. Mas sempre quis enfrentar obstáculos. Sempre me senti em competição com os rapazes: queria fazer melhor do que eles, na escola ou no desempenho atlético.”

Contou que a educação que deu aos filhos foi bem diferente e sempre lhes disse: “Posso mostrar-vos a porta, ensinar-vos a fazer chaves, mas só tu tentarás abri-la”. A princesa diz para a filha: “Tu já ouviste mil vezes na minha boca: ‘A tradição é a transmissão do fogo e não a adoração das cinzas’. Esta tem sido a minha linha de ação”. Charlotte confirma que a mãe cuidou dos filhos sem ser intervencionista. “Tínhamos muita liberdade, o que não significa que fomos deixados de lado. Fomos entregues a uma solidão muito benéfica: é isso que nos faz construir uma imaginação poderosa.” A princesa Carolina falou da violência e cobardia das redes sociais e diz que estas “são como uma mão invisível.” No seu tempo de adolescente os paparazzi faziam uma perseguição cerrada a ela, à mãe e à irmã. Hoje é nas redes sociais que tudo aparece e fica registado. Carolina ficaria surpreendida com a quantidade de páginas de Instagram que publicam fotografias suas, não só atuais, mas de toda a sua vida, para pura inspiração.

Monaco National Day 2018 The Ninth Monaco Jumping: The Princes Of Monaco Encourage Charlotte Who Finished The Second Of The Friends Cup Grand Prix In Monaco On April 12, 2003. ISU Junior Grand Prix of Figure Skating Linz - Day 2 Monaco - Prince Albert Of Monaco Celebrates 10 Years On The Throne : Day 1

Carolina com filhos e netos: com Pierre e rodeada de netos, em 2018; com Charlotte, em 2003; com Alexandra numa competição de patinagem, em 2015; com Andrea, Tatiana e Sasha, ao colo, em 2015

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Um dos feitos de vida da princesa Carolina é o facto de ter conseguido manter a família unida. Os três filhos mais velhos estão casados e deram à avó Carolina sete netos. É frequente acompanharem a princesa em atos públicos ou nas férias, a bordo do iate Pacha III. Andrea casou com a herdeira colombiana Tatiana Santo Domingo em 2013 e têm três filhos, Sasha, India e Maximilian. Pierre casou-se em 2015 com a aristocrata italiana Beatrice Borromeo e têm atualmente dois filhos, Stefano e Francesco. Em 2019 foi a vez de Charlotte. Casou com o produtor de cinema Dimitri Rassam e têm um filho em comum, Balthazar. Antes, a filha princesa, teve uma relação com o ator francês Gad Elmaleh, de quem teve o primeiro filho Raphael.

Moda, musa e modelo

Tina Brown transformou o seu diário do tempo em que foi a editora estrela da revista Vanity Fair num livro de memórias. Lê-lo é como navegar entre a vida privada e a redação da revista do grupo Condé Nast e com a elite novaiorquina da gloriosa década de 1980. Mas antes de rumar a Manhattan para a conquistar Tina Brown revelou-se uma editora de excelência na sua Inglaterra natal e revitalizou a revista Tatler. Uma publicação feminina que cresceu ao acompanhar a noiva real do século, Diana, o seu casamento e depois a vida da nova princesa. Mas antes de tudo isto, o primeiro grande furo da jovem editora, que mostrou à rival Vogue que estava pronta para a luta, foi outra princesa. No livro “The Vanity Fair Diaries: 1983 – 1992” Tina Brown conta que o editor de moda da revista, Michael Roberts, conhecia o designer de calçado (hoje famoso) Manolo Blahnik, cujos sapatos eram já comprados pelas meninas mais elegantes da sociedade londrina. Segundo uma dica de que a princesa Carolina do Mónaco iria pessoalmente experimentar umas sandálias douradas, Tina Brown escreveu uma nota, na qual pedia à princesa uma sessão fotográfica para a capa da revista, e que foi colocada dentro da caixa das suas sandálias. Depois de muitas recusas pelas vias formais, o pequeno esquema valeu à Tatler uma viagem ao palácio do Mónaco para fotografar a princesa que foi a capa da edição de junho de 1981.

As primeiras páginas das revistas adoram Carolina. Foi capa da Life com dois meses de idade e da Time com 18 anos, numa edição que era suposto ser sobre o Mónaco e acabou por ser sobre ela. Na Vogue Paris fez, pelo menos, quatro (outubro 1977, março 1979, dezembro 1984/janeiro 1985, junho/julho 1988). Mas, tanto na espanhola Hola! como na francesa Paris Match, a vida da princesa podia ser contada através das suas capas. Foram dezenas ao longo de décadas, porque cada vez que Carolina aparece, é notícia.

Monaco Royal Wedding - The Civil Wedding Service Rose Ball 2017 To Benefit The Princess Grace Foundation In Monaco

Carolina brilha vestida de Chanel. Com a irmã Stephanie e a sobrinha Camille no casamento civil do príncipe Alberto com Charlene Wittstock, em 2011. No Baile da Rosa, em 2017.

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No livro “Grace de Mónaco”, a princesa conta que foi aos 14 anos que se apercebeu que não era igual às outras crianças e que havia muitas coisas que os amigos faziam, mas a ela não eram permitidas. “Nós não podíamos ir à praia todos os dias. Eles queriam-nos dentro de casa, a ler e a estudar. Tínhamos de nos vestir adequadamente e, quando eu era adolescente, a minha mãe não me deixava usar biquíni. Ela achava o fato de banho mais adequado, mesmo que todas as outras meninas da minha idade andassem de biquíni.” A princesa até pode não ter usado a roupa de praia que lhe apetecia na adolescência, mas ao longo do resto da sua vida compensou a tendência perdida. Carolina usou e abusou da moda. Pôs laços na cabeça, pintou os olhos com tons pastel, não resistiu aos ombros largos nem ao brilho do lamé. Não há acessório de cabeça que lhe fique mal e não há mais nenhuma princesa que aguente os seus decotes mais atrevidos. Usou pérolas, diamantes, plumas, folhos e muita ganga. Mesmo quando as suas escolhas parecem duvidosas, há nela uma naturalidade que dissipa qualquer dúvida.

Nos últimos anos vêmo-la fiel à casa Chanel, com os vestidos de Alta Costura sem idade e os tailleurs em tweed que nela parecem ainda mais luxosos. Mas se revisitarmos a vida da princesa através do guarda-roupa, a moda tratará de contar a sua história. Da princesa Grace, a filha herdou a relação com a casa Dior, em especial com Marc Bohan, o criador que liderou as coleções de 1961 a 1989. Mas a amizade com Karl Lagerfeld aproximou Carolina da maison Chanel e, a seu tempo, também ela passou a herança da moda à filha, Charlotte, que hoje é embaixadora e porta voz da marca fundada por Gabrielle Chanel. Normalmente as princesas não vão a desfiles de moda —  a rainha Isabel II foi pela primeira vez à Semana da moda de Londres em 2018, já depois dos 90 anos. Mas Carolina nunca teve problemas em sentar-se na primeira fila e deixar-se fotografar.

O príncipe Rainier fundou a Cruz Vermelha do Mónaco em 1940, mas foi com Grace que a instituição se transformou conhecida a nível internacional com um baile anual que era uma fonte de angariação de fundos. Assim como o Baile da Rosa, que marca a chegada da primavera e angaria fundos para a Fundação Princesa Grace. Depois da morte da princesa em 1982, Alberto tornou-se o mestre de cerimónias do primeiro e Carolina assumiu-se como a anfitriã do segundo. Ambos são eventos sociais de referência e ao longo dos anos foram como montras do estilo de vida do principado, através da família principesca.

Fürstenfamilie von Monaco auf Rotkreuz-Ball Prince Albert And Princess Caroline Open The Ball Of La Rose 2000 in Monaco on March 25, 2000. Monaco - 60th Rose Ball In Aid Of The Princess Grace Foundation Rose Ball 2019 To Benefit The Princess Grace Foundation In Monaco

Carolina nos Bailes da Rosa ao longo dos anos: com Grace e Rainier em 1973; com os príncipes Ernesto e Alberto em 2000; com a família e Karl Lagerfeld em 2014; o mais recente, em 2019

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Com vestidos, joias, sorrisos luminosos e fotografias ao lado de convidados de exceção, as  princesas estão sempre no seu melhor. Na vida pré-pandemia, vimos Carolina fazer do Baile da Rosa um evento quase familiar, onde os seus filhos e noras a rodeiam num desfile de luxo e elegância, mantendo a imagem que o Mónaco cultivou durante décadas. Além das festas, é no Dia Nacional do Mónaco, 19 de novembro, que a família Grimaldi se reúne no seu melhor: elegante e unida.

Ser princesa ou ser princesa? Eis a questão

O príncipe Ernesto e Claudia Stilianopoulos, uma artista plástica espanhola filha de uma famosa socialite espanhola – Pitita Ridruejo, conheceram-se no verão passado em Ibiza e no outono já a relação circulava pelos meios de comunicação social. A nova namorada do príncipe acendeu o rastilho de especulações sobre um possível divórcio de Carolina, ao fim de mais de 10 anos a viverem separados, o que a levaria a perder o seu título de princesa de Hanover. O que mudaria na vida de uma princesa que já o era antes de se casar?

“Perde a precedência. A Carolina do Mónaco, tendo o estatuto de alteza real, passa à frente das altezas sereníssimas, das altezas excelentíssimas, de todos os graus de realeza que não sejam alteza real. Ela não é por nascimento, mas é por casamento.” Explica José Bouza Serrano, que, como antigo chefe de Protocolo do Estado, conhece as normas que ditam a rígida organização da realeza e explica ao Observador que “o Mónaco é um principado, portanto é uma casa principesca, não tem reino real. Por isso é que se chamam Altezas Sereníssimas e os Hanovers são Altezas Reais”, porque se trata de uma casa real. Neste momento a casa de Hanover já não é reinante, mas os seus membros continuam a ter as suas propriedades, palácios e títulos, que não perdem e o especialista acrescenta que na Alemanha estas questões são levadas muito a sério: os “alemães usam os títulos nos próprios apelidos. Uns príncipes são católicos, outros são protestantes, mas a casa de Hanover é uma casa importante e tem estatuto de real”. Bouza Serrano foi diplomata e trabalhou em várias embaixadas europeias, como por exemplo Espanha, Bélgica, Vaticano, Dinamarca ou Holanda, e lidou com vários membros da realeza.

King Carl Gustav Of Sweden'S 50Th Birthday Celebrations

Uma verdadeira princesa: no 50º aniversário do rei Carlos Gustavo da Suécia, em 1996.

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Quem acompanhou a série The Crown, o sucesso da Netflix que conta a vida da rainha Isabel II, percebeu que o protocolo dita grande parte (senão mesmo a totalidade) da vida dos membros da realeza. Os princípios base são conhecidos do público: os filhos sucedem aos pais, há que dar o exemplo, manter a isenção política e manter sempre o interesse do país e do povo acima de tudo. A verdade é que esta organização está pensada até ao ínfimo pormenor e não há falhas ou possibilidades de reinterpretação. Bouza Serrano lembra que a princesa Carolina e o príncipe Ernesto casaram-se civilmente no Mónaco e religiosamente na Alemanha e isto é importante, porque a transmissão dos títulos é feita quando os casamentos são religiosos. E acredita que os príncipes, que vivem vidas separadas desde 2010, têm todo o interesse em manter as coisas como estão.

O ex-diplomata explica que “no Mónaco têm a precedência do varão sobre a fêmea, portanto o príncipe Jacques é que é o príncipe herdeiro, se bem que a princesa Gabrielle nasceu primeiro. A seguir a eles, quem vem é logo a princesa Carolina, que hoje em dia tem estatuto de alteza real, que é melhor do que o estatuto do Mónaco”. Isto acontece porque a linha de sucessão se desenha por gerações e, caso o príncipe Alberto fique impossibilitado de governar, como os dois herdeiros que se seguem são menores, caberia a Carolina ser a regente.

O regresso da primeira-dama

Na verdade, talvez o papel de Carolina tenha sido até mais do que isso. Ao longo dos anos tornou-se a âncora que não deixa o principado à deriva em alturas de crise. Quando a mãe morreu assumiu o papel de primeira dama, e o seu lugar à frente de várias instituições. Após a morte do pai, em 2005, e quando o irmão se tornou o príncipe, continuou a ser a figura feminina de destaque, até Alberto se casar e ela passar o papel de primeira dama à nova Alteza Sereníssima do principado, mantendo, no entanto, alguns dos seus cargos e funções. Agora que a princesa Charlene está afastada há algum tempo (e não se sabe por quanto mais) Carolina regressou nos últimos meses ao seu papel de primeira dama do Mónaco e aos atos públicos com muito mais frequência e com a presença que a caracteriza: os looks distintos Chanel e a postura régia, e com um novo papel, o de acompanhar os pequenos herdeiros que a precedem na linha de sucessão, Jacques e Gabrielle.

O olhar analítico de Helena Matos diz-nos que Carolina “não é apenas uma princesa que sabe sempre escolher a roupa que nós gostávamos de vestir naquele momento, é também uma mulher que tem consciência do papel que desempenha. E do papel que a família tem de desempenhar para manter aquele estilo do principado, que como sabemos é um paraíso fiscal. Acho que os Grimaldi não se importam que se fale da vida deles, só há uma coisa que os Grimaldi não gostam, é que se fale das suas contas bancárias.” E conclui: “Não é uma questão de política, mas sim do estatuto que a sua família tem. Os Grimaldi sabem muito bem gerir os seus interesses. Penso que a Carolina do Mónaco é uma aguda gestora dos seus interesses, e os dos seus filhos.”

Red Cross Summer Concert In Monaco Monaco National Day 2021

Carolina de regresso: no concerto de verão da Cruz Vermelha em Monte Carlo, em julho de 2021; com os sobrinhos e a irmã nas celebrações do Dia Nacional do Mónaco, novembro de 2021.

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Bethan Holt, a diretora de notícias e conteúdos de moda do jornal britânico The Telegraph, analisou, recentemente, o regresso de Carolina e a sua importância no que toca à moda.  Um dos elementos que destaca é o facto da princesa agora mostrar os seus cabelos brancos, “fazendo uma declaração muito moderna sobre envelhecer com graciosidade”. Acontece que, no Dia Nacional do Mónaco em 2020, o que para qualquer outra mulher seria uma jogada arriscada, para Carolina foi o lançamento de uma tendência. Apareceu com os cabelos brancos ao natural e pôs o mundo da moda e da beleza a discutir como as mulheres podem abraçar este sinal do tempo com naturalidade. O que outras mulheres famosas tentaram normalizar para o bem das comuns mortais, Carolina conseguiu, aparentemente sem esforço, sem drama e sem queixas. Bethan Holt escreve que, na ausência da princesa Charlene, “é Carolina com 64 anos, a irmã mais velha do príncipe Alberto, que está a emergir como a principal estrela da moda no Mónaco”. À beira de completar 65 anos de idade, avó de sete netos, e de regresso ao papel de primeira dama do Mónaco, terá Carolina alguma vez deixado de ser a estrela mais brilhante do principado?

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