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Este mundo é da Patrulha Pata, nós apenas vivemos nele

Este sábado, o Meo Arena recebe o espectáculo Patrulha Pata Ao Vivo. Não é só a série de desenhos animados mais popular do momento, é uma lição de vida. Vasco Mendonça explica porquê.

Há poucos minutos o meu filho de 3 anos pediu-me para ver mais “só mais um bocadinho dos bonecos” na televisão. Eu olhei para ele e desliguei a TV com a pedagogia de quem teve um dia mau e também queria ver um bocadinho dos bonecos da fase de grupos da Liga Europa assim que o miúdo se deitasse. De resto, sou o tipo de pai que não sente dever uma explicação aos filhos quando quer desligar a televisão ou mudar de canal. Sou também o tipo de pai que, após 3 anos à experiência nestas funções, oferece o que for necessário em troca do silêncio dos filhos.

Uma criança tão nova ainda não percebe a importância de ter dinheiro no bolso, por isso tenho testado outras formas de suborno. Nem tudo resulta. Aqui em casa, os queijinhos da Babybel e as cartas de animais do Pingo Doce estão empatados no segundo lugar. É assim há algum tempo. O lugar cimeiro deste pódio é ocupado por sete cães e um miúdo de 10 anos. Chamam-se Patrulha Pata e, pelo menos para o meu filho Tomás, são o centro do universo. Sendo ele o centro do meu universo, torna-se fácil perceber que também eu me sinto estranhamente próximo destes desenhos animados.

O Tomás resolve de forma simples os pequenos quebra-cabeças que a vida e o seu pai lhe colocam. Na impossibilidade de chegar atempadamente à sanita, faz nas cuecas. Perante a privação de desenhos animados, opta pela literatura. Assim que desliguei a TV, onde era transmitido o lendário episódio “Os Cães Salvam um Fantasma”, a criança pede-me que lhe leia uma história.

[a canção que abre todos os episódios da Patrulha Pata]

https://www.youtube.com/watch?v=QwnwrAHdgNI

Décadas de filmes com este lugar-comum do pai sentado ao lado do filho a dizer umas baboseiras até este adormecer, conjugadas com o imperativo de que não se deve privar uma criança do acesso à cultura fizeram-me procurar de imediato um livro. Qualquer livro. OK, esse não. O que é que esta edição da Lui está a fazer no quarto do miúdo? Bom, o que interessa é que a mãe não viu. Onde é que eu ia? Sim, um livro. Qualquer livro. Tudo menos choro convulsivo a esta hora da noite. Problema resolvido. A pergunta é meramente retórica, mas eu faço-a na mesma porque adoro ouvir o meu filho responder afirmativamente: Tomás, e se lêssemos esta história da Patrulha Pata antes de dormir? SIIIIIIM.

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Eu e a mãe já lemos aquilo algumas dezenas de vezes, mas os olhos do meu filho encaram cada parágrafo como se fosse a primeira vez, como se a própria linguagem tivesse sido inventada ali. Para ele, foi mesmo. Este livro, um de meia dúzia que a Patrulha Pata tem espalhados pela casa, é uma apresentação sumária das personagens. Hoje, por uma vez, a sua leitura veio mesmo a calhar não fosse eu esquecer-me de algum pormenor.

Comecemos pelos nomes: Chase, Marshall, Zuma, Skye, Rocky, Rubble e Everest são os cães e cadelas que compõem o gangue. A criança que lidera as missões chama-se Ryder. Por algum motivo, os autores entenderam que estes sete cães com super-poderes não sabiam tomar conta de si. E não sabem. É uma no cravo e outra na ferradura, tal e qual as crianças que os adoram. O Ryder é uma espécie de irmão mais velho daquela gente toda. Prolongando a analogia entre cães e crianças mais pequenas, o Ryder é também, aos 10 anos, o único de quem se pode esperar que urine no local adequado. Os episódios dedicam muito pouco tempo a este tema, mas não queria que ficasse por dizer.

No mundo da Patrulha Pata, nomeadamente nos episódios transmitidos pelo canal Panda, tudo é português menos os nomes das personagens. Talvez seja melhor assim. Não sei se a série funcionaria tão bem se o elenco fosse composto por sete cães chamados Carlos, Marçal, Zé, Xica, Rodas, Rubi e Eva.

No mundo da Patrulha Pata, nomeadamente nos episódios transmitidos pelo canal Panda, tudo é português menos os nomes das personagens. Talvez seja melhor assim. Não sei se a série funcionaria tão bem se o elenco fosse composto por sete cães chamados Carlos, Marçal, Zé, Xica, Rodas, Rubi e Eva. Isso e o negócio de licenciamento destes bonecos, que ascende à soma de uns valentes milhões, teria um imbróglio gigantesco para resolver com as adaptações/traduções. Sim, isto é mesmo um negócio de milhões. Há ainda um oitavo cão chamado Tracker.

Foi apresentado ao mundo em Junho deste ano na versão original, transmitida nos EUA, mas tanto quanto percebi ainda não apareceu na versão portuguesa, por isso tenho evitado falar dele cá em casa. É uma regra importante: não se fala de personagens cuja versão física não poderei adquirir de imediato numa loja de brinquedos.

Mas voltando às personagens:

Chase. É um pastor alemão com farda de polícia que aprecia a ordem e se comporta de forma séria, excepto quando decide fazer palhaçadas. O seu respeito pelo cumprimento integral das leis, que são poucas, numa série animada, faz dele um agente da autoridade acessível e compreensivo, infelizmente como nem sempre encontramos neste país.

Marshall. É um dálmata bombeiro. Os guionistas nunca chegam a explicar-nos se é voluntário ou sapador, mas não lhe falta equipamento do bom e do melhor, portanto sabemos que não é português. É um bocadinho desastrado, mas nem mesmo as personagens cuja vida está em risco levam a mal.

Zuma. É um labrador responsável pelas operações de salvamento aquático. Tem um hovercraft, um meio de transporte que julgávamos afastado para sempre da cultura popular. Kevin Chapman, autor da série estreada em 2013, não concorda. Os serviços de Zuma são requisitados com menor frequência por comparação com outros canídeos, o que o levou a arranjar um segundo emprego como nadador-salvador no Zoomarine entre Maio e Setembro. Por algum motivo, pica-se com a Skye de vez em quando e fica sempre um clima estranho. Ainda vão acabar juntos.

8 fotos

Skye. É uma cocker spaniel e uma de apenas duas protagonistas femininas na série (em oito cães). A sua cor favorita é rosa. Mas a coisa piora: Skye é a mais sensível do grupo, tende a ser algo emocional e é a mais pequena de todas as personagens. Só não nos parece mais estereotipicamente feminina porque tem brevet e pilota um helicóptero que já safou muita gente das maiores alhadas.

Rocky. É um mix-breed que recicla. Eu percebo. Também não saberia como fomentar comportamentos ambientalmente conscientes no meu filho, mas a verdade é que já vejo resultados. Não há objecto estranho apanhado do chão que ele não leve à boca. Rocky tem medo da água e sofre algum bullying de Marshall, que é bombeiro e gosta de desperdiçar água apontando a mangueira na direcção dos cães amigos. Isto soou mal. É melhor prosseguirmos.

Rubble. É um bulldog que trabalha no sector da construção. Vemo-lo muitas vezes com a sua escavadora a fazer as mais diversas obras. Curiosamente, é a personagem que o meu filho mais vezes encontra nos diferentes percursos que fazemos na cidade de Lisboa: “Pai, olha! É o Rubble e o carro amarelo!” É, filho…

Everest. É a personagem mais recente da saga. A segunda protagonista feminina surgiu depois de uma providência cautelar submetida pelas Capazes. Estou a brincar. Surgiu, imagino eu, porque é estúpido uma série animada tão popular não ter maior representação feminina. Não é o fim do mundo, mas é a maior falha desta história. Um dia destes vou fazer as contas e descobrir que por cada 77 segundos de uma cadela no ecrã há 100 segundos de um cão.

Ryder. É uma criança de 10 anos e, como todas as crianças dessas idade, tem umas coisas boas e outras extremamente irritantes. Está ali para que os nossos filhos não achem que o mundo está entregue aos bichos, mas nós pais sabemos melhor.

Não se chega a falar da ausência de uma meritocracia na sociedade portuguesa, mas a série foi originalmente criada nos EUA, por isso aceita-se essa falha. Antes assim que termos um podengo chamado Arménio Carlos a queixar-se por tudo e por nada.

Ligeiramente mais a sério: a saga da Patrulha Pata tem todos os ingredientes para correr bem, daí que seja portanto um sucesso estrondoso em Portugal. As histórias são fáceis de seguir, sem serem desinteressantes ou esvaziadas de moral. As personagens são multi-facetadas e genuinamente divertidas, alternando entre uma dose saudável de patetice e argúcia bem humorada que até uma criança consegue assimilar. Acontecem mil e uma coisas diferentes ao longo das três ou quatro temporadas já transmitidas em Portugal.

O autor Kevin Chapman, que chegou a ajudar Jim Henson nos Marretas, parece genuinamente preocupado em não entupir a cabeça de mensagens ininteligíveis para encarregado de educação ver (há muito pós-modernismo bacoco na literatura infantil), mas também não quer que a criança saia dali de mãos a abanar. Há partilha, há solidariedade, há trabalho de equipa, e há uma visão minimamente estruturada do trabalho que algumas coisas dão a fazer. Não se chega a falar da ausência de uma meritocracia na sociedade portuguesa, mas a série foi originalmente criada nos EUA, por isso aceita-se essa falha. Antes assim que termos um podengo chamado Arménio Carlos a queixar-se por tudo e por nada.

A primeira gargalhada do meu filho com algo que não as figuras tristes dos pais aconteceu, se não estou em erro, com a Everest e o Rubble. Já revi a cena várias vezes e continuo sem perceber a piada, mas talvez assim compreendam o que torna o episódio “Os Cães Salvam um Fantasma” absolutamente lendário. Porque é que tudo isto interessa? Porque amanhã acontece um espectáculo ao vivo da Patrulha Pata na MEO Arena e há uma parte muito importante de mim que gostava de ir. Chama-se Tomás.

[Patrulha Pata Ao Vivo, este sábado, 30 de Setembro, no Meo Arena, às 11h, 15h, 18h30; bilhetes a partir dos 15 euros]

Vasco Mendonça é publicitário e co-CEO da associação recreativa Um Azar do Kralj

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