Numa visita ao Centro de Portugal, são muitos os espaços visitáveis onde permanecem memórias do nosso património industrial, interpretados por suportes de comunicação digitais, que nos fazem recuar na história e ter a perceção da importância da indústria no desenvolvimento das comunidades.
As fábricas em laboração abrem portas a visitas e é indescritível o sentimento de pertença que nos transmite cada processo produtivo. É o ADN português e do Centro de Portugal que sai, todos os dias, de mãos de operários dedicados à arte do saber-fazer.
Desde as fábricas reais de lanifícios da Serra da Estrela, ao Museu do Vidro da Marinha Grande na Região de Leiria, à refinada arte da cerâmica do Oeste e da região de Aveiro, à importância do comboio que possui força histórica e memória de tempos idos no Médio Tejo, à sericicultura na
Beira Baixa, ao linho e à memória da extração do quartzo em Viseu Dão Lafões, à pedra, ao vinho e à cerveja artesanal na Região de Coimbra…o difícil será escolher por onde começar.
Mas vamos dar-lhe uma pequena ajuda: para descobrir a verdadeira magia da cerâmica e do design contemporâneo, nada como fazê-lo de uma forma sustentável, utilizando a bicicleta. As Rainhas, bicicletas elétricas de uso partilhado, são muito conhecidas nas Caldas da Rainha, pois não só promovem uma mobilidade sustentável, como são uma ótima forma de ficar a conhecer a cidade.
Agora que temos como lá chegar, o primeiro passo é descobrir a Rota Bordaliana. Aqui, poderá encontrar rãs, caracóis, gatos e sardões a uma escala enorme e o melhor é que, pelo caminho, irá encontrar um verdadeiro Palacete, rodeado por jardins de traçado romântico. É isso mesmo, chegou ao Museu da Cerâmica. De destacar a evolução de peças da autoria de Rafael Bordalo Pinheiro, a produção “Arte Nova” de Costa Motta Sobrinho e, ainda, as obras de Francisco Elias. Se é apreciador de design e inovação, o atelier da marca QUINZE, na Praça da República, é paragem obrigatória.
E de bicicleta, aproveite para visitar o Museu do Ciclismo, onde o acervo é constituído por um vasto conjunto de elementos como camisolas, bicicletas, recortes de jornais, publicações várias e fotografias, que contam a história do Ciclismo de Estrada dos tempos de antigamente.
Se esta temática lhe interessa particularmente, não pode perder o Museu do Ciclismo Joaquim Agostinho, em Torres Vedras. Instalado no antigo refeitório da Fábrica da Casa Hipólito, no Bairro Arenes, este equipamento cultural assume-se como um elemento de preservação da memória do ciclista torriense Joaquim Agostinho e de promoção do ciclismo enquanto prática desportiva e social.
Já a empresa António Rosa Ceramics, em Alcobaça, devolve-nos ao caminho pelos encantos da cerâmica. Aqui é possível uma visita à produção de peças em faiança, bem como às coleções de autor a que designam Private Label. Se o corpo lhe pedir uma paragem para adoçar a alma, há espaço para acrescentar à lista o Atelier do Doce, em Alfeizerão, onde é possível fazer uma visita panorâmica comentada, com acesso visual ao fabrico de pastelaria e doces conventuais. Aqui, é obrigatório dar carta-branca ao palato.
É então altura de irmos até à Região de Leiria e, concretamente, ao concelho da Marinha Grande. Com um legado histórico incalculável, destacam-se as unidades fabris do setor do vidro automático e de laboratório. A Leerdam Crisal Glass conta com mais de 70 anos de história na indústria vidreira. Produz copos, cálices, canecas, taças, vasos, entre outros, e é possível acompanhar todo o seu processo produtivo. No final, não poderá ir embora sem visitar a loja da fábrica!
Já no PoeirasGlass – Estúdio do Vidro, é possível ficar a conhecer o verdadeiro processo do vidro soprado manualmente. Desde o sopro, à técnica do Fusing ou Maçarico, nada ficará por explicar. E porque falamos em vidro, o Museu do Vidro é, claro, paragem obrigatória. Especificamente vocacionado para o estudo da arte, artesanato e indústria vidreira, aqui poderá encontrar um conjunto de obras que representam cerca de 25 anos de vidro de expressão plástica contemporânea, realizado em Portugal, e uma seleção de obras em vidro de artistas internacionais.
A Normax produz materiais destinados à indústria farmacêutica, sendo que as visitas são apenas orientadas para estudantes.
Esteja atento ao calendário de workshops alusivos ao vidro dinamizados pelo CENCAL – Centro de Formação Profissional para a Indústria Cerâmica. No período de fevereiro a maio, o forno costuma encontrar-se em funcionamento, sendo uma oportunidade única para observar as várias técnicas de sopro e molde de peças em vidro. E não se fala da Marinha Grande sem falar da indústria dos moldes. Moldoeste, Planimolde e Plimat, proporcionam visitas mediante marcação prévia.
Em Mira de Aire, concelho de Porto de Mós, o MIAT – Museu Industrial e Artesanal do Têxtil, é digno de visita. Com a missão de homenagear os empresários e os operários que traçaram o seu caminho profissional na indústria têxtil – desde 1920 até aos dias de hoje – o seu acervo é fundamental para que possa compreender a valorização do ciclo da lã e, ainda, ficar a conhecer todo o seu processo de transformação.
É também neste concelho que pode aventurar-se numa atividade de olivoturismo. A Casa Féteira, produtor de azeite de qualidade superior, dispõe de uma visita guiada simples ao lagar e ao olival, e outra onde é possível aprofundar o conhecimento sobre a história da região e o processo de extração de azeite. O final da visita, e já com os sentidos voltados para o ingrediente principal, culmina com uma prova de azeites, extraídos a frio e não filtrados.
Ainda em Porto de Mós, surpreenda-se com uma pedreira de onde saem mármores portugueses de qualidade única.
A Airemármores é uma empresa familiar de extração e transformação de calcários e mármores portugueses. O melhor a fazer é marcar uma visita guiada e dar-se ao luxo de observar todo o processo em primeira mão. É um ótimo plano para fazer em família, com o plus de ter, na área da empresa, um parque de merendas que lhe permitirá fazer uma pausa com vista para o esplendor das Serras de Aire e Candeeiros.
E por falar em pedreira… Sabia que em Leiria há um Museu dedicado ao cimento? Curioso? Marque previamente e visite o Museu do Cimento da Fábrica Maceira-Liz. Prometemos que olhará com outros olhos para um simples saco de cimento.
Na região do Médio Tejo, é no Núcleo Museológico da Central Elétrica de Tomar que poderá ficar a saber como é feita a produção de energia – hidráulica e elétrica -, e, ainda, toda a história da eletrificação da região. Já no Núcleo Museológico da Fundição Tomarense, preserva-se e salvaguarda-se a memória da importância das atividades de fundição, serralharia e rebarbagem para a comunidade local.
No Tramagal, concelho de Abrantes, visite o Museu Metalúrgica Duarte Ferreira. Um museu que pretende preservar e perpetuar o legado de todos aqueles que fizeram a história do portento nacional que foi a Metalúrgica Duarte Ferreira. Sabe qual é o segredo mais bem guardado da história desta fábrica? Descubra-o na sala do cofre.
Em Torres Novas, visite a Central do Caldeirão – Núcleo Museológico, onde a coleção de arqueologia industrial original foi intervencionada e recuperada ‘’in situ’’.
Nesta região, há uma visita imperdível. Falamos do Museu Nacional Ferroviário, no Entroncamento. Mas vá com tempo porque esta é uma visita que merece toda a sua atenção. Instalado no antigo Complexo Ferroviário da Cidade, o Museu assume como missão a preservação, divulgação e promoção do Património Ferroviário Nacional. Com uma área de 4,5 hectares, poderá ficar a conhecer 19 linhas ferroviárias que contam a história de um país.
Destacam-se edifícios, como o antigo Armazém de Víveres, onde os ferroviários realizavam as suas compras; a Rotunda de Locomotivas; as Antigas Oficinas de vapor que funcionaram durante mais de 100 anos. E para aumentar a vivência desta visita, nada como levar a merenda e comer a bordo de uma carruagem com toda a comodidade. Será, certamente, uma experiência inesquecível!
Aproveite a viagem para se deslocar até ao concelho de Alcanena, mais concretamente à localidade de Minde. No centro da vila ouve-se o som de teares que têm por base uma roda cremalheira, arames, pedras e cordas. No Centro de Artes e Ofícios Roque Gameiro deslumbre-se com o fabrico manual da Manta de Minde, tecida com lã 100% portuguesa, e cuja história remonta ao séc. XIX.
E porque em Alcanena se produz o que de melhor existe no setor dos curtumes, nada como fazer uma paragem no CTIC – Centro Tecnológico das Indústrias do Couro, criado para intervir sobre a dimensão tecnológica deste setor em Portugal.
Na Beira Baixa, mais concretamente na cidade de Castelo Branco, o Museu da Seda é local de visita obrigatória. Do “Bicho ao Fio”, “Do Fio ao Tecido” e do “Tecido ao Produto Final” são espaços inspiradores onde é possível compreender o processo da sericicultura na Beira Interior.
Já na Serra da Estrela, visite antigas fábricas que ganham agora uma nova vida e acolhem designers e artistas contemporâneos. Em Manteigas, a Burel Factory é um caso notável de como se transforma a mais pura lã de ovelha bordaleira em peças únicas e intemporais em burel.
Também a Ecolã Portugal possui um legado que atravessa gerações com um profundo conhecimento da indústria de lanifícios. O burel é novamente a matéria-prima orgulhosamente portuguesa, em mantas, capas e artigos de decoração.
O caminho até à Covilhã e à Rota da Lã Translana faz-se num ápice. Aqui, o Museu dos Lanifícios da Universidade da Beira Interior apela a um novo olhar para as evidências de campo associadas à cultura laneira. Tendo a lã como fio condutor, não deixe de usufruir dos percursos guiados pelo património industrial, pelas vias de transumância e seguindo o itinerário peninsular que liga as fábricas da Covilhã ao “Lavadero de Lanas de Malpartida”. Destacam-se as experiências de indústria viva e os percursos pedestres pela Covilhã cidade-fábrica: Ribeira da Goldra, Ribeira da Carpinteira, Centro Histórico e CampusLana. Agende a sua visita guiada e surpreenda-se com a riqueza deste património!
Visita obrigatória é, igualmente, o New Hand Lab. Uma antiga fábrica de lanifícios que se transformou em laboratório criativo, que acolhe as mais inovadoras iniciativas de criadores residentes dando uma nova forma à manufatura da lã. Verdadeiras obras de arte tecidas em lã decoram o espaço onde as paredes encerram estórias magníficas de outros tempos.
Em Seia, o Museu Natural da Eletricidade é residência da história do aproveitamento hidroelétrico da Serra da Estrela. E como não poderia deixar de ser, a Fábrica Malhas Pinto Lucas faz as honras no que à lã diz respeito.
No coração do Centro de Portugal, em Calde, no concelho de Viseu, o Museu do Linho preserva a tradição do linho e reinventa as vivências felizes em volta do tear. No Monte de Santa Luzia visite o Museu do Quartzo – Centro de Interpretação Prof. Galopim de Carvalho, um espaço interativo de exploração do património geológico e natural da região.
Se tem curiosidade pela indústria mineira, marque a sua visita nas Minas do Braçal e da Malhada, em Sever do Vouga. Ainda na região de Aveiro, a história da indústria conserveira encontra-se bem patente no COMUR – Museu Municipal da Murtosa.
Já teve oportunidade de andar a bordo de um barco Moliceiro? Visite o Estaleiro – Museu do Monte Branco e fique rendido à arte da construção tradicional desta embarcação.
E da Murtosa seguimos para Ílhavo onde a Vista Alegre dispensa apresentações! Uma marca portuguesa e orgulhosamente nossa, do Centro de Portugal. Esteja atento: em 2024 celebram-se os 200 anos da sua existência com um calendário de atividades imperdível.
Até lá, não perca a oportunidade de absorver a história da epopeia da pesca à linha do bacalhau, no Museu Marítimo de Ílhavo. Pequenos e graúdos irão ficar surpreendidos com magnífico aquário de bacalhaus. E nada como seguir para uma visita ao Navio Museu Santo André, ancorado junto ao Jardim Oudinot, o qual fez parte da frota portuguesa do bacalhau e pretende ilustrar a arte do arrasto.
Mas voltemos ao setor das duas rodas, mais concretamente à indústria da bicicleta que tem o seu epicentro em Águeda e Anadia.
Em Águeda, reserve algum do seu tempo para visitar a empresa Light Mobie, onde as soluções de bicicletas elétricas partilhadas são uma prioridade. Se já se deslocou nas ‘BeÁgueda’ ou nas ‘Rainhas’, já testou a qualidade destes veículos produzidos em Portugal.
E para que a qualidade seja garantida, a Abimota – Associação Nacional das Indústrias das Duas Rodas, Ferragens, Mobiliário e Afins, possui um Laboratório de apoio à indústria, visitável mediante reserva prévia.
Em Anadia, o Museu das Duas Rodas encontra-se localizado nas instalações do Centro de Alto Rendimento/Velódromo de Sangalhos. Ficará encantado com a quantidade de bicicletas e motorizadas expostas! Sabia que as bicicletas Cycles Eleven são produzidas no Centro de Portugal? Agende visita à Incycles e fique rendido a este meio de transporte 100% sustentável.
Na região de Coimbra, em Cantanhede, o Museu da Pedra dá-lhe a conhecer antigas obras de arte realizadas em pedra de Ançã. Recue ao tempo dos computadores Spectrum. Sabia que há um Museu em sua honra? Há! O Museu Load ZX Spectrum. Já na Praia da Tocha, fique a conhecer um pouco mais sobre a arte xávega, no Centro de Interpretação de Arte Xávega.
Para terminar este roteiro da melhor forma, sugerimos-lhe duas últimas paragens: a Adega de Cantanhede – onde pode acompanhar todos os passos do processo vínico e uma degustação, em época própria -, e mais a sul, em Coimbra, deliciar-se com uma cerveja artesanal Praxis.
Sejam quais forem os pontos que lhe suscitem maior interesse, uma coisa é certa: não falta o que visitar nesta região. O Património Industrial e a Indústria Viva do Centro de Portugal são feitos de tanta arte, grandes artesãos, operários e empreendedores que não lhe passarão despercebidos. Qualquer que seja a localidade que escolha visitar, ficará a saber tudo sobre o que de melhor se faz no Centro de Portugal!