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"A Última Sessão de Música" é o nome da digressão que marca a despedida dos palcos do cantor e compositor brasileiro
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"A Última Sessão de Música" é o nome da digressão que marca a despedida dos palcos do cantor e compositor brasileiro

Marcos Hermes

"A Última Sessão de Música" é o nome da digressão que marca a despedida dos palcos do cantor e compositor brasileiro

Marcos Hermes

Milton Nascimento e a despedida dos palcos. “Se consegui emocionar com a minha música, já valeu a pena”

Com 60 anos de carreira, e prestes a completar 80 de vida, Milton Nascimento despede-se dos palcos numa digressão que passará por Portugal. Ao Observador, fala sobre amizade, esperança e gratidão.

Nasceu no Rio de Janeiro, mas foi em Minas Gerais que descobriu a música em casa dos seus pais adotivos, onde se ouviam estilos de todo o mundo. Começou por tocar sanfona (acordeão), experimentou gaita (harmónica), mais tarde o violão e depois veio o canto. Com 13 anos foi crooner num grupo de baile em Três Pontas, na zona sul da região, e entre amigos compôs as suas primeiras canções.

A música indígena, as canções folclóricas mineiras, o rock dos Beatles, a Bossa Nova, o jazz ou o tropicalismo foram géneros que influenciaram o seu crescimento, marcado pelo preconceito do racismo, pela ditadura militar e pela diversidade do povo brasileiro. Milton Nascimento, mais conhecido por Bituca, apresentou-se ao mundo com “Travessia”, tema que conquistou o segundo lugar do Festival Internacional da Canção em 1967, ano em que lançou o primeiro álbum batizado com o mesmo nome.

A sua carreira projetou-se internacionalmente em 1975, quando o saxofonista americano Wayne Shorter, colega de Miles Davis, o convidou a gravar um disco. Três anos antes, em 1972, participou numa das mais belas e marcantes obras do património da música brasileira, o Clube da Esquina, e, depois disso, “nada foi como antes”. “É um disco de amizade, feito entre grandes amigos, aliás, se não fosse isso não teríamos feito nada. Para mim, se não tem amizade, não tem jeito.”

Há 50 anos, Milton Nascimento quis fugir do mundo e criou o “Clube da Esquina”

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Dono de uma timidez crónica e de um sorriso aberto, Bituca misturou heranças musicais, testou rótulos, desafiou dogmas e, na sua simplicidade, tornou-se um dos nomes mais influentes e intemporais da MPB. Tanto no palco como no seu processo criativo soube rodear-se de artistas que se tornaram verdadeiros amigos, como Tom Jobim, Elis Regina, Agostinho dos Santos, Chico Buarque, Gal Costa, Caetano Veloso ou Gilberto Gil, e tanto outros internacionais, como Björk, Quincy Jones, Peter Gabriel, Pat Matheny, Sarah Vaughan ou Duran Duran.

Premiado com cinco Grammys e reconhecido nos quatro cantos do mundo, gravou 42 discos repletos de sucessos, onde “Maria, Maria” (1978), “Canção da América” (1980) ou “Encontros e Despedidas” (1985) são apenas alguns exemplos. Milton Nascimento acredita que na música não existem metas ou barreiras e dentro dela nada deve ser planeado. “Para mim é uma coisa que vem naturalmente, não importa lugar, cidade, nada, ela simplesmente acontece.” As suas canções falam de afeto, da luta por ideias e ideais, de sobrevivência e de esperança por um mundo melhor. “Sem esperança, eu nem saio mais de casa”.

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“A Última Sessão de Música” é o nome da digressão que marca a sua despedida dos palcos ao fim de 60 anos de carreira e quase 80 de vida, e que passará por Portugal com concertos em Lisboa (23), Castelo Branco (26) e Porto (29). O cantor e compositor tem tido vários problemas de saúde e nas suas últimas apresentações ficou evidente a sua fragilidade física, no entanto a sua voz parece permanecer inquebrável. “Acho que cada um tem seu jeito de gostar de mim, tal como sou. Se eu consegui emocionar com minha música, para mim, já valeu à pena.” Bituca promete não deixar de cantar e de compor, sabe que a música brasileira viverá e reinará depois da sua existência e agradece tudo o que conquistou. O mundo agradece a sua voz, o seu legado e o seu exemplo.

"São mais de sessenta anos viajando para cantar em tudo quanto é lugar, então acho que chegou a hora de me retirar"

Marcos Hermes

O Milton é um artista bastante consensual, sendo ao mesmo tempo uma figura enigmática e até difícil de decifrar. É essa a imagem que acha que as pessoas têm de si?
Acho que cada um tem seu jeito de gostar de mim, sendo como eu sou. Se conseguir emocionar com minha música, para mim, já valeu à pena.

Diz que ainda tem um menino dentro de si. De que forma é que ele se manifesta nos seus dias?
O menino está sempre aqui dentro para me dar a mão quando preciso. Criança também tem que ver com esperança e é ela que me ajuda a continuar.

Acha que descobriu a música ou ela é que o descobriu a si? O que despertou esse interesse? Quando é que percebeu que a sua vida ia mesmo passar por compor e cantar?
A música nasceu para mim na casa dos meus pais, Lília e Zino, primeiro com uma sanfona, depois uma gaitinha, aí veio violão, o canto…. Minha casa era muito musical, ouvíamos muita música do mundo inteiro. Todo esse conjunto de coisas foi me levando naturalmente para esse caminho artístico.

Há 50 anos participou no Clube da Esquina, considerado por muitos o melhor álbum da música brasileira. As canções falavam de afeto e de amizade, apesar de terem surgido num tempo político marcado pela ditadura. O amor e a amizade continuam a ser as suas armas?
O amor, a amizade, a música e as artes de forma em geral são essenciais para nossa vida. O Clube da Esquina é um disco de amizade, feito entre grandes amigos, aliás, se não fosse isso não teríamos feito nada. Para mim, se não tem amizade, não tem jeito.

Acredita que a música tem mesmo o poder de mudar o mundo?
Sim, não apenas a música, todas as artes podem mudar o mundo, consciências, mentalidades e corações. A arte é mesmo fundamental, em tudo.

Faz agora uma última digressão. Como tomou essa decisão?
Já são muitos anos de estrada, comecei como crooner aos 13 anos e a partir daí não parei mais. São mais de sessenta anos viajando para cantar em tudo quanto é lugar, então acho que chegou a hora de me retirar. Me despeço dos palcos, mas da música jamais.

O que vamos poder ouvir em palco e esperar destes concertos em Portugal? No meio de tantas canções, como fez a seleção do reportório?
Esse show tem a direção do meu filho, Augusto, que é quem também cuida da minha carreira nesses últimos anos. Toda essa turné de despedida, “A Última Sessão de Música”, foi pensada por ele, desde a parte artística até o repertório. A ideia principal é fazer um concerto capaz de mostrar e de certa forma voltar a todas as fases da minha carreira.

"Quando tenho um intervalo, gosto de ler, ouvir música e ver televisão, principalmente algumas novelas do momento, confesso"

Marcos Hermes

Do que mais se orgulha de ter feito?
Na verdade, só tenho a agradecer minha vida até aqui, não posso reclamar de nada. Agradeço pelos meus amigos, pelo meu filho, pelos meus discos e por todas as coisas que fiz.

Durante a pandemia escreveu três canções, foi uma fase especialmente produtiva ou nem por isso?
A pandemia afetou todo o mundo, foi um período extremamente difícil, inclusive para mim. Quem chegou até aqui é um sobrevivente de um dos períodos mais extremos da história, disso não tenho dúvidas.

Como descreve o seu processo criativo? Solitário ou coletivo? Duro ou apaziguador?
Acho que tem um pouco de tudo isso nesse meu jeito de criar. A música para mim é uma coisa que vem naturalmente, não importa lugar, cidade, nada, ela simplesmente acontece.

Cada artista reflete a sua época, o tempo em que vive, o que vê e o que ouve. O que anda a ouvir agora?
Vou citar dois artistas com quem estou trabalhando agora e que as pessoas precisam muito conhecer: Zé Ibarra e os Beraderos.

Como vê música que se faz no Brasil? Como olha para as novas gerações artísticas?
A música no Brasil é uma coisa que já está formada e enraizada no nosso quotidiano, não tem jeito. Todo dia aparece alguém fazendo algo de novo e penso que será sempre assim. A juventude brasileira é impressionante e me surpreende em tudo, não apenas na música.

"Vou lutar sempre, disso podem ter certeza. Sem esperança, eu nem saio mais de casa"

Marcos Hermes

Ao longo da sua vida tem sido um defensor dos povos indígenas, da Amazónia ou da luta contra o racismo. Como é olhar para o Brasil de hoje depois de tantos anos a lutar por essas causas? Tem vontade de continuar a lutar?
Vou lutar sempre, disso podem ter certeza. Sem esperança, eu nem saio mais de casa.

Nestes tempos exigentes e mais sombrios, onde é que encontra essa força e esperança?
Na convivência com meu filho e com meus amigos, posso dizer que a amizade é o que mais me inspira a continuar.

Como é um dia na sua vida? O que mais gosta de fazer quando não está a trabalhar?
Nesses meses que antecedem a turné faço uma rotina de preparação direta para os shows que a gente tem pela frente. Acordo por volta de oito, tomo meu café da manhã e todos os dias tenho algo programado: fisioterapia, exercícios físicos com um personal trainer, fonoaudiologia, ensaios…. Enfim, cada dia tem sido pensado para esta digressão, para que tudo seja perfeito. Quando tenho um intervalo, gosto de ler, ouvir música e ver televisão, principalmente algumas novelas do momento, confesso.

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