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epa07009200 Labor candidate Ciro Gomes participates in the televised presidential debate organized by television Gazeta and the newspaper O Estado de Sao Paulo, in Sao Paulo, Brazil, 09 September 2018.  EPA/Sebastiao Moreira
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É a quarta vez que Ciro Gomes se candidata à presidência brasileira

Sebastiao Moreira/EPA

É a quarta vez que Ciro Gomes se candidata à presidência brasileira

Sebastiao Moreira/EPA

Ciro Gomes quer "reconciliar" o Brasil e transformar país "num Portugal". Na entrevista à Globo, tentou ir buscar votos a Bolsonaro e a Lula

Candidato do PDT tem um projeto para elevar os padrões de qualidade de vida no Brasil até aos níveis de Portugal em 30 anos. Em entrevista à Globo, Ciro Gomes apelou aos eleitores de Lula e Bolsonaro.

Ciro Gomes precisou de apenas três minutos para recorrer à frase de Albert Einstein que tem marcado a sua campanha eleitoral: “A ciência da insanidade é você repetir as mesmas coisas e esperar resultado diferente.” Com as sondagens a colocá-lo em terceiro lugar com apenas 7% dos votos, bem longe dos dois primeiros, Ciro Gomes apresenta-se na campanha para as eleições presidenciais brasileiras agendadas para 2 de outubro com um objetivo claro: romper com a polarização gerada entre Jair Bolsonaro, à direita, e Lula da Silva, à esquerda, captando eleitores dos dois lados e assumindo-se como a terceira via, propondo uma política de centro-esquerda.

Na entrevista que deu esta terça-feira ao Jornal Nacional da TV Globo (o segundo numa ronda de entrevistas, depois de Bolsonaro na segunda-feira), Ciro Gomes procurou por diversas vezes demarcar-se dos dois candidatos mais bem colocados nas sondagens — sobretudo de Lula da Silva, desferindo duras críticas no PT e apelando ao eleitorado de esquerda que apoie a sua solução, uma vez que há “um país para governar”. Ciro Gomes focou-se, essencialmente, na descrição das políticas que pretende implementar, apontou objetivos concretos e garantiu que quer transformar a eleição presidencial num “plebiscito programático”.

Para Ciro Gomes, “o Brasil não aguenta mais” uma crise que se prolonga há décadas e que agora parece encaminhar-se para uma repetição de ciclo: se a eleição de Bolsonaro foi uma reação aos escândalos de corrupção no seio do PT durante os últimos anos, a rejeição de Bolsonaro não pode traduzir-se num regresso a Lula da Silva, insistiu Ciro, que repetiu que tem um projeto para “unir o país”.

À defesa: a linguagem ofensiva contra os adversários

Na entrevista à TV Globo, os jornalistas William Bonner e Renata Vasconcellos começaram por confrontar Ciro Gomes com o facto de o candidato usar com frequência linguagem forte, por vezes ofensiva, para se referir aos seus adversários. Ciro Gomes admitiu moderar a linguagem, mas partiu para a defesa, argumentando que “a corrupção é um flagelo no Brasil” e que esse problema tem nomes e rostos, que têm de ser identificados.

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“O Brasil não aguenta mais”, diz Ciro Gomes, o candidato que quer romper com a polarização Bolsonaro/Lula. Acompanhe a entrevista à TV Globo

O candidato do PDT partiu, de imediato, para a apresentação das suas ideias e garantiu que o seu objetivo é “unir o país em redor de um projeto”. Salientando que o Brasil vive hoje uma “grave crise”, com mais de 30 milhões de pessoas a passar fome, Ciro Gomes afirmou que “120 milhões de pessoas não fizeram as três refeições hoje”. O grande propósito do candidato é esforçar-se por “reconciliar o Brasil”, garantiu.

Ao ataque: o “sistema escravista” e o combate à corrupção

Especialmente focado em aproveitar os 40 minutos da entrevista para mencionar ideias programáticas, propostas e medidas, Ciro Gomes afirmou que pretende uma revolução completa do próprio sistema político e económico brasileiro. Dizendo representar um “movimento abolicionista de um sistema escravista”, o candidato disse que a crise de confiança “corrompeu organicamente a Presidência da República” e considerou que é fundamental que o debate político (e o voto) passe a estar centrado nas ideias e não nas pessoas.

Ciro Gomes quer ser a alternativa numas eleições polarizadas entre Lula da Silva e Jair Bolsonaro

SEBASTIAO MOREIRA/EPA

Para Ciro Gomes, um dos principais motivos por trás dessa crise é a possibilidade de reeleição do presidente. Determinado em “abrir mão da reeleição”, Ciro Gomes disse que essa opção vai facilitar a sua capacidade de negociar reformas e políticas e explicou que a possibilidade de ser reeleito leva com frequência o presidente brasileiro a vender-se a grupos de interesse.

Mas o candidato do PDT também vincou ataques contra o PT de Lula da Silva, o principal espaço político onde espera ir buscar eleitores, lembrando que aquele é o mesmo partido que protagonizou episódios de “corrupção generalizada” e “colapso económico” nos últimos anos no Brasil.

“Eu estou tentando mostrar para o povo brasileiro que essa polarização odienta, eu não ajudei a construir. Pelo contrário, estava lá em 2018, tentando advertir que as pessoas não podiam usar a promessa enganosa do Bolsonaro para repudiar a corrupção generalizada e o colapso económico gravíssimo que foram produzidos pelo PT. Isso aconteceu no Brasil e, agora, está-se tentando repetir uma espécie de 2018”, disse Ciro Gomes.

As promessas: lei anti-ganância, saneamento e novas formas de redistribuir a riqueza

A maior parte da entrevista à TV Globo foi aproveitada por Ciro Gomes para se alongar sobre as suas promessas eleitorais, incluindo com o anúncio de uma nova medida: a lei anti-ganância. Ciro Gomes teve de a resumir em poucos segundos, já que a apresentou no minuto final a que teve direito, mas explicou que a ideia passa por facilitar a vida a quem tem créditos pessoais e paga juros sobre eles.

O candidato afirmou ainda que pretende pôr em prática projetos fundamentais logo nos primeiros seis meses da sua governação — e sublinhou que pretende pacificar as relações entre o governo federal e os governadores estaduais, libertando 15% dos recursos destinados aos estados para que possam ser aplicados livremente pelos governadores.

Num claro esforço de captação do eleitorado de Lula da Silva, Ciro Gomes apresentou várias medidas concretas dirigidas às populações mais vulneráveis e detalhou números, afirmando várias vezes que há um país para governar e que não basta votar em Lula da Silva como forma de protesto contra Bolsonaro. Entre essas medidas, incluem-se pacotes de benefícios financeiros às famílias mais pobres através do aumento de impostos sobre as grandes fortunas, a federalização de competências judiciais para lidar com o crime organizado e o controlo dos territórios rurais da Amazónia hoje dominados pelo crime.

Ciro Gomes apontou também objetivos concretos: elevar os padrões de qualidade de vida no Brasil até aos níveis de Portugal; criar cinco milhões de empregos nos próximos anos com uma forte aposta nas obras públicas e na urbanização de favelas e bairros sociais; e ainda tornar o ensino público brasileiro num dos dez melhores do mundo.

A frase: um apelo ao fim da polarização

Ciro Gomes aproveitou o minuto final da entrevista para se voltar diretamente para a câmara e repetir a sua intenção de furar a polarização Bolsonaro-Lula com um apelo concreto: “Você que vota no Bolsonaro porque não quer o Lula de volta, me dá uma chance. Você que vota no Lula porque não quer mais o Bolsonaro, há um país para governar. Me dê uma oportunidade. E você, indeciso, sabe quantos são vocês? Mais de metade da população. Está na mão de vocês mudar o Brasil.”

Numa corrida eleitoral essencialmente marcada pela polarização extrema entre o atual presidente, Jair Bolsonaro, à direita, e o regressado Lula da Silva, à esquerda, os eleitores brasileiros que tentem fugir destas duas opções estão, provavelmente, de olho em Ciro Gomes, que surge em terceiro lugar nas sondagens mais recentes — embora muito distante dos dois primeiros, reunindo apenas 7% das intenções de voto contra 47% para Lula da Silva e 32% para Bolsonaro.

A pandemia, a credibilidade dos resultados eleitorais e a economia. Jair Bolsonaro jogou à defesa na primeira entrevista da campanha

Advogado e professor universitário, Ciro Gomes está na política brasileira desde o início da década de 1980. Esta é a quarta vez que se candidata à presidência.

As eleições presidenciais brasileiras deste ano estão agendadas para o dia 2 de outubro. À semelhança do sistema eleitoral português, no caso de nenhum dos candidatos conseguir obter mais de 50% dos votos, haverá lugar a uma segunda volta entre os dois mais votados no dia 30 de outubro. Para esta semana estão ainda agendadas entrevistas com Lula da Silva (quinta-feira) e com Simone Tebet, do MDB (sexta-feira).

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