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Donald Trump chegou à Casa Branca há 1.316 dias e tem 67 até às eleições de 3 de novembro
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Donald Trump chegou à Casa Branca há 1.316 dias e tem 67 até às eleições de 3 de novembro

AFP via Getty Images

Donald Trump chegou à Casa Branca há 1.316 dias e tem 67 até às eleições de 3 de novembro

AFP via Getty Images

Para Donald Trump, a sua reeleição é uma questão de vida ou morte para os EUA

Num discurso de 70 minutos, Donald Trump enalteceu o seu primeiro mandato — e comparou-se até a Lincoln. Sobre o futuro, colocou duas hipóteses: ou o regresso à "grandeza" ou o "socialismo" de Biden.

Algo soava mal naquela frase.

A ideia era simples e a frase uma mera formalidade, mas uma palavra parecia ali fora de lugar. “Aceito profundamente esta nomeação para Presidente dos Estados Unidos da América”, disse Donald Trump. Logo após alguma confusão inicial, percebeu-se o que falhara ali: o Presidente leu mal o teleponto. De acordo com a versão escrita do discurso, divulgada previamente aos jornalistas, Donald Trump estava preparado para dizer “orgulhosamente”. Por erro, de proudly (“orgulhosamente” em inglês) partiu para profoundly (“profundamente”).

Mas a verdade é que, no discurso de 70 minutos com que encerrou a Convenção do Partido Republicano (quase o triplo do seu adversário, Joe Biden, que falou 25 minutos na Convenção do Partido Democrata), Donald Trump deixou claro que é profundo o seu orgulho nos quase quatro anos da sua administração, comparando-se a antecessores como Abraham Lincoln. E, ao mesmo tempo, sublinhou que a sua governação pode ser apagada num ápice pelo seu adversário, o democrata Joe Biden, que Donald Trump disse ser um “cavalo de Tróia para o socialismo”.

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“Nunca antes os eleitores estiveram perante uma escolha tão clara entre dois partidos, duas visões, duas filosofias e duas agendas”, disse Donald Trump, num discurso feito às portas da Casa Branca e bem longe de Charlotte, na Carolina do Norte, o local previsto para a Convenção do Partido Republicano antes de a pandemia ter obrigado a uma mudança de planos.

"Nunca antes os eleitores estiveram perante uma escolha tão clara entre dois partidos, duas visões, duas filosofias e duas agendas. Estas eleições vão decidir se queremos salvar o sonho americano ou se vamos permitir que uma agenda socialista destrua o nosso destino."
Donald Trump, Presidente dos EUA

“Estas eleições vão decidir se queremos salvar o sonho americano ou se vamos permitir que uma agenda socialista destrua o nosso destino. Estas eleições vão decidir se queremos criar rapidamente milhões de trabalhos bem pagos ou se queremos esmagar a nossa indústria e mandar milhões desses empregos para fora do país tal como tem acontecido ao longo de várias décadas por insensatez. Os vossos votos vão decidir se protegemos os americanos que cumprem a lei ou se damos carta branca aos anarquistas violentos, aos agitadores e aos criminosos que ameaçam os nossos cidadãos. E estas eleições vão decidir se defendemos o estilo de vida americano ou se vamos permitir que um movimento radical o desmantele e destrua.”

No final desta enumeração de escolhas, Donald Trump tirou os olhos do teleponto e acrescentou: “Não vai acontecer”.

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A audiência, com cerca de mil pessoas, não foi testada e não tinha de usar máscara

SAUL LOEB/AFP via Getty Images)

À sua frente, cerca de mil convidados sentados no relvado no lado Sul da Casa Branca (uma multidão sentada lado a lado, a enorme maioria sem máscara e sem obrigatoriedade de fazer um teste rápido à Covid-19) aplaudiram-no e gritaram por “mais quatro anos!”.

Por agora, Donald Trump continua atrás de Joe Biden nas sondagens nacionais e também nos estados que tradicionalmente decidem as eleições — embora recentemente tenha visto os números melhorarem, ao mesmo tempo que as sondagens sugerem que Joe Biden não teve um aumento de apoio depois da Convenção do Partido Democrata, entre 17 e 20 de agosto. Faltam 67 dias para as eleições presidenciais, tempo suficiente para que muito mude na corrida para a Casa Branca. Talvez ciente disso, Donald Trump centrou a primeira parte do seu discurso noutra conta — nos 1.316 dias que passaram desde que entrou naquele edifício que se via nas suas costas.

US-POLITICS-VOTE-REPUBLICANS

AFP via Getty Images

Donald Trump presta contas aos seus eleitores: “Cumpri as minhas promessas”

“Há quatro anos concorri à presidência porque não já podia assistir mais à traição do nosso país”, disse Donald Trump, fazendo um recuo aos tempos em que, em final de mandato de Barack Obama, desafiou a candidatura de Hillary Clinton e a hipótese de um terceiro mandato democrata consecutivo na Casa Branca. “Não podia ficar quieto ao ver políticos de carreira a deixarem que os outros países se aproveitassem de nós no comércio, nas fronteiras, na política externa e na defesa nacional.”

Quanto aos últimos 1.316 dias, garantiu isto à plateia diante de si: “Não fiz outra coisa senão lutar por vocês”. E garante que quebrou uma “regra orientadora da política de Washington”. “Cumpri as minhas promessas”, disse, repetindo uma ideia que é um dos seus slogans de campanha (“Promises Made, Promises Kept”, traduzível para “Promessa Feita, Promessa Cumprida”) e que vários oradores da Convenção do Partido Republicano sublinharam.

Entre essas promessas, Donald Trump elencou medidas imediatas, como foi a retirada dos EUA do acordo comercial Tratado da Parceria Transpacífica, do NAFTA ou do Acordo de Paris para o clima; a aprovação da construção de gasodutos e oleodutos; ou o combate à imigração ilegal.

Republicans Hold Virtual 2020 National Convention

Donald Trump discursou ao longo de 70 minutos, o mais longo da Convenção do Partido Republicano

Alex Wong/Getty Images

Quanto a este último, Donald Trump não esquece aquela que é uma das promessas mais emblemáticas de 2016: a construção de um muro ao longo de toda a fronteira entre os EUA e o México. “Já construímos 300 milhas [483 quilómetros] do muro e estamos a acrescentar 10 milhas [16 quilómetros] a cada semana”, disse. “O muro estará terminado em breve”, disse. Esta é, porém, uma declaração que a realidade no terreno contesta, com uma porção considerável da fronteira ainda por cobrir. Da mesma forma, Donald Trump não conseguiu que o México pagasse pelo muro, conforme prometeu na sua campanha de 2016. Em vez disso, o muro está a ser pago com dinheiro norte-americano, incluindo 3,8 mil milhões de dólares (3,2 mil milhões de euros) que foram desviados do Departamento de Defesa depois de o Congresso ter recusado mais fundos para aquele projeto.

Donald Trump lembrou também ao seu eleitorado mais conservador que no final do seu primeiro mandato terá “mais de 300 juízes” aprovados para cargos vitalícios — incluindo dois juízes do Supremo Tribunal. Embora sejam por norma juízes com fortes credenciais conservadoras, o facto é que recentemente o Supremo Tribunal e até os juízes que Donald Trump escolheu têm tomado algumas decisões desfavoráveis à sua base eleitoral — um facto que o Presidente ignorou no seu discurso.

"Digo, com muita modéstia, que fiz mais pela comunidade afro-americana do que qualquer Presidente desde Abraham Lincoln, o nosso primeiro Presidente republicano."
Donald Trump, Presidente dos EUA

Donald Trump colocou-se ainda como um dos presidentes que mais contribuíram para o bem-estar da comunidade afro-americana, colocando o seu legado acima de Lyndon B. Johnson, Presidente que aprovou a Lei dos Direitos Civis, que pôs fim à segregação racial imposta pelas Leis de Jim Crow, e também do de Barack Obama, primeiro afro-americano a chegar à Casa Branca. Tudo porque, durante a presidência de Donald Trump, a comunidade afro-americana, e também a hispânica, atingiu um mínimo histórico de desemprego à boleia dos bons indicadores.

“Digo, com muita modéstia, que fiz mais pela comunidade afro-americana do que qualquer Presidente desde Abraham Lincoln, o nosso primeiro Presidente republicano”, garantiu Donald Trump.

Porém, os indicadores positivos do desemprego afro-americano, à semelhança de tantos outros da economia norte-americana, colapsaram com a chegada da pandemia da Covid-19 aos EUA, onde entre os mais de 6 milhões de infetados (o maior número de qualquer país) morreu um total de 184.803 pessoas. Apesar de ter pouco mais de 4% da população mundial, os EUA têm 22% dos mortos por Covid-19 em todo o mundo. Ainda assim, como tem sido regra, Donald Trump fez uma defesa em toda a linha da gestão da sua administração à pandemia.

“Quando o vírus da China chegou, lançámos a maior mobilização nacional desde a Segunda Guerra Mundial”, sublinhou. “Ao invocarmos a Lei da Produção de Defesa, produzimos a maior quantidade de ventiladores no mundo. Nenhum americano que teve necessidade de um ventilador ficou sem um ventilador, o que é um milagre”, disse. “A América faz mais testes do que todos os países da Europa juntos e mais do que a soma de todas as nações do hemisfério ocidental. Pensem nisso.”

Joe Biden, o “cavalo de Tróia” de Bernie Sanders

Outra coisa em que Donald Trump pediu aos norte-americanos para pensarem foi no seu reverso nesta campanha: Joe Biden. E no que uma presidência do adversário democrata representaria, logo a começar pela possibilidade admitida por Joe Biden numa entrevista na semana passada à ABC de que, se os “cientistas” o recomendarem, pode decretar um confinamento a nível nacional.

“O custo do confinamento de Biden seria medido em overdoses de drogas, depressão, alcoolismo, suicídios, ataques cardíacos, devastação económica, perda de empregos e muito mais”, garantiu. “O plano de Joe Biden não é uma solução para o vírus. É, isso sim, uma rendição ao vírus.”

"Nos últimos quatro anos estivemos a reverter os danos que Joe Biden causou ao longo de 47 anos. O historial de Biden é uma lista vergonhosa das traições e dos erros mais catastróficos das nossas vidas."
Donald Trump, Presidente dos EUA

Esta foi apenas uma de várias críticas a Joe Biden, que Donald Trump procurou desqualificar em toda a linha.

“Nos últimos quatro anos estivemos a reverter os danos que Joe Biden causou ao longo de 47 anos”, disse o Presidente dos EUA, referindo-se ao ano de 1973, quando Joe Biden entrou para o Senado.

“O historial de Biden é uma lista vergonhosa das traições e dos erros mais catastróficos das nossas vidas. Ele passou toda a sua carreira no lado errado da História. Biden votou a favor do desastre do NAFTA, o pior tratado comercial alguma vez posto em prática. Apoiou a entrada da China na Organização Mundial de Comércio, um dos maiores desastres económicos de todos os tempos”, disse Donald Trump, concentrado em apelar ao eleitorado dos estados da Cintura da Ferrugem, berço da indústria norte-americana, que lhe valeu a vitória de 2016. “A China vai mandar no nosso país se Biden ganhar.”

“Depois dessas calamidades de Biden, os EUA perderam um a cada quatro trabalhos na indústria. Despedimos trabalhadores no Michigan, no Ohio, no New Hampshire, na Pensilvânia”, disse Donald Trump, citando somente estados onde venceu em 2016 e onde terá de tornar a vencer em 2020 para ser reeleito. “Eles não querem as palavras de empatia vazias de Biden. Eles querem os seus empregos de volta.”

Além de desfazer a ideia de que Joe Biden poderá ser um bom Presidente para os estados industriais, Donald Trump procurou também atirar por terra a noção de que o ex-vice-Presidente é um moderado. Em vez disso, retratou-o como um veículo para o poder comandado pela ala esquerda do Partido Democrata, representada pelo senador Bernie Sanders e que Joe Biden derrotou nas eleições primárias democratas.

"Não se deixem enganar: se derem o poder a Joe Biden, a esquerda radical vai tirar financiamento a departamentos de polícia em toda a América. Vão aprovar leis federais para reduzir a polícia em todo o país."
Donald Trump, Presidente dos EUA

“Biden é um cavalo de Tróia para o socialismo”, disse Donald Trump. “Se Joe Biden não tem força para se erguer perante marxistas loucos como Bernie Sanders e os seus amigos radicais — e olhem que há muitos, muitos, muitos, muitos, estamos sempre a dar de frente com eles, é incrível —, então como é que ele se vai erguer por vocês?”, perguntou o republicano. Logo a seguir deu a resposta: “Não vai”.

Uma das medidas que Donald Trump garantiu que Joe Biden se prepara para aplicar caso chegue à presidência é o de retirar financiamento à polícia — algo que outros oradores da convenção republicana, incluindo o vice-Presidente Mike Pence, também referiram ao longo destes quatro dias. O democrata, porém, garantiu já várias vezes que é contra essa medida, que a propósito da morte de George Floyd passou a ser defendida amplamente pela ala esquerda do Partido Democrata. Joe Biden defende também que tarefas não-policiais e de serviço social, como são os programas de combate às drogas, passem a ser desempenhados por entidades que não a polícia nas cidades onde isso ainda se verifica.

Mas, aqui, Donald Trump torna a insistir: mesmo que Joe Biden não seja o motor dessas medidas, outros à sua esquerda tratarão de empurrá-las. “Não se deixem enganar: se derem o poder a Joe Biden, a esquerda radical vai tirar financiamento a departamentos de polícia em toda a América. Vão aprovar leis federais para reduzir a polícia em todo o país. Vão fazer com que todas as cidades sejam como Portland, no Oregon, que é governada pelos democratas”, disse, em alusão àquela cidade que foi palco de vários motins, com os manifestantes a reclamarem para si uma parte cidade que disseram estar “livre”.

“Ninguém vai estar seguro na América de Biden”, garantiu, acusando-o ainda de ser “fraco” e de ser apoiado por “liberais hipócritas”.

“Biden recebe ordens dos liberais que levam as suas cidades à ruína para depois fugirem entre as cinzas. São os mesmos liberais que querem acabar com a escolha na educação ao mesmo tempo que inscrevem os filhos nos melhores colégios privados do país. Querem abrir as fronteiras mas vivem em condomínios privados de luxo nos melhores bairros do mundo. Querem tirar fundos à polícia mas estão rodeados de guardas armados”, disse. “Em novembro, temos de virar para sempre a página a esta classe política falhada.”

Para quem é que os republicanos falaram estes quatro dias?

Quatro anos depois da Convenção Republicana de 2016, o Partido Republicano juntou-se entre 24 e 27 de agosto em termos bastante diferentes. E não é da pandemia que falamos (que trouxe alterações na forma da convenção) mas antes no conteúdo.

Em 2016, Donald Trump chegou à Convenção do Partido Republicano perante um partido que ainda se dividia em torno do seu nome — sobrando lugar para discursos que, por esboçarem algumas ideias críticas contra o então candidato, foram merecedores de apupos e vaias da maioria pró-Trump que à altura já se consolidava no Partido Republicano. À altura, a maior vítima dessa reação foi o senador Ted Cruz, adversário de Donald Trump nas primárias desse ano.

Agora, em 2020, a história é já outra. Dentro do Partido Republicano, poucas são as vozes que contestam Donald Trump — Ted Cruz inclusive. No entanto, ao longo da convenção destes últimos quatro dias as pessoas que tiveram direito a palavra eram exclusivamente apoiantes de Donald Trump desde o dia zero (ou pouco depois, como foi o caso dos senadores Mitch McConnell e Rand Paul). Além disso, já fora dos agentes políticos, houve também espaço para representantes de diferentes esferas da base eleitoral de Donald Trump: militares, polícias, agricultores, mineiros do carvão e portadores de armas, entre outros.

Republicans Hold Virtual 2020 National Convention

A Convenção do Partido Republicano contou com vários discursos da família Trump. Além da primeira-dama, discursaram quatro filhos e duas noras do Presidente

Alex Wong/Getty Images

Houve, porém, dois eleitorados que os republicanos parecem ter procurado, de maneiras diferentes durante os quatro dias da convenção.

Um deles é o eleitorado feminino e branco — as “mães dos subúrbios”, como se convencionou chamar nos EUA. Em 2016, Donald Trump surpreendeu ao conseguir 52% de apoio entre as mulheres brancas, contra 43% para Hillary Clinton — um desequilíbrio suficiente para compensar o facto de na totalidade do eleitorado feminino 54% ter votado em Hillary Clinton e 41% em Donald Trump.

Agora, em 2020, a vantagem de Donald Trump sobre Joe Biden entre as mulheres brancas está a desaparecer — e, na totalidade do eleitorado feminino, o avanço do democrata já chegou a ser de 23 pontos percentuais sobre o republicano. Para contrariar estes números, a convenção republicana convocou várias mulheres para defender Donald Trump. Essa tendência foi particularmente visível na terceira noite da convenção, com um leque de oradoras que foi da governadora do Dakota do Sul, Kristi Noem, à senadora Marsha Blackburn do Tennessee, passando ainda por Kellyanne Conway, conselheira de Donald Trump que no final de agosto sairá do cargo por razões familiares.

“Durante décadas, o Presidente Donald Trump promoveu mulheres a posições de topo nos seus negócios e no seu governo. Ele confia em nós e procura os nossos conselhos, respeita as nossas opiniões e insiste que estejamos ao mesmo nível dos homens”, disse então Kellyanne Conway. “Para nós, o empoderamento feminino não é um slogan. Não vem de desconhecidos nas redes sociais ou da linguagem higienizada dos livros de normas das empresas. Vem das heroínas que nos apoiam, que nos dão forma e que acreditam em nós.”

Outro apelo visível foi ao eleitorado afro-americano. Além de figuras como o senador Tim Scott (que marcou a convenção com a sua história familiar, ao dizer: “A minha família foi da apanha do algodão ao Congresso numa só geração”) ou o ativista pelos direitos civis Clarence Henderson, falaram também vários afro-americanos anónimos, muitos deles desiludidos com o Partido Democrata.

Quer isto dizer que Donald Trump está à procura do voto afro-americano para chegar à Casa Branca, depois de em 2016 ter conseguido apenas 8% destes votos contra os 89% da sua adversária democrata? Nem tanto, como escreve a revista conservadora Washington Examiner num editorial publicado esta quinta-feira. Ali, fala-se num efeito direto e outro indireto da opção de dar voz a tantos afro-americanos e de canalizar tanta atenção da convenção para temas próximos deste eleitorado. O efeito direto passa por “erodir dentro do possível o apoio de Biden entre os grupos minoritários”. Mas, para lá disso, há o efeito indireto. “Os republicanos esperam que, com esta abordagem, consigam também tirar o proveito secundário de apelar a eleitores suburbanos brancos”, lê-se naquele editorial. Isto porque estes eleitores “podem concordar com os republicanos em vários temas mas não querem, a meio de um reconhecimento nacional do racismo, votar num partido racista”. Foi essa ideia que o Partido Republicano de Donald Trump fez tudo para contrariar nos últimos quatro dias — tudo em busca da base de 2016.

No final de contas, com a Convenção do Partido Republicano de 2020, pode dar-se o caso de Donald Trump ter baralhado e dado de novo, para sair o mesmo: um apelo à base. Até porque a sua presidência foi, de acordo com o Pew Research Center, a mais polarizante desde que há registos. Sem grandes oscilações ao longo destes 1.316 dias, a percentagem de republicanos que o apoiam é, no final deste mandato, quase total (87%). Ao mesmo tempo, a percentagem de democratas que aprovam a sua presidência é, e sempre foi, quase nula: 6%.

Os EUA vão assim às urnas daqui a 67 dias com uma certeza apenas: estão mais divididos do que nunca. Se não orgulhosamente, pelo menos profundamente.

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Donald Trump, no final do seu discurso, em frente à Casa Branca

AFP via Getty Images

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