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TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Pedro Nuno aposta tudo nas europeias para ganhar legislativas. PS desvaloriza riscos

Pedro Nuno fez all-in e diz que vai vencer europeias para "logo a seguir" ganhar legislativas. PS desvaloriza estratégia de risco e conta com matemática eleitoral favorável e "fragilidades" do Governo

O segundo round está cada vez mais próximo: apenas dois meses depois de umas eleições legislativas que deixaram a Aliança Democrática e o PS a menos de um ponto de distância, o PS prepara-se para tentar uma espécie de desforra nas eleições europeias — já de olhos postos no futuro. No topo do partido, a ideia de que o Governo está numa situação periclitante e pouco “segura” está a vingar. E isto leva o PS a colocar uma fasquia exigente a si próprio, fazendo da vitória europeia “uma questão vital” para a sua própria estratégia.

O mote foi dado pelo próprio líder do partido, quando subiu ao palco da apresentação do manifesto eleitoral socialista, na quinta-feira passada, para falar longamente de temas nacionais e parlamentares, já depois de a cabeça de lista, Marta Temido, ter feito a explicação das propostas europeias em concreto. Depois, e numa altura em que o discurso já ia no habitual crescendo rumo ao minuto final, Pedro Nuno Santos tomou balanço, ouviu os aplausos e disparou: “Vamos ganhar as europeias para logo a seguir ganhar Portugal“.

A frase final dos discursos, ouvida já por entre aplausos, presta-se naturalmente a euforias — mas neste caso a proclamação de Pedro Nuno é, mais do que uma tirada motivadora, uma ideia concreta. Dentro da direção do partido e da lista para a Europa, assume-se que o PS já conta com a “alta probabilidade” de se deparar com um calendário eleitoral mais curto do que seria normal.

Por isso, Pedro Nuno Santos fez o seu all in: tomou a iniciativa de nacionalizar as europeias, colocando para si próprio uma fasquia alta. “Está a contar com eleições antecipadas. E fez da vitória uma questão vital“, resume um socialista ao Observador. “[A queda do Governo] pode acontecer a qualquer momento”, acrescenta um dirigente próximo de Pedro Nuno Santos.

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Para já, a meta está fixada. “A frase de Pedro Nuno tem significado. A meta é ganhar“, resume um dirigente. “Temos de repetir o resultado das últimas eleições”, ou, pelo menos, “ganhar nem que seja por um”, acrescenta outro — nas últimas eleições europeias, em 2019, o PS conseguiu uma vitória clara, com 33,38% dos votos, contra os 21,94% do PSD (que então concorreu sem o CDS, que conseguiu 6,19%). O resultado traduziu-se numa delegação de nove eurodeputados para o PS e seis para o PSD (e um do CDS).

Em teoria, esse resultado poderia significar que o PS teria mais a perder, mas na cabeça dos socialistas joga-se com uma mistura de fatores, a começar pela fragmentação à direita. Com dois novos partidos à porta do Parlamento Europeu (Chega e Iniciativa Liberal), a vida da AD pode ver-se mais complicada. No caso do PS, há um novo concorrente, o Livre, o único partido de esquerda que cresceu nas legislativas de março; mas os outros dois vizinhos, BE e PCP, têm registando uma tendência de perda nos últimos ciclos eleitorais.

A matemática otimista do PS junta isto à “fragilidade” e “postura arrogante” que o PS vê no Executivo de Luís Montenegro — ou seja, aos defeitos próprios do Governo — e às virtudes da lista do PS — Marta Temido continua a ser vista como um trunfo eleitoral, apesar de depois do primeiro debate a própria antiga ministra ter admitido que, apesar de se preparar intensivamente para todos os temas, os europeus ainda não são a sua praia (ou pelo menos não são aqueles que trabalhou durante “20 ou 25 anos”).

Socialistas destacam "empatia e experiência" de Marta Temido, apesar de algumas críticas à sua prestação no primeiro debate

José Fernandes/SIC

Vitória fundamental fundamental para os próximos passos

Contas feitas, nesta altura o PS mostra-se confiante e a convicção parece transversal a vários setores do partido: por todo o lado se ouve que a vitória é mais do que alcançável e que o PS tem, no mínimo, “fortes hipóteses” de vencer estas eleições, como previa uma sondagem da Intercampus no final de abril (e outra, dias antes, da Aximage), ainda que com um efeito ainda muito parcial dos cabeças de lista do PS e da AD.

Essa ideia parece particularmente importante para cumprir o guião traçado por Pedro Nuno, segundo o qual a ordem dos passos é essa: é preciso ganhar as europeias, para depois, “logo a seguir“, ganhar Portugal. Estabelecido que está na cabeça dos socialistas que essa queda do Executivo pode chegar a qualquer momento. Apesar de o PS querer a todo o custo evitar a ideia de que trabalha ativamente para provocar essa eventual queda, empurrando esse ónus para o Governo, o passo da vitória europeia parece, se não fundamental, pelo menos instrumental para garantir que o PS ganha a energia de que precisa para se preparar para novas legislativas.

Uma vitória nas europeias permitiria aos socialistas agir como se tivessem recebido uma espécie de nova legitimação sobre os resultados nacionais e sobre o rumo da liderança de Pedro Nuno, emprestando dinâmica ao PS e retirando um fator de pressão que o partido, neste momento, sente — o medo de que a aprovação de propostas no Parlamento contra o Governo possa ser entendido pelo eleitorado como uma estratégia de bloqueio, que possa vir a merecer um castigo nas urnas.

O problema que se coloca é evidente: quem faz all in e arrisca tudo fica obrigado a vencer estas eleições e abdicar de fazer qualquer gestão de expectativas. Por agora, o partido permanece unido, até por estar convencido de que as condições para a corrida europeia não lhe são desfavoráveis. Mas, em caso de derrota, será inevitável que as palavras de Pedro Nuno Santos, e o objetivo que estabeleceu para a sua própria liderança e a sua candidata, sejam recordadas.

No interior do partido, esse risco é desvalorizado: “Agora ganhamos as europeias e, quando for o momento, o país. As europeias teriam sempre uma leitura nacional, de uma maneira ou de outra”, desdramatiza um dirigente. Ou seja, com ou sem a ajuda de Pedro Nuno e do seu discurso, a verdade é que uma derrota nestas europeias viria sempre retirar fôlego ao PS e consolidar a legitimidade que o Executivo já traz das eleições de março. Nestas eleições, os socialistas sabem que se joga muito mais do que a representação do partido no Parlamento Europeu — e escolheram assegurar-se que se joga também uma espécie de antecâmara das próximas eleições legislativas, aconteçam elas quando acontecerem.

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