Pedro Nuno Santos chegou à reunião da Comissão Política Nacional com a decisão sobre o Orçamento tomada e anunciada. Assumiu que o processo que o trouxe até aqui não foi fácil porque nunca existiram opções óbvias, mas que agora o tempo é de focar na oposição que quer o partido a liderar de forma clara. Depois de reuniões com um partido dividido sobre o que fazer no OE, o líder socialista conseguiu pacificar ânimos com a antecipação da decisão, mas ainda ouviu reparos ao processo e dúvidas sobre o ciclo que se segue. No final, Carlos César resumiu tudo a um “claro que custa, mas primeiro está o país”.

No final da noite, a Comissão Política Nacional do PS foi unânime (numa votação de braço no ar) no apoio à decisão do líder de se abster na votação do Orçamento, o que permite a viabilização da proposta do Governo. Mas o PS saiu a garantir que não era o que queria fazer para tentar manter o seu espaço como partido líder da oposição. O presidente do partido somou um argumento aos que o secretário geral Pedro Nuno Santos já tinha adiantado para justificar a abstenção no OE. “Mais do que saber o que dariam as eleições”, disse César, “a administração ficaria parada“.

Por isso, “custa”, porque o PS “não gosta do Orçamento e não confia neste Governo”, mas a viabilização da proposta vai mesmo seguir, “pelo interesse nacional“, resumiu o presidente dos socialistas depois das quatro horas de uma reunião que foi pacífica no tom, mas com reparos e preocupações sobre que partido sairá para o ciclo que se segue.

No início da reunião e perante os socialistas, Pedro Nuno justificou o processo negocial — que passou em revista — considerando que o PS não poderia ficar de fora, recusando-se a passar cheques em branco ao Governo. Mas também a garantir que este posicionamento vai permitir ao PS fazer oposição daqui para a frente e que a saída nunca seria fácil, já que nunca existiram opções óbvias. Foi “muito justificativo”, de acordo com quem o ouviu na reunião, mas garantindo que aquela tinha sido a opção certa.

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No interior do partido, antes da decisão, houve uma pressão pública crescente para a viabilização, vinda de nomes como o ex-ministro das Finanças. Fernando Medina, José Luís Carneiro ou José António Vieira da Silva. Todos eles intervieram na reunião da noite desta segunda-feira, mas desta vez sobretudo para apontarem armas ao Governo.

Vieira da Silva ainda tocou no capítulo que chocou socialistas, o das intervenções de Pedro Nuno a pedir aos comentadores do partido que passam pelas televisões para”descerem do pedestal” e ouvirem o PS. O socialista confrontou o líder, apurou o Observador, dizendo que não gostou das palavras proferidas nos congressos federativos e que continuaria a dar a sua opinião daqui para a frente. Na intervenção final, Pedro Nuno enquadrou o que disse com o momento em que alguns dos comentadores tinham feito declarações e como isso, nessa altura, poderia ser prejudicial para a posição do partido.

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De resto, Fernando Medina defendeu que se vire a página do Orçamento, depois de um processo cuja gestão tinha criticado na reunião da bancada parlamentar de há duas semanas. Apoiou a decisão de abstenção, mas disse que o discurso do partido tinha agora de se virar para as preocupações dos portugueses e menos para dentro do partido, segundo apurou o Observador junto de fontes que estiveram na reunião. José Luís Carneiro, por seu lado, disse na reunião que a decisão apresentada por Pedro Nuno mostrava “sentido de responsabilidade”.

O socialista que concorreu contra Pedro Nuno nas diretas de dezembro do ano passado alinhou pela classificação deste como “um mau orçamento” e pelas críticas ao Governo que foi para onde os socialistas mais seguiram nesta noite, depois de meses de um caminho sinuoso sobre a posição relativa ao Orçamento. Um dos críticos assumidos da atual liderança, José António Vieira da Silva, foi especialmente duro nesta frente, com várias fontes a dizerem mesmo que classificou este Governo como “o pior da história”, queixando-se de o seu “estado de graça” estar a ser “prolongado” no espaço mediático.

Logo a abrir a noite, Maria Antónia Almeida Santos fez uma intervenção com algumas críticas ao processo negocial que considerou demasiado longo e “desinteressante” para a generalidade das pessoas. Deixou a Pedro Nuno uma pergunta muito específica, segundo apurou o Observador, sobre o que pretende o líder quando fala em aproveitar os Estados Gerais para “renovar” o partido, avisando para a eventual ideia de “sectarismo” que possa ficar colada a Pedro Nuno. Não foi a única a tocar neste ponto, também José Luís Carneiro quis saber quem é que o PS pretende incluir nessa frente onde Pedro Nuno quer preparar o próximo programa eleitoral do partido. No final, o líder insistiu na necessidade de renovação.

Mas houve também quem estivesse mais interessado no capítulo que se segue, as autárquicas. Luísa Salgueiro, presidente da ANMP e autarca de Matosinhos, interveio para falar nisso mas também para dizer que neste momento não havia alternativa à posição a que o PS chegou sobre o Orçamento. Várias intervenções foram neste sentido, com vários socialistas a garantirem o que viam no terreno: as pessoas não queriam eleições.

Os socialistas mostraram-se também irritados com uma governação apoiada no que dizem serem feitos seus, com a distribuição de recursos por vários sectores com dinheiro deixado pelo anterior Governo, contestaram. No final, Carlos César falou disto e nas “dezenas e dezenas de inaugurações” pelo Governo “de obras que não fez nem planeou”. Apontou a um “Governo que faz flores com os fundos que o PS, através de política séria de gestão de finanças públicas, conseguiu reservar e que se continuasse o mandato iria satisfazer reivindicações de algumas classe profissionais”.

“Sabemos que nesta fase não devia haver uma interrupção da administração em Portugal e um momento de paralisia que complicaria ainda mais as tarefas”, justificou mais uma vez Carlos César que garantiu que o PS vai fazer oposição e que “vai mostrar no dia a dia” o que o Governo dizia ser. Quanto ao Orçamento para 2025 e a discussão na especialidade, o único compromisso que o PS assume é com o saldo orçamental previsto pelo Governo. “O PS decidirá caso a caso, conforme as circunstâncias o que irá fazer sem a ambição de fazer deste o seu Orçamento”; garantiu deixando os detalhes dessa estratégia para um próximo capítulo.