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Corbis via Getty Images

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PSD/Lisboa tenta fazer esquecer embaraço interno e blindar Moedas

Uma semana depois de ter ajudado a chumbar uma proposta de Moedas, PSD/Lisboa dá cambalhota e aprova a mesma proposta. Guerras internas e lutas pelo poder no aparelho local não devem ficar por aqui.

Um embaraço monumental, um trunfo entregue à oposição, mais um episódio de uma antipatia política que vai ganhando lastro no PSD/Lisboa, um drama que redundou em pedidos de demissão e, apanhados os cacos, uma promessa: nada disto voltará acontecer e Carlos Moedas terá no partido (o seu, por sinal) o maior aliado para os próximos anos à frente da autarquia.

É este o saldo que resulta depois de Luís Newton, líder da bancada municipal do PSD em Lisboa, ter ajudado a chumbar a proposta da própria autarquia sobre os aditamentos ao contrato programa da Sociedade de Reabilitação Urbana (SRU), para surpresa do líder do executivo social-democrata que não esperava tal desfecho — ele que, sem maioria, se tem queixado de sofrer de bloqueios por parte da oposição.

Agora, uma semana depois, o assunto está “sanado” e as “divergências ultrapassadas“, apurou o Observador junto de fontes envolvidas no processo. A proposta vai ser reapreciada na reunião da Assembleia Municipal agendada para esta terça-feira e a prioridade de todos é uma: “A posição de Carlos Moedas é para defender“. Por outras palavras: Luís Newton não mexerá mais um músculo contra a proposta do presidente da Câmara de Lisboa.

Depois do golpe autoinfligido, a prioridade é agora fazer a contenção de danos possível.  Ao Observador, fonte da Assembleia Municipal de Lisboa garante que as divergências estão “ultrapassadas” e que o insólito da semana passada serviu para “reforçar a articulação entre a Assembleia Municipal e a Câmara”, frisando que se tratou de um ato único: “Não volta a acontecer“, promete-se na equipa social-democrata.

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Tudo se torna ainda mais bizarro uma vez que a “regra” na relação entre PSD/Lisboa e executivo autárquico é a validação quase automática das propostas que merecem luz verde de Moedas. Para cada Assembleia Municipal há uma reunião preparatória nas várias bancadas e, ao Observador, fontes do PSD garantem que “as propostas da câmara não se discutem sequer“. São para aprovar e pronto.

“As propostas da câmara são decididas em bloco a favor, são matérias que não se discutem. Isto foi uma exceção que vai confirmar a regra”, afirma fonte social-democrata que acompanhou de perto o processo, garantindo ainda que a desafinação entre os dois órgãos municipais da mesma cor política é “absolutamente irrepetível”.

“Nenhum deputado do PSD colocará em causa novamente a câmara em votações”, assegura-se na bancada laranja da Assembleia Municipal de Lisboa — todos dão, agora, por garantida a aprovação da proposta que a vereadora Filipa Roseta, que tutela a Habitação na cidade, vai levar a votos na reunião desta terça-feira.

Luís Newton é presidente da concelhia do PSD/Lisboa, líder da bancada e autarca da Estrela. É um dos homens mais poderosos do aparelho local

ANDRÉ MARQUES / OBSERVADOR

Roseta e Newton em colisão e a disputa pelo poder no PSD/Lisboa

A relação política entre Filipa Roseta e Luís Newton é tudo menos próxima. Há uma tensão antiga entre os dois quadros sociais-democratas que recentemente ficou espelhada na corrida para a eleição de delegados do Congresso social-democrata, com os dois, Roseta e Newton, encabeçarem listas concorrentes, com vantagem natural para este último, um dos homens mais poderosos do aparelho local, líder da concelhia do PSD/Lisboa e presidente da Junta de Freguesia da Estrela.

Depois de Newton ter apresentado uma lista de delegados ao congresso dos sociais-democratas que consagrou Luís Montenegro na liderança do partido, Filipa Roseta apresentou também uma lista, naquilo que foi entendido, na altura, como um ensaio para as eleições internas do PSD que acontecem dentro de pouco tempo — o mandato de Luís Newton à frente da concelhia termina este mês.

Entre as fontes sociais-democratas ouvidas pelo Observador há quem garanta que esta decisão de Newton foi, precisamente, um sinal da antipatia política que o autarca nutre por Filipa Roseta — Carlos Moedas, que não foi informado pessoalmente sobre as intenções de Newton, foi apenas um dano colateral. Tese que os mais próximos do presidente da Junta de Estrela garantem não ter qualquer adesão à realidade.

Ainda assim, a jogada de Newton mereceu-lhe alguns dissabores internos. Com eleições internas no horizonte, a assembleia da concelhia do PSD/Lisboa esteve reunida na última quinta-feira e houve opositores de Newton a exigirem-lhe a cabeça.

Alexandre Simões pediu Luís Newton que se demitisse da liderança da bancada do PSD na Assembleia Municipal. Ao Observador, o também deputado à Assembleia da República diz que seria a “ilação natural” que Newton podia ter retirado depois do “desconforto total” criado no seio do PSD/Lisboa.

Não terão sido todos. Ao Observador, várias fontes presentes na reunião confirmam a existência de pedidos de demissão mas também relatam que houve quem saísse em defesa do líder do PSD/Lisboa. Acima de tudo, garante-se, depois do embaraço involuntário causado a Carlos Moedas, a prioridade é agora o “damage control” — mesmo que isso signifique uma derrota pessoal e política para Newton, que não terá mudado de ideias sobre a proposta apresentada por Roseta.

A cambalhota de Newton

Ao Observador, fontes da Assembleia Municipal reiteram que o voto de Luís Newton “apanhou todos de surpresa“. Acontece que o líder da bancada municipal do PSD já tinha deixado um pré-aviso numa reunião a 22 de fevereiro. Nessa altura, Luís Newton subiu ao púlpito na reunião da Assembleia Municipal para explicar que seria viabilizado o ponto relativo à SRU apenas “porque inviabilizá-lo podia prejudicar todos os projetos em andamento na cidade”, mas avisava: “A partir daqui terá que ser feito um processo“.

Ora, cinco meses depois, Luís Newton considerou que não tinha sido feito o que era necessário e, no dia do chumbo, reafirmou na Assembleia Municipal que a proposta de aditamento aos contratos da SRU não representavam “a vontade que os Novos Tempos representam”. Mais uma vez, a proposta tinha recebido o aval de Carlos Moedas, o mesmo que cunhou o tema “Novos Tempos” na corrida autárquica pela Câmara de Lisboa.

A opção de Newton foi abster-se na votação, o que provocou o chumbo da proposta. Pormenor: a falta de tempo útil para dar entrada com uma nova proposta antes das férias (a distribuição dos documentos tem de acontecer sempre com uma antecedência de 15 dias), fazem com que a proposta que será aprovada esta terça-feira seja praticamente idêntica à que foi rejeitada. Ou seja, o PSD/Lisboa vai aprovar aquilo que antes disse não lhe encher as medidas.

Ao que o Observador apurou, haverá “afinações nos considerandos“, mas muito longe de satisfazer totalmente as partes envolvidas. Entre os que ficaram surpreendidos com o chumbo há uma enorme expectativa para perceber que discurso Newton fará esta terça-feira; os que se lembram das observações feitas pelo líder da bancada social-democrata querem saber o que mudará. Para já, sem alterações de fundo na proposta, só sobrará a alternativa de atirar eventuais revisões do modelo de funcionamento da SRU para o pós-férias.

Filipa Roseta é vereadora da Habitação. Já mediu forças com Newton no passado recente

FRANCISCO ROMÃO PEREIRA/OBSERVA

O golpe que afastou José Eduardo Martins

Esta não é a primeira vez que Luís Newton se vê envolvido num caso cabeludo com consequências para a imagem do PSD em Lisboa. Em 2017, nas últimas autárquicas, a então candidata do PSD, Teresa Leal Coelho, escolheu José Eduardo Martins como o cabeça de lista à presidência da Assembleia Municipal de Lisboa. Apesar da derrota, tudo levaria a crer que o ex-secretário de Estado ficasse à frente da bancada municipal do PSD em Lisboa. Newton, no entanto, tinha outras ideias.

Com o apoio do então líder da distrital do PSD/Lisboa, Pedro Pinto, e de outros deputados municipais, o autarca da Estrela manifestou vontade de apresentar uma lista alternativa e tornar-se, ele sim, líder da bancada do PSD. Percebendo que tinha sofrido um golpe, José Eduardo Martins decidiu afastar-se daquelas guerras.

Mais tarde, José Eduardo Martins haveria mesmo de renunciar ao mandato de deputado municipal em Lisboa com grandes críticas ao PSD. Num post publicado no Facebook a dar conta da sua decisão, o social-democrata lamentava ter-se “atingindo profundamente a imagem e a credibilidade do PSD em Lisboa”.

“A política de aparelho e das trocas de influências, dos casos, não me interessa. Nem tão pouco interessa aos lisboetas”, escreveu, numa publicação que mereceu depois o apoio da então vereadora do PSD Teresa Leal Coelho. Apesar deste episódio, Newton continuou a merecer a confiança de Carlos Moedas e a ser escolhido como líder da bancada do PSD.

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